Capítulo 14

2.4K 345 338
                                    

Eu não gostava de multidões, mas ver a praia tão cheia era empolgante. O litoral de Waikiki ostentava as melhores ondas do mundo, então todos os campeonatos de surfe eram concorridos e animados. Nem mesmo as nuvens escuras e previsão de chuva assustaram o público.

Faziam alguns meses que Maikon não competia, sempre de castigo por destruir alguma propriedade pública. Dessa vez o tio Alisson resolveu ceder, e Maikon era o competidor 18 no Torneio Familiar de Outono.

Acompanhado do tio Alisson, eu atravessei a praia lotada e tentei avistar Maikon no pavilhão dos competidores. Haviam muitos adolescentes da nossa idade e também pessoas mais velhas, todos com pranchas coloridas e roupas de neoprene que cobriam dos tornozelos ao pescoço. Quase todos eram amadores buscando se divertir diante das câmeras. Competidores já premiados, como o Maikon, aguardavam no pavilhão VIP e competiam por último.

"Assistir o Maikon não vai te atrasar?" Tio Alisson prendeu o cabelo mais apertado, mas as mechas grisalhas continuaram chicoteando seu rosto, sob o vento forte.

"Minha exposição é apenas de noite. Eu gosto de assistir ele." Falei, saboreando meu sorvete. "Obrigado por me trazer, tio."

"Não tem problema algum. Farei o possível para ver sua exposição, também." Ele ergueu o olhar para as nuvens pretas no fim do horizonte. "Tudo depende do avião não se atrasar."

"Sim, tomara que o temporal não atrapalhe o vôo. Doutor Michel também queria ver os meus desenhos." Respondi, sentindo uma pontada de frustração. Eu queria tanto apresentar Shane Velvet ao Doutor, mas não quis aborrecer o Maikon então desisti de falar com ele.

Após alguns minutos avistei a prancha cor-de-laranja do Maikon, entre muitas outras. Eu acenei alto e gritei para ele, até ele nos avistar e correr em nossa direção.

Maikon estava bonito. Eu realmente gostava daquele macacão preto, contrastando com sua pele de avelã. Ele portava um crachá com o número de competidor na frente e nas costas, e prendia o cabelo para trás num longo rabo de cavalo, com uma mecha caída nos olhos. Seu sorriso começou radiante como eu gostava, mas em um segundo se desmanchou.

"Pai, cadê a sua prancha?" Ele cravou a própria prancha na areia, fuzilando tio Alisson com o olhar.

"Não vou mais competir, Maikon, já disse isso." Tio Alisson respondeu calmamente. "Preciso buscar um amigo no aeroporto, então depois da sua apresentação..."

"Você prometeu que competiríamos juntos!" Maikon bateu os pés na areia, gritando tão alto que me encolhi. "Por que você sempre tem uma desculpa? Tá com medo de perder do próprio filho?"

Tio Alisson suspirou exausto, e eu me senti um tanto mal por ele. O tio sempre assistia as competições do Maikon, e sempre comemorava cada vitória. Mas Maikon havia ficado obsessivo em desafiá-lo, e sua raiva desmedida não facilitava nunca.

"Prometo surfar com você no fim de semana. Eu pretendia que o Gabe buscasse o Michel, mas ele tem uma reunião e o Dylan precisou levar as obras do Hian pra escola. Não quer agradecer o esforço do seu primo em aparecer?"

"Ah, claro. Obrigado, Hian." Ele revirou os olhos pra mim, sarcástico. "Pelo menos alguém aqui se esforça em me prestigiar."

"Maikon, não seja difícil." Pediu o tio Alisson.

"Você brigou com a mãe por me abandonar, e você é igual." Os olhos do Maikon cintilaram úmidos. Ele agarrou minha mão e puxou para longe do pai dele. "Vou ganhar essa maldita competição sozinho!"

"A Leilani viria, se você convidasse!" Gritou o tio Alisson.

"Ah, claro, e aí vocês poderiam brigar sobre o quanto eu destruí o casamento de vocês!"

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora