Capítulo 11

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Shane Velvet animou a platéia com um discurso esquisito que envolvia sangue, tripas e morte. Pareceria infantil saindo da boca de outra pessoa, mas o sorriso extrovertido e a animação dele fazia a platéia girar sua cabeleira e vibrar.

"E aí, vadia. Você sempre faz ponto aqui?" Uma mão tocou o meu ombro. Era a Amanda, com o batom preto todo borrado no rosto.

Douglas chegou logo depois, com o resto da equipe de basquete. Ele bebeu o último gole da garrafa e riu, cambaleando.

"Onde vocês estavam, quando Hian Makaira se tornou a piranha suprema?" Ele me ofereceu o restinho de vodka. "Mandou bem demais, Hian. Jaqueta super maneira."

"Precisa me ensinar a rebolar assim." Amanda sorriu com o canto da boca.

"Teve hora que jurei que vocês iam se comer aqui mesmo." Douglas acendeu um cigarro e passou adiante.

Eu franzi a testa, ainda furioso com aquele idiota, mas os borrões de batom preto em seu rosto denunciavam sua mudança de alvo.

Todos começaram a conversar comigo, e não parecia haver sarcasmo em nenhum deles. Eles me achavam legal só porque eu mexia a bunda? Humanos eram incompreensíveis.

"Vocês conhecem a família dele?" Eu apontei para o vocalista, que ainda tagarelava sobre fraturas expostas e canibalismo.

Eles se entreolharam e começaram a rir.

"Cara, tipo, foda-se?" Douglas secou a garrafa, trocando um breve olhar safado com a Amanda antes de retornar a atenção pra mim. "Já trepou ouvindo essa banda? Porque cara... isso sim é do cacete."

"O avô é um diplomata ricaço, o cara nasceu bem." Amanda deu uma longa tragada e baforejou alto. "De resto, concordo com o pintudo aqui. Foda-se. Quer fumar?"

"Quê?" Eu arregalei os olhos. "Fumar antes dos dezoito é crime, e tabaco faz super mal pra saúde."

"Que gracinha, ele pensa que é tabaco." Amanda e os outros gargalharam. Eu parecia ser um comediante?

"Sua princesa tá voltando." Falou Douglas, avistando adiante nas pontas dos pés. "Aliás, princesa ou príncipe? Qual dos dois esconde a cobra na toca?"

"Como assim?" Eu arqueei uma sobrancelha, e Amanda deu um tapão no braço dele e o puxou pra longe.

"Não pergunte essas coisas a um casal gay!" Resmungou ela, enquanto atravessavam a pista até a área coberta. O resto dos colegas seguiu para outros lados.

Não fiquei sozinho por muito tempo. Logo Maikon apareceu com dois grandes copos de plástico.

"Demorei?" Maikon me entregou um dos copos, que transbordava espuma branca.

Um estouro quase me fez derrubar a bebida. Era o bateirista moendo as baquetas nos pratos enquanto Shane Velvet anunciava a primeira música. Eu torci o rosto para a barulheira, que ardia por estarmos bem diante do palco.

Tudo bem, eu podia suportar aquilo. Depois do funk de antes, qualquer letra faria mais sentido.

GWOH!

CORAÇÃO RASGADO POR DENTES!!!

SATANÁS ME DEVORA NO CAIXÃO!

GRAH GRAH GRAH!!

Hum, acho que eu me enganei.

"Foda pra caralho, né?" Maikon bebeu sua cerveja, causando um adorável bigode de espuma.. "O Shane é recordista de gutural, vinte segundos sem parar para respirar. E dizem que uma vez ele quebrou o microfone com a própria saliva, e depois engoliu ele inteiro."

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora