Três dias se passaram desde a última vez que vi Aaron ou Saelor. Nem um dos dois aparecera em meu quarto para me explicar tudo que estava acontecendo. A única pessoa que vi ao longo desse tempo foi Serena, e mesmo que sua presença fosse alentadora, ela nunca dizia mais que poucas palavras.
Sozinha, pego-me pensando no que será de minha vida daqui para frente. Agora vejo o quanto as coisas podem mudar bruscamente.
Longe de casa, de minha família e de minha alegria. Por mais que estivesse em meio a todo conforto e luxu de um palácio, não presença de um rei e um príncipe, um vazio constante crescia em meu peito, fazendo-me sentir uma necessidade de chorar sem ao menos ter lágrimas para derramar.
Estava chovendo, eu sentia como se cada gota d'água caísse sobre minha pele, mesmo estando dentro de meu quarto, observando-as cair sobre o teto de vidro.
Meu quarto vazio e sem vida — assim como eu. Por pouco não me sentia uma prisioneira, por mais que portas estivessem abertas e janelas destrancadas, me sentia presa, cheia de poderes que clamavam e se agitavam em minhas veias para serem libertos.
Um dia atrás, Serena trouxera o livro — aquele mesmo livro que Saelor me fizera ler certa vez — para mim o ler, assim como ele prometera. A cada hora eu sabia mais e mais sobre meus dons, porém não tive coragem o suficiente para testa tais comandos e ações — não até esta tarde.
Sentei sobre o chão frio em frente a grande janela do cômodo, cruzando minhas pernas cuidadosamente cobrindo as mesma com a saia longa de meu vestido cor de carmesim. Fechei meus olhos e me concentrei nas palavras antigas do livro que eu guardara seguro dentro de minha cômoda, conjurando a força dentro de mim. A princípio nada aconteceu, deixando-me frustrada por um momento. Tentei mais uma vez, imaginando o vento forte que derrubavam as roupas secas dos varais de meu antigo lar. — Sorri com a lembrança e uma brisa suave passou por meus cabelos, bagunçando seus fios, abri meus os olhos lentamente, estendendo minha mão direita a minha frente. No mesmo instante um pequeno redemoinho de ar brincava sobre minha pele branca, pequeno e inofensivo; apenas aguardando meus comandos. Desejei que ele crescesse mais um pouco só para testar até aonde eu podia ir, e ele obedeceu, submetendo-se aos meus comandos. Ficou maior e mais forte, chacoalhando as cortinas do quarto, tirando os lençóis de minha cama. Imediatamente o sorriso em meu rosto tornou-se cauteloso; então, por fim, desejei que diminuísse até se extinguir a nada. E novamente o dom me obedeceu.
As palavras do livro soaram em minha mente quando o vento sumiu por completo.
"Dobrar o dom, fazê-lo submeter-se aos seus comandos, enfatizar o seu controle.
Você controla o dom, não é o Dom que te controla."Estava preste a testar outro dom quando Saelor coçou a garganta me fazendo levantar em um sobressalto.
— Vejo que andou praticando.
— Nunca se sabe do que eu possa ser capaz de fazer. — Soltei um sorriso de canto e ergui um de meus ombros levemente. — Vejo, também, que lembrou de minha existência.
— Eu nunca poderia a ter esquecido. —
Um sorriso sem motivo aparente apareceu em seus lábios. — Você não é alguém que possa se esquecer, nem se tentasse de fato.— Desculpe, mas não é o que estes dias trancada aqui me sugerem. — Falei deixando transparecer um pouco de minha magoa, mesmo que ele não tivesse deveres comigo.
Saelor pareceu confuso por um instante, mas logo um maravilhoso sorriso voltou a brincar em seus lábios.
— Está livre para explorar qualquer parte de meu palácio, Calyn. Com certeza achará muitas passagens secretas e tesouros escondidos!
![](https://img.wattpad.com/cover/115306294-288-k598796.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sétima Filha - Beijada
FantasyEm um rito antigo, comemorado em toda Wareehon, uma garota de cada um dos sete reinos é beijada pelo dom sagrado de suas terras e levada como um presente divino aos recém coroados reis. Com o dever de gerar os próximos governantes. Fortes, saudáveis...