O sol do meio dia queima em minha pele, arde - como nunca ardeu antes.
Aquela linha que liga meus dons aos reis de cada um deles perdera uma de suas pontas. Talick está morto, eu o matei, - matei a todos eles. Rostos sem nomes que irão me acompanhar para o resto de minha existência, e quem sabe, até mesmo depois dela.
Victor murmura baixinho enquanto seguimos nosso caminho pé ante pé para dar descanso a nosso cavalo, sem paradas, sem conversas, não posso - não devo - parar, mas também não preciso de muito para saber que ele reza para que os Deuses recebam seus amigos e os conduza à outra vida.
Um ciclo sem fim.
Vida.
Morte.
Vida.
É admirável dizer que algo tão ruim, pode ser tornar algo tão bom. Mas Victor não carregará essa culpa para o resto de sua vida, ele não trocara uma por vinte outras. Eu fiz isso, eu os matei. Condenei a todos em um ato de clemência - clemência que levará a morte a caminhar ao meu encalço.
-- Carter, Veym, Philip, - Ele começa dizendo baixo. -- Neim, Valian, Frey, Jorge, Enry, Hian, Aliff, Zack...
Paro de ouvir - não me permito ouvi-lo listar os nomes dos nossos mortos, sei que se prestar a atenção, enlouquecerei ao saber tudo oque eu roubara deles; todo o seu direito de viver para ver o nascer e o por do sol muitas vezes mais, e muito mais do que isso.
"A morte pode ser muito mais bela do que nós imaginamos."
Bobagem!
Só os Deus sabem o quanto queria gritar aos sete ventos que as palavras que minha mãe me dissera uma vez, após a morte de Ariel, estão erradas. A morte veio, mas ela jamais seria bela, não fora para aqueles homens, e nunca será para ninguém.
Olho rapidamente para o lado, observando Victor com o canto dos olhos, sua boca ainda se move ditando os nomes, sua respiração indica que está quase no fim, e, lembrar do final desta lista extensa, só me diz que ela irá crescer, e, ter tanta convicção quanto a isso me destrói cada vez mais um pouco.
-- Yanth, Kain e - ele arquejou -- Talick.
Eu os matei.
《■》
-- Sei que você não quer falar e entendo seu luto, mas você tem que comer, eu preciso que você coma, senhora.
Uma gargalhada amarga.
Foi o primeiro lampejo de som que saíra de meus lábios após horas andando de baixo do sol, me martirizando pelas mortes que eu causara e praguejando por estar tão quente quando a noite estivera tão fria.
Aparentemente, esses poucos quilômetros que faltavam se triplicavam quando se tratava de duas montarias e um cavalo cansado.
Uma floresta se estende a nossa volta, árvores grandes, arbustos com frutinhas e animais, muitos animais, sinto seus olhos nos observarem, escuto as batidas de seus corações, não me importo, nós somos a menor de suas preocupações, oque me assusta é aquilo que eu não posso detectar, aquilo que apareceu de surpresa na noite anterior.
Ainda não sei como meus dons simplesmente sumiram no momento em que mais precisava que eles me obedecessem. Eles teriam mudado tudo, teriam salvo vidas.
-- Senhora?
Minhas têmporas ardiam.
-- Calyn. Meu nome é Calyn! Chegar Victor, você ainda não entendeu? Você não serve mais a um rei ele morreu e não vai voltar!
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Sétima Filha - Beijada
FantasyEm um rito antigo, comemorado em toda Wareehon, uma garota de cada um dos sete reinos é beijada pelo dom sagrado de suas terras e levada como um presente divino aos recém coroados reis. Com o dever de gerar os próximos governantes. Fortes, saudáveis...