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Hoje.

Hoje deixo para trás meu reino e minha família para ir a um lugar aonde nunca sequer sonhei em estar antes. As vezes penso naquela garota que era a um mês atrás, imagino se minha vida era melhor do que atualmente. Sinto saudade de ser acordada todos os dias pelos gritos histéricos de Lucyn, sinto falta das implicações de Schrader, das risadas de Gael e de cada detalhe de cada membro de minha família. Agora posso perceber o quanto esses pequenos detalhes deles fazem falta em minha vida. É como se faltasse um pedaço de mim, o qual não sei viver sem. — Serena me ajuda a me vestir, como sempre, não diz mais que poucas palavras. Sempre com seu ar mistério, sábio. Não a questiono por não dizer adeus, eu mesma nunca fui boa com despedidas. Aaron também não se despediu, ele nem ao menos apareceu pra me dizer algo. Por mais que tente me convencer de que não me importava, a verdade é que ainda esperava que ele aparecesse no último minuto. Como a boa garotinha esperançosa que eu, ainda, era. — O dia amanheceu quente e ensolarado, mas conforme a horas de minha partida se aproximavam o céu fora escurecendo cada vez mais, um aglomerado de nuvens negras se encaixava acima do reino. Me pergunto se meu humor de algum modo interferiu nisso também, mas não me permito pensar muito nas proporções de meus Dons.

As paredes de meu quarto estão cobertas por trepadeiras repletas de cravos roxos. — Lembro como sempre achei esse tipo de flor bela, mas mamãe nunca as plantara na lateral de nossa casa, — seu canteiro pessoal, — por terem um significado triste para uma família tão grande e feliz. Solidão.

Assim que Serena termina o penteado em meu cabelo, me permito olhar para aquele reflexo no espelho, meu reflexo. Estou linda, e me sinto estúpida por achar que estava bem melhor antes da transformação. Ainda não aceitei, talvez nem vá aceitar o fato que esta, agora, sou eu. — meus cabelos estão presos em um coque baixo com tranças ao redor, mas algumas mechas, — aquelas pequenas que não se encaixam no penteado — caiem soltas por meu pescoço e nunca me senti tão bem por não ser totalmente perfeita. Visto um vestido de tecido pesado, porém leve e adequado para o reino que estou preste a ir; ele é azul, escuro como o céu noturno entretanto, gracioso como o mesmo; de mangas compridas e um pequeno decote quadrado. Há também um longo manto com capuz, mas esse por sua vez, é de um tom de azul um pouco mais claro que o do vestido. Com a personificação da noite e do dia, eu deixo o meu lar.

Alguém bate à porta, e não preciso de muito para saber que a minha hora chegou.

Dou um breve aceno com a cabeça para Serena, esperando que isso diga mais que qualquer um "obrigada" que pudesse lhe dizer. Vou até à porta e vejo Aaron, seu olhar indiferente de sempre está de volta à seu rosto de expressões fortes.

— É uma pena que tenha adquirido a habilidade de bater, quando estou de partida. — Falo seca.

Aaron solta um sorriso que não chega a seu olhos e dá de ombros.

— Pela sua cara de: "Estou indo para a forca, coloque rosas sobre meu túmulo", acho que fiz certo em bater desta vez. — Ele me fita, e antes de falar novamente, tive a impressão de que seus olhos cinzentos cintilaram por um instante. — Você só está indo para o reino de Inclandescin, não para a morte, Calyn.

— Como se a companhia de Crawho fosse das melhores. — Resmungo ao lembrar do ruivo arrogante.

Ele fez questão de ser o segundo da lista ao assinar o tratado. Mesmo sabendo o quanto era ridículo sua decisão, os outros não se oporão. Inclandescin fica do outro lado de Wareehon, uma semana de viagem. Sendo que poderia muito bem ir para um dos reinos vizinhos a Forceu.

E a cada novo minuto, eu me sentia um saco de farinha sendo comercializado entre todos os reinos.

— Boa sorte então.

Sétima Filha - Beijada Onde histórias criam vida. Descubra agora