Escuridão.
Tudo que vejo a minha frente é uma escuridão sem fim. Penso que pode ser assim minha morte, uma eternidade nas sombras sem a chance de ver a luz do dia mais uma vez, mas os sons a minha volta me dizem que ainda estou viva. O órgão batendo em meu peito é minha confirmação. Tenho que tocar meu rosto para me certificar de que realmente meus olhos estão abertos.
Então eu ouço o tilintar de correntes seguidos pela sensação do ferro frio contra minha pele.
Acorrentada - acorrentada como um animal selvagem ou uma besta das sombras.
Aos poucos meus sentidos vão voltando, e com ele a dor. Primeiro uma pontada forte em meu peito que me faz querer está morta de fato, depois o aperto em meu coração. Minha carne se curaria com meus dons mas meu coração jamais seria remendado depois de ser estraçalhado como se não fosse nada.
Nada. Eu não era nada para ele.
Aaron havia me traído, me enganado. Me fazendo jogar um jogo em que ele já tinha suas jogadas prontas.
Aaron é manipulador...
Disse Néferetty uma vez, e eu deveria ter a escutado, agora vejo o quanto eu estive cega por um homem que roubara meu coração para apenas esmaga-lo e descarta-lo. Haviam tanto indícios, tantos segredos e eu, uma tola garota em forma de mulher resolvi esperar, espera que ele estivesse pronto para se abrir, para me contar... Para me trair.
Tento me levantar, mas minhas pernas doem, uma dor além da carne, além de meus ossos. Abaixo de mim não há nada mais do que terra, úmida, viscosa e com um cheiro ânsiante.
O único som que escuto é o de minha respiração acelerada e de água corrente ao fundo. Meus dons se foram novamente, não há nenhum indício de sua existência dentro de mim. Me pergunto por um momento se eles se foram realmente ou se é mais um efeito passageira do veneno, Maestriya, que possivelmente havia na lâmina de Aaron.
Um gosto amargo em minha boca me faz querer pode conjugar o dom da água, mas não posso.
Além de ser apunhalada por aquele que mais amei na vida, sou impedida de usar meus dons que agora são a última coisa em que posso me agarrar, tendo a certeza que só irão de fato embora quando eu também me for.
Estou viva, mas, parte de mim morreu.
E eu irei vinga-la.
Nem que seja a última coisa que eu faça.
Tento me mover novamente, mas a dor me atinge. Tão forte que meus dentes rasgam a pele macia de meus lábios em uma tentativa ridícula de segurar um gemido em forma de um grito estridente.
E então escuto.
Uma longa e horrenda gargalhada, para finalmente perceber...
Que eu não estou só.
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Sétima Filha - Beijada
FantasyEm um rito antigo, comemorado em toda Wareehon, uma garota de cada um dos sete reinos é beijada pelo dom sagrado de suas terras e levada como um presente divino aos recém coroados reis. Com o dever de gerar os próximos governantes. Fortes, saudáveis...