Olhando para o passado e comparando com o agora, eu jamais imaginaria que algo assim pudesse acontecer comigo. Sempre duvidei dos diversos ritos e dos poderes de nossas terras; isso até poder senti-los correr em minhas veias. Agora tudo é diferente, eu sou diferente. Não apenas minha essência mudara, mas tudo que eu sou ou o que eu fui um dia. — Algumas vezes, pego-me pensando naquela garota mundunga tão frágil mas tão teimosa de um vilarejo esquecido e de uma família grande e Feliz.
Feliz.
A palavra feliz tem um gosto amargo em minha boca. Mesmo que todos tentem me distrair em meio a este reino de escuridão e calor; não me sinto feliz. Para mim, felicidade é o que sinto ao estar com minha família, ao estar em meu reino e ao estar com ele...
Por mais poderosa que seja, Aaron faz com que eu me sinta frágil, porém segura ao seus braços. Me torna uma pessoa comum ao me despir com um olhar. As vezes sinto que ele pode enxergar muito mais que apenas uma mulher, com alma de garota. Mas nosso destinos sempre estiveram traçados antes mesmo de nascermos. Não há uma mínima possibilidade de ficarmos juntos, e ter tanta convicção quanto a isso me corrói a cada minuto, um pouco mais.
A cada dia que passa sinto meus Dons crescerem implorando para serem libertos, como se estivessem a esperar o momento exato de implodir e devastar tudo ao meu redor, sem que sobre nada mais que apenas escombros e a lembrança do que este lugar fora uma vez. — Em menos de uma semana, um novo reino me aguarda; torço para que seja menos desprezível quanto este, mas sei que se for, não fará diferença, já estou amargurada a muito tempo. — Permaneço indomável, mas continuo presa no jogo das cortes e na ganância de sete reis.
Batidas na porta me tiram de meu devaneio masoquista, chamando minha atenção para o urgência entre as batidas na madeira e o compasso acelerado do coração de quem me aguar logo por de trás dela. — Antes que pudesse responder, Beim abre a porta e seu olhar recai sobre mim, antes de suspirar para dizer algo que já sei que bom não é.
— Desculpe-me, mas o rei madou-me lhe chamar.
— Mas alguma demonstração ridícula? Se for, diga-o que não vou.
— Não foi um pedido. — Beim se aproxima um pouco, fazendo com que o brilho do sol da tarde que entrava por minha janela, refletisse em suas adagas que pendiam de seu boldrié, cegando-me por um momento. — Acho melhor acatar esta ordem, hoje está um dia particularmente... estranho — Ele sussurrar e caminha novamente até à porta. — Vamos.
Algo em seu tom, ou o aviso silencioso que espreitava no ar, fez com que eu apenas acentisse e o seguisse em meio aos corredores escuros; podendo escutar diversos sussurros das vozes que minha audição captava, mas a quais aprendi á ignorar, sem da muita importância com o quão infelizes eram todos a minha volta, já tinha que enfrentar minhas próprias amarguras.
A cada novo passo, um precentimento estranho fazia com que algo em meu peito se apertasse, mais e mais.
Entrando na sala do trono um calafrio percorre por minha espinha. Um aviso, um sinal. Não sei ao certo, mas o sorriso impiedoso nos lábios de um rei altivo sentado em um trono de metal e rocha a minha frente, me diz que se tinha qualquer possibilidade de não me surpreender com seus atos abomináveis, com certeza isso está para mudar.
— Calyn!
Leônidas levanta de seu trono e caminha em minha direção, com seu exageradamente farfalhante manto, de cor preta avermelhada. Seu sorriso em meio a seus lábios e feições poderosas e perfeitas, tornam o ato de se aproximar semelhante com um de uma cobra pestes a dar o bote.
— Sua beleza é incomparável. — Ele sorriu e tocou meu rosto num ato de "carinho" do qual me esquivo sem disfarçar. — Dara uma ótima rainha do fogo!
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Sétima Filha - Beijada
FantasíaEm um rito antigo, comemorado em toda Wareehon, uma garota de cada um dos sete reinos é beijada pelo dom sagrado de suas terras e levada como um presente divino aos recém coroados reis. Com o dever de gerar os próximos governantes. Fortes, saudáveis...