O dia amanheceu mais rápido do que pude perceber - antes mesmo do nascer do sol, pássaros já cantavam despertando a todos. Aos poucos a grande casa fora ganhando vida, o silêncio sendo substituído pelo barulho dos criados que começavam seus afazeres. Ao fundo o cheiro de pão fresco impregnava no ar, lembrando-me dos dias comuns em meu antigo lar, com a bagunça de uma grande família, me reconfortando.
Aos poucos fui ficando mais dispostas e meus dons pareciam se restaurarem aos poucos. Resolvi então, tentar usa-los, primeiro com tarefas fáceis. E foi oque eu fiz. Primeiro enchendo a banheira de água, depois a aquecendo levemente.
Sorri.
-- É muito bom tê-los de volta - Murmurei sozinha enquanto me despia para entrar na banheira.
Uma vez que já estava submersa me permiti apoiar a cabeça levemente em sua borda, fechar os olhos e relaxar por um momento. - Depois de alguns minutos, pego-me fitando a água a minha frente e imaginando o que todos que amo estariam fazendo neste momento, se estariam a salvo ou ao menos vivos.
Pisco os olhos com força e afasto esses pensamentos.
Sorrio levemente quando bolhas de água começam a flutuar, saindo da banheira e se espalhando pelo quarto fazendo por fim à luz dos primeiros raios do sol que entrava pela janela, atravessa-las criando pequenos reflexos coloridos de luz pelo quarto, me mostrando a beleza em algo tão simples como água e raios solares.
Pouco mais de uma hora depois, Sansi entra no quarto com uma enorme bandeja, alegando que eu deveria ao menos estar de barriga cheia ao encarar os visitantes, os reis. Não a questionei, apenas comi tudo que podia até não aguentar mais.
Agora, sozinha me sinto bem, descansada, saciada, mas algo ainda falta dentro de mim, algo que deixa um vazio sombrio e crescente...
As portas do quarto são abertas abruptamente me assustando. Levei mais tempo do que o necessário para identificar quem estava a minha frente, por conta do susto repentino.
-- Não dê mais nem um passo! - bravejei levantando-me do sofá onde estava sentada.
-- Não sou tolo o suficiente para a atacar, Calyn. Pensei que já me conhecesse o suficiente para saber disso. - Leônidas disse fechando a porta atrás de si.
Minhas mãos se fecharam em punhos.
-- O conheço o suficiente para não o subestimar - falei em meio aos dentes cerrados. -- Sei que tudo não passa de um jogo doentio em sua mente, então faça logo sua jogada e saia.
Leônidas, ignorando minha raiva, caminhou em minha direção, me fazendo recuar e analisar cada passo ainda não dado. Ele parou em frente ao sofá e se sentou, sorriu para mim descaradamente e bateu levemente no lugar vago ao seu lado, chamando-me para que o acompanhasse.
Recusei e continuei o encarando.
-- Eu não mordo, Calyn - ele provocou.
-- Eu pelo contrário sim, Leônidas - devolvi no mesmo tom.
Leônidas gargalhou jogando levemente a cabeça para trás, me deixando ainda mais tensa com seu conforto.
-- Diga! - exigi.
Leônidas deu de ombros.
-- Eu não sou um total crápula como você deve pensar - o rei do fogo disse calmamente.
-- Oh, claro que não - Falei com escárnio.
Leônidas sorriu e se encostou despojadamente no sofá.
-- Não estou mentindo, você sabe disso - havia cansaço em sua voz, mas não deixei-me enganar, não dessa vez.
-- Sei? - Ergui uma de minhas sobrancelhas.
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Sétima Filha - Beijada
FantasíaEm um rito antigo, comemorado em toda Wareehon, uma garota de cada um dos sete reinos é beijada pelo dom sagrado de suas terras e levada como um presente divino aos recém coroados reis. Com o dever de gerar os próximos governantes. Fortes, saudáveis...