Se passaram mais de dez minutos e ninguém na sala do trono ousou dizer uma só palavra. Todos os seis emissários me olhavam sem ao menos piscar, com expressões sérias e nada acolhedoras; usavam túnicas — semelhantes a de Saelor, mas de cores escuras e sem vida —, acentuadas apenas por seus boldriés de couro sobre seus peitos largos. Suas vestes eram mais para lutas que por estilo, mesmo que eles não carregassem armas que eu pudesse detectar.
Três de cabelos tão escuros que me lembraram por um momento Aaron, — que continuava parado atrás de mim me impedindo de sair correndo, não que essas fossem minhas reais intenções, é claro — e olhos castanhos claros. Os outros três eram diferentes; um de cabelos tão vermelhos quanto uma gota de sangue, outro com um nariz empinado, olhos azuis claro e cabelos dourados; o ultimo dos homens que analisei com o olhar, sorria em minha direção, parecia o mais novo entre os outros, mas por sua postura imponente, a distância que mantinham dele e seu olhar tempestuoso, poderia ser muito bem o mais perigoso entre os demais.
O silêncio já era constrangedor quando Saelor tomou a decisão de falar, tirando a atenção de mim, por um momento, e chamando para si.
— Bom, aqui está ela senhores — pude sentir um pouco de cautela em sua voz. — Calyn, minha súdita, e a garota beijada pelo dom.
Ele havia enfatizado bem a palavra "minha" o que fez o emissário de olhar tempestuoso abrisse um grande sorriso, me fazendo estremecer.
— Pelos Dons Ingryree, todos os sete. — corrigiu severamente, o de cabelos dourados. Dizendo o sobrenome, quase nunca pronunciado, de nosso rei.
Pude ouvi o corações de Saelor bater mais rápido e um gruído baixo sair de sua garganta. Aaron pigarreou baixinho atrás de mim.
— Isso não muda...
— NÃO MUDA NADA? — gritou o ruivo, cortando a fala de Saelor. — Não seja hipócrita Ingryree! Ela pertence á todos nós. Não ouse achar por um só momento que ficará com ela só para si!
Me segurei para não o responder com insultos diante da tensão de todos os outros. O tom ríspido de sua voz denunciava o quanto estava decidido a me arrasta — nem que seja belos cabelos — deste reino.
As tochas oscilaram por um momento, mas todos estavam ocupados demais para perceber minha total indignação daquela cena ridícula.
— E você caro Crawho, nunca mais ouse levantar a voz para mim em meu Reino!
O homem diante do trono não era Saelor, mas sim um rei, um governante, um guerreiro; disposto a tudo, para lutar em que ousara acreditar.
— Calyn não pertence há ninguém se não a si mesma. Todos sabemos da lenda. — Aaron intrometeu-se, e pude sentir o nojo em suas palavras.
— Fale apenas quando for chamado, bastardo! — bravejou o ruivo. — E, além do mais, é exatamente isso que ela é, apenas uma lenda! Não se atreva a pensar por um só instante que pode haver brechas, um acordo deve ser selado.
Todos pareciam concordar com o ruivo. Todos exceto aquele o qual mantinham distância. Ele apenas me olhava, sem desviar o olhar sem pronunciar quaisquer questionamentos.
Um calafrio percorreu por toda minha espinha, arrepiando até minha alma.
Para mim aquilo foi o cúmulo. Como podem esses homens a minha frente estarem falando sobre a minha vida, discutindo meu destino como se os pertencesse? Como podem barganhar uma pessoa como uma simples mercadoria?
Soltei uma risada alta e histérica, era em momentos como este — quando a hipocrisia sobrepujando a razão — em que eu não me segurava, quando meu sangue subia até a cabeça e eu explodia e, acima de tudo, eu não poderia ficar calada.
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Sétima Filha - Beijada
FantasyEm um rito antigo, comemorado em toda Wareehon, uma garota de cada um dos sete reinos é beijada pelo dom sagrado de suas terras e levada como um presente divino aos recém coroados reis. Com o dever de gerar os próximos governantes. Fortes, saudáveis...