— Eu desenho rostos que são fáceis de passar para o papel, pois são rostos comuns. — Foi o que respondi, mesmo que sentisse que não era a resposta correta. Não ganharia o prêmio. Nenhum prêmio.
— Meu rosto é comum para você? — Perguntou, colocando uma das mãos na cintura. Demorei a responder e a vi prender seu cabelo atrás da cabeça. Ela parecia distraída com os fios enrolados em seu dedo, mas acho que era pura impressão. Com o tempo você percebe que Summer Young sempre está atenta a tudo. Bem, quase tudo, já que não consegue entender como minhas ações deixavam claro como eu me sentia. E eu me sentia confuso.
— Sim.
— Não é uma coisa legal para se dizer a uma garota... Ou melhor, não é uma coisa legal para se dizer a mim. — Pegou os desenhos novamente ao terminar de falar.
— Por que não? — Não entendi porque ela disse aquilo. Não via como algo ruim, já que é maravilhoso encontrar alguém com um rosto fácil de desenhar. Será que eu não estava entendendo devido meu TDA? Talvez ele me impedisse de prestar atenção aos mínimos detalhes, pelo menos os importantes, já que eu me atento mais ao seu cabelo do que ao resto. Ou será que simplesmente não faz sentido para mim? Summer parecia ofendida.
— Odeio ser comparada com outras pessoas ou ser chamada de comum.
— Desculpe, Summer. — Disse, pensando em algo melhor para animá-la. Andei até ela, quase titubeando como o pateta que sou. Quis rir, mas achei que ela não interpretaria muito bem. Coloquei a mão em seu ombro e me pus a dizer coisas que considerava boas: — Um rosto comum, para mim pelo menos, é um rosto simples de fazer, pois apresenta diversos fatores que facilitam na hora de desenhar. — Ela deixou os desenhos na mesa e me olhou, taciturna. — É sério! Quer saber o que facilita? — Perguntei, mas ela permaneceu calada. — Os lados do rosto se assemelham bastante, criando uma ilusão de simetria. Não há espinhas. O lábio não apresenta imperfeições... Bem, tirando essa marquinha em seu lábio superior.
— Caí de bicicleta quando tinha oito anos. — Respondeu, como se não fosse nada demais. Algo em minha cabeça dizia que devia me atentar à idade, mas não soube o motivo por muito tempo. — Um garoto apostou corrida comigo e, ao ver que eu estava ganhando, virou sua bicicleta em direção à minha. Levei um susto e desviei, só que acabei batendo a calçada. Saí voando da bicicleta e meu rosto, meus joelhos, minhas mãos e meus cotovelos entraram em contato com o asfalto por bastante tempo. Tenho as marcas até hoje, tudo porque um garoto não queria perder para mim, uma garota!
— Nossa. — Disse, tentando entender porque a idade me soava tão importante. Decidi continuar falando, pois odeio parar um pensamento pela metade. E também porque não sabia o que dizer sobre o episódio inédito da vida inusitada de Summer Young. — E o rosto comum não apresenta nariz quebrado, ou alguma marca. É quase perfeito.
— Obrigada, eu acho. — Apesar do agradecimento, ela não parecia muito feliz.
— Eu fui zoado ontem no metrô, voltando para o hotel. — Comentei, tentando deixá-la entretida.
— Por quê? — Vi sua feição ganhar um quê de preocupação. Parece que ela se importa nem que seja um pouquinho comigo.
— Porque eu estava tentando entender um aviso que havia lá, mas o texto era muito grande para mim, com umas 10 linhas. Eu tive que tentar ler rápido, porque tinha um cara atrás de mim querendo ler também. Aí já viu, né? — Dei uma risada fraca e sem graça. — Misturou a pressão e o número de linhas e deu no que deu. O cara me pediu para resumir o que estava escrito, eu não entendi metade do que estava escrito e falei tudo errado. Ele me chamou de analfabeto, ficou com cara de irritado e foi embora me dando um empurrão.
— Bem, há sempre uns idiotas no meio de gente legal. — Suspirou e foi a vez dela de colocar a mão no meu ombro. — Ele é apenas um imbecil, Ethan, não ligue para ele. Você é muito inteligente.
— Obrigada, pequena. — Soltei o apelido sem querer, mas ela sorriu. — Mas o que você veio fazer aqui de verdade?
— Nada demais, mas resolvi te visitar. — Sorriu novamente, fazendo-me sorrir junto. — Você evitou sair comigo ontem e isso me chateou um pouquinho, mas decidi aparecer e ver no que dava.
— Ah, foi por isso que me trocou, Summer Young? — A voz vinha da minha porta, que eu infelizmente esquecera aberta. Eu acho, pelo menos. Estava aberta quando olhei para trás e vi Sean Johnson parado lá, olhando para Summer. Alto, com topete, cabelo castanho escuro, braços fortes, camiseta preta e calça jeans... O típico Sean Johnson.
— Eu não te troquei, Sean, apenas vim visitar um amigo. — Respondeu. As bochechas da garota estavam bem avermelhadas.
— Vocês são amigos, é? — Ele a olhou com um ar de brincadeira. — Legal que meus amigos são amigos.
— Pois é. — Comentou, sem graça.
— Mas ainda fico chateado que você me deixou sozinho, no quarto da frente, só para dar carinho no ombro de Ethan. — Sean fez cara de triste e depois riu, ao ver que Summer retirava rapidamente a mão de meu ombro. — Quer voltar para meu quarto para continuarmos o que estávamos fazendo ou quer continuar aqui, na frente de Ethan?
Vi as bochechas da garota ficarem ainda mais vermelhas. A frase de Sean não soara muito bem aos meus ouvidos e algo que dizia que ele estava tentando deixar Summer desconfortável. Não gostei nada disso. Cruzei os braços e olhei de um para o outro, tentando decidir se aquela situação era ruim ou péssima.
— O que está acontecendo aqui, exatamente?
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Olá, Summer
RomanceEthan Pearce sente necessidade em procurar a beleza no mundo e embelezá-lo quando considera pertinente. As cores faltam para o jovem artista australiano, provavelmente devido a descrença de seus pais em suas pinturas e por sua constante mudança de p...