O passeio poderia ter sido muito melhor se Hayden não estivesse lá. Ele apenas falava sobre como sentiria falta da namorada e coisas depressivas. E falava sobre como eu não prestava para Summer, quando ela não estava por perto. Bem, não com todas essas palavras. Apenas mostrava como éramos incompatíveis, pois tudo em mim acabaria com o humor dela. Ou com o que fosse. Seria melhor se eu me afastasse. Foi o que ele disse, pelo menos. Foi o que eu decidi, na verdade. Summer era demais para mim e eu nem estava aberto a um relacionamento. Não com uma garota que não se chamasse Rebeca.
Sim, eu pensei em Summer.
Sim, eu beijei Summer.
Sim, eu admirei Summer.
Sim, eu desenhei Summer.
Sim, eu conversei com Summer.
Sim, eu conversei sobre Summer.
Sim, eu adorei sair com Summer.
Sim, eu pensei em namorar Summer.
Mas nada disso indica que eu devesse manter contato com Summer Young.
Nem que eu estava apaixonado por ela.
Nem que eu poderia me apaixonar por ela.
Nem que poderíamos nos ver por mais de dois meses.
Nem que ela poderia vir a sentir algo por mim.
Nem que ela poderia ser minha namorada.
Eu estava apaixonado por Rebeca. Isso eu não conseguia contestar ou negar. Estava apenas confuso com tudo que estava acontecendo. Fugira de Rebeca por causa de seu namoro com Sean. Antes disso fugira de Melbourne por causa da desconfiança de meus pais. Agora estava com o coração confuso. A cabeça confusa. A confiança no ponto mais baixo que poderia imaginar. Sem saber qual era meu futuro ou meu "eu". Tudo ao mesmo tempo. Talvez o jeito meigo de Summer apenas fizesse tudo em mim dizer "sim" para sua presença. Ela tinha tanto jeito para conversar comigo e parecia ter começado a me entender, mas não acreditava que isso poderia mesmo significar algo. Passara por pouquíssimo para poder dizer "verdade" para o que fosse.
Só poderia pensar em arte. E na pilha de desenhos aperfeiçoados. Por algum motivo, não conseguia parar de criar desenhos com versões diferentes de Summer. A mais fofa quase coloquei em meu Portfólio, mas tudo no desenho deixava evidente qual fora a garota em minha imaginação na hora de desenhar. Precisava voltar a desenhar Rebeca, mesmo que nunca viesse a pedi-la em namoro. Sinceramente, acho que poderia ter superado a britânica de vez e passado a vez para a vancouverite que estava passeando comigo naqueles dias. Eu poderia evitar encontrá-la, mas os e-mails não paravam de chegar. E eu não conseguia deixar de responder.
Sinceramente, acho que se não fosse por Hayden e seus comentários, teria tentado tornar aquele piquenique romântico. Ou teria convidado Summer para um outro encontro. Ou sei lá. Eu tinha outra coisa em mente quando ouvi uma batida sobre a madeira de minha porta, em um final de tarde de uma quinta-feira. A garota que tanto enchia minha cabeça estava chegando naquela noite ao hotel. Ela dissera, com entusiasmo, apesar de estar tentando evitá-la com todas as forças. Ficaria há apenas alguns quartos de distância, pronta para o que faria na noite do dia seguinte. E pensar nela e nas coisas que aprendera sobre sua personalidade, em pouco tempo, fez-me perguntar uma coisa ao mundo.
E se ela fosse minha namorada?
Abri a porta e me deparei com cabelos escuros e olhos brilhantes, ambos combinando perfeitamente com a garota diante de mim.
— Quanto mais tempo me evitar, mais tempo terá que me aguentar te encontrando, australiano. — Sorriu, como se sua frase não tivesse soado tão ameaçadora. Sua presença me assustou, pois não a esperava tão cedo.
— Olá, Rebeca. — Eu disse automaticamente, sorrindo.
— Rebeca? — Ela deu um passo para trás e passou a mão pelo longo cabelo encaracolado. Piscou diversas vezes, como se estivesse com um problema seríssimo em seu olho esbugalhado. Encostou no batente da porta e me deu um olhar daqueles que só ela pode dar, daqueles que me fazem ficar envergonhado até em meus cílios longos. Balancei a cabeça, pensando em quanto errara em a chamar assim. É claro que ela não deixou isso passar. — Você nunca me chamou de Rebeca, então não é algo corriqueiro. — Suspirou, parecendo decepcionada pelo meu engano. Dei uma longa fungada, pensando em como sairia dessa. Não sairia, apenas isso.
— Desculpe.
— Certo. — Movimentou-se e colocou as mãos na cintura fina. Fechei os olhos, esperando que ela esquecesse o que aconteceu. — Estava pensando em algo ruim?
— Não.
— Então por que me chamou assim? — Suspirou. — Ah, já sei! — Ela deu um sorriso estranho e levantou o dedo, como se tivesse acabado de entender como o universo funciona. E se minha cara de cachorro sem dono não a amolecesse? — Você está apaixonado por Rebeca Fletcher, como já me foi me dito, australiano. — Arregalei os olhos e ela sorriu, profundamente. Por que ela estava falando assim? — Só que você não chama Rebeca Fletcher de Rebeca. — Ela sacara tudo e eu estava ferrado. Ou talvez não fosse para tanto. — Eu queria te ajudar quanto a isso, mas parece que é impossível. — E há um outro problema, sabia? — Sim, eu sabia. E como! — Meu nome é Summer Young. — Ela cruzou os braços e passou por mim, adentrando o quarto do hotel.
— Desculpe.
— Pare de se desculpar, Ethan! Se está apaixonado por Rebeca, ótimo. Eu não tenho nenhum problema com isso. — Sentou na cama, no canto mais próximo à mesa que eu usara em todos os dias anteriores. Meu coração disparou e eu quase parei de respirar. Ela não podia olhar para a mesa! — Só que você deveria ver um problema! Ela está comprometida, Ethan. Você precisa desencanar.
— Fala como se fosse fácil!
— Não é, mas poucas coisas na vida são fáceis. — Argumentou, olhando-me. Então rolou seus olhos pelo quarto, analisando. — É um bom quarto de hotel... Não que eu já tenha me hospedado em algum, mas me parece algo legal. — Mordeu o lábio, como se estivesse pensando no que me revelara. Ok. Summer Young nunca se hospedou em um hotel. O que há demais nisso? Continuou a analisar o quarto, deixando-me em pânico. Balancei os braços em uma tentativa ridícula e não calculada de chamar sua atenção. — O que foi, Ethan? — Ela riu, achando toda a situação bizarra. Pelo menos eu acho que era isso. Eu só estava entrando em pânico. Ela não podia olhar para a mesa. Fingi dançar. — Ethan, você bateu a cabeça ou algo assim? Por que está dançando sem que haja um contexto?
— Só estou tentado fazer você rir.
— Por quê?
— Nada. Só para você parar com o assunto deprimente.
— Não é deprimente. É apenas algo sério que você precisa pensar. Já pensou em como vai ser difícil conviver com ela se você ignorar que namora Sean e... — Ela parou de falar e eu soube que perdera. — Mas o que é isso? — A voz dela demonstrava pura curiosidade quando a vi se levantar e, em seguida, pagar uma pilha de desenhos que havia sobre a mesa. Ela arregalou os olhos ao analisar o primeiro desenho, mas sua feição só piorou enquanto analisava os outros. Ela estava visivelmente surpresa, mas também assustada. E talvez admirada. Ou não. Sei lá. — Ethan?
— Oi? — Eu queria fugir, mas fingi estar normal.
— Quem é a garota do desenho?
— Quem você acha que é? — Arrisquei.
— Ela se parece muito... — Ela me olhou, com confusão. — Comigo.
— Pois é. — Engoli em seco, esperando que ela não fizesse a pergunta. Mas é claro que fez.
— Por que você me desenhou, Ethan?
Essa era a pergunta de um milhão de reais, mas eu não ganharia o prêmio. Não fazia a menor ideia de qual era a resposta.
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Nota da autora animadinha: Só tenho uma coisa a dizer. FELIZ DIA DO ESCRITOR!
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Olá, Summer
RomanceEthan Pearce sente necessidade em procurar a beleza no mundo e embelezá-lo quando considera pertinente. As cores faltam para o jovem artista australiano, provavelmente devido a descrença de seus pais em suas pinturas e por sua constante mudança de p...