Fiquei observando a menininha diante de meus pobres e cansados olhos, imaginando o que estaria fazendo ali. Provavelmente fazia parte do grupo de Summer... Ou da família dela, levando em consideração a extrema semelhança entre ambas. Algo em seus olhos me mostrava o que Summer Young nunca demonstrara: tristeza. Era como se ela tivesse um peso enorme para suportar, mas ninguém desse importância ao fato. Não sei como percebi isso em um olhar, apenas percebi. Talvez estivesse errado. Talvez. Ela olhou para o teto por alguns instantes, fazendo-me pensar imediatamente em uma música de um artista nacional (australiano) que eu apreciava. Pensei em Host Of Angels, do Taylor Henderson. Provavelmente porque o primeiro verso fala sobre uma garotinha olhando para o teto, ou porque ela parecia estar sozinha como a garotinha da música. Só esse pensamento deixou um peso enorme em minha consciência já bem pesada. Eu tinha muita coisa para resolver comigo mesmo e o mundo.
Ela voltou a me olhar, dessa vez com mais intensidade. E foi olhando para aqueles olhos tristonhos, pertencentes a uma cópia quase exata da garota que estava mudando algumas coisas em minha vida, que percebi quão pequeno sou. Há tanta coisa para se imaginar sobre as pessoas. Tanta coisa para descobrir. Tanta coisa para perguntar. Tantas frases reconfortantes que podem tirar a tristeza dos olhos de uma criança que parecia ter potencial para suportar a maior das felicidades. Por que ela estava triste? Por que eu estava com vontade de reconfortá-la? E por que eu não pensara em tudo aquilo que estava pensando quando vira outras crianças? Seria por causa de Summer? Seria por causa das novas experiências? Percebi que todas as perguntas poderiam ter a mesma resposta, ou pelo menos uma resposta semelhante. Percebi como minha presença na Terra poderia ser mais significativa. Então decidi começar com ela.
— Você não deveria estar ouvindo a leitura? — Perguntei, tentando a sorte. Pela pergunta dela, estava pelo menos prestando atenção ao que Summer dizia. E a aparência não me deixava em paz. Era como se Summer estivesse me perseguindo até em sua infância. Eu estaria alucinando? Poderia ter batido a cabeça. Aquilo tudo podia ser um sonho de um possível desmaio. Como aquelas teorias de que estamos todos sonhando na realidade, e que nada que pensamos ser real é de fato. Aquelas coisas bem sem pé nem cabeça. Aquelas coisas que te deixam louco. Completamente louco! Justamente o que eu deveria evitar. Pensar demais às vezes pode ser perigoso. Até imaginei, por poucos segundos, que aquela podia ser a Summer criança que dera um jeito de viajar no tempo para me enlouquecer. Isso poderia ser real, certo? Talvez minha vida não passe de um sonho, de acordo com alguns teóricos. Então por que aquela garota não podia ser a própria Summer me enlouquecendo?
Bem, simples. Porque ela não tinha motivo algum para fazer nada daquilo. E também porque eu sou muito cético sobre boa parte dessas doideiras que pensei. Mas, nunca se sabe. Sempre é bom estar prevenido sobre qualquer coisa.
Voltando ao que vocês podem chamar de realidade.
— Já leram esse livro para mim. — Foi apenas o que me respondeu. A voz era bem fina, mas não chegava a ser irritante. Perguntei-me qual deveria ser sua idade; concretizei isso em voz alta. — Assim. — Falou e me mostrou sua mão, com quatro dedos esticados.
— Quem leu esse livro para você? — Perguntei, apenas para puxar assunto. Acaba que sua resposta apenas me fez cair em um abismo repleto de perguntas. Ela indicou Summer. Justamente o que eu estava tentando não pensar. Justamente o que minha mente precisava para viajar. Justamente o que eu temia! Apenas: justamente! Summer não tem irmãos, certo? Frankie não me mencionou nenhum irmão ou irmã. Talvez... Não! Isso é loucura! Ela teria 14 anos, pelas minhas contas. Se bem que algumas pessoas acabam em situações assim. Não! Que absurdo! A garotinha não poderia ser filha de Summer. Não era possível! Ou talvez fosse. É como ela mesma disse: não sei muito sobre Summer. Oh inferno!
— Meu nome é Lola. — Ela disse, chamando minha atenção. Seria mesmo esse seu nome? Crianças não mentem, certo? Afinal, de onde aquela criança surgira? E quem era?
— Seus pais te deram um nome bem criativo. — Comentei, para tentar mostrar a ela que era um cara legal. E para tirar as perguntas e teorias de minha cabeça.
— Eu não tenho pais. — Seus olhos tristes pareciam demonstrar revolta. Ou foi apenas impressão minha. Em um milésimo de segundo ela estava dando um sorriso que assumi ser sarcástico. Crianças não podem ser sarcásticas, podem? Se eu esperava ter um clima mais normal com a garotinha, não deu muito certo.
O efeito foi contrário.
— O que? — Arregalei os olhos. Eu cometera a mesma gafe duas vezes? Não é possível!
— Moro em um orfanato. — Disse com naturalidade. Eu continuei com a mesma cara de babaca. — É algo normal, sabe? — Ela cruzou os braços e ficou me olhando por poucos instantes. — Você é um filho de Poseidon. — Decidiu por conta própria, saindo de perto de mim.
E eu fiquei com um grande ponto de interrogação, criando e riscando teorias de uma lista mental. Se Summer esperava que eu prestasse atenção a sua leitura, deveria ter me avisado sobre seu clone cheio de respostas inusitadas. E, pelo visto, eu cometera o mesmo erro com minhas duas chances de conversar com alguém com aquelas características físicas. Talvez meu destino seja começar muito mal a relação com a garota de cabelos castanhos avermelhados e olhos castanhos. Talvez eu apenas não tenha sorte com pessoas do sexo feminino.
Teria que falar com Summer sobre aquilo. E foi o que fiz, mas não esperava que ela me dissesse o que disse.
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Olá, Summer
Roman d'amourEthan Pearce sente necessidade em procurar a beleza no mundo e embelezá-lo quando considera pertinente. As cores faltam para o jovem artista australiano, provavelmente devido a descrença de seus pais em suas pinturas e por sua constante mudança de p...