Summer Young estava brilhando. Seu cabelo estava solto, meu penteado favorito nela (mas vamos deixar isso entre nós). Os fios estavam molhados por causa da chuva e eu... Bem, não pude deixar de pensar em como aquilo era sexy. Mas vamos abafar. Claro! O gorro dava todo um charme para ela e a deixava mais... Acho que charmosa é a palavra. Não tenho certeza porque nunca enxerguei outra garota de forma semelhante. Seus olhos brilhavam com uma brincadeira. Percebi que estava me desafiando a ser engraçadinho, mas a cena não permitia.
Era algo tão incomum!
E tão fácil de apreciar!
Respirei fundo e deixei meus olhos vagarem pelo restante de seu corpo. Não a estava cobiçando ou algo do tipo, apenas queria aproveitar o tempo que tínhamos sob o guarda-chuva e juntos. Sem discussões. Sem humor ruim. Sem gritos. Sem bufadas. Sem problemas. Apenas eu, ela, o guarda-chuva preto e o resto da cidade. O barulho ao redor estava mais do que abafado. Eu não conseguia focar em nada mais que não fosse Summer, o que é uma raridade e tanto. Vê-la com minha jaqueta me fez pensar em algo que sempre ouvi amigos dizerem. "Quando uma garota bonita usa sua roupa, você pode vê-la de duas formas: engraçada porque não combina nada com aquele estilo ou a mais linda de todas, pois se encaixa perfeitamente em seu mundo". Summer definitivamente se encaixava em meu mundo! E como! Ela tem uma beleza tão única, a qual só existe somando seu exterior com seu interior, que não consigo imaginar outra garota sequer semelhante. Summer é única! E eu sabia que não tinha muito tempo para me relacionar com ela, mesmo que fosse como amigos, mas eu estava determinado a deixar a preocupação com o tempo de lado e conhecê-la melhor.
— Estou feia, não é?
Tive que deixar a pergunta um pouco de lado. Algo em mim fez minha mente voltar ao passado não muito distante.
Eu tinha 12 anos e morava com meus pais, no mesmo apartamento em que vivem hoje. Nosso apartamento era o da cobertura, o que nos fez conhecer as pessoas de todos os andares. Sempre havia um morador de outro andar no elevador, mesmo que fosse um apartamento por andar. O meu, no caso, tinha dois andares, não que importe muito. Bem, o que eu quero dizer é que conhecíamos todo mundo, inclusive a garota bonitinha do segundo andar. O nome dela era Amy e ela tinha problema de socialização. Digo isso porque todo mundo da nossa idade gostava de zombar de todo seu porte físico. Ela era um pouquinho curvada de fato, mas nada a impedia de ser "normal". Eu me aproximei dela por pena, pois sabia muito bem o que era não ser aceito. Viramos amigos e Amy sempre aparecia em meu apartamento, mesmo que eu não estivesse com vontade de conversar. Tínhamos uma amizade que hoje considero como fraca, mas na época não vi nada demais.
Não até ela sugerir que éramos namorado e namorada. Eu, sendo controlado pela pena que sentia dela, deixei isso ir adiante. Meu primeiro beijo foi com ela, mas eu, de verdade, achei muito ruim. Quando terminamos ela disse que eu beijava mal e eu apenas concordei, pois não tinha muita experiência com isso. Como com as outras três garotas que beijei depois também não tive uma boa experiência, assumi que era eu mesmo o problema. E, pensando bem após beijar Summer, a quinta garota que eu beijara na vida, percebi que eu não tive química com nenhuma garota. Não até beijar a vancouverite, pois foi um beijo muito bom.
Voltando a Amy... Nosso namoro apenas azedou mais a amizade. Não tínhamos muito a conversar, ou a discutir. Eu começava a ter pensamentos diferentes quanto a política, a sociedade e as crenças. Amy não conseguia se desprender do que aprendera com os pais, fato importante para fazê-la não ter nenhuma opinião própria. Outra coisa que atrapalhou muito nosso relacionamento foi sua insegurança. Ela sempre achava que sua "feiura", como ela mesma dizia, iria me fazer parar de gostar dela. Mal ela sabia que eu já não sentia nada tão forte. Eu só queria ser seu amigo... Isso até descobrir mais sobre ela. Seu exterior poderia ser bonito e do jeito que meus pais diziam ser o perfeito (cabelo liso, pele clara, alta, roupas de marca bem femininas), mas seu interior era tão desinteressante que a deixava feia. Eu terminei com ela, mesmo sabendo que ela poderia me odiar. Fiz isso porque não queria ficar preso em algo que não era real ou intenso. Porque sabia que um dia ela encontraria o cara de sua vida, completamente diferente de mim. E nunca mais nos falamos (apenas um "Oi, como vai?" ao nos encontrarmos em festas ou no elevador). Não fez muita falta, para ser bem sincero, pois eu sabia que no fundo fizera algo bom. E não estava mais preso em algo por pena. Foi bom para ambos.
Depois os meus outros namoros tiveram um final semelhante e pelo mesmo motivo: falta de química e o descobrimento do verdadeiro eu das meninas com quem estava. Elas eram perfeitas para o que meus pais sonhavam para minha futura esposa, mas completamente erradas para o que eu imaginava para minha eterna companheira. Presas demais ao mundo do dinheiro e da aparência que eu estava inserido. Fúteis demais. Vaidosas ao extremo. Sem pensamentos reflexivos ou de amor ao próximo. Sem preocupação latente com a natureza e os animais. Sem a personalidade que eu tanto procurava.
Summer, por outro lado, era o exemplo perfeito de quem eu não deveria namorar, pelo menos de acordo com meus pais. Ela é pobre (descobri isso através de Frankie, claro), um dos maiores problemas em uma pessoa para meus pais, pois somos de "realidades diferentes", fato importante para o fracasso de qualquer relacionamento. Ela também é pouco vaidosa, aos olhos de meus pais principalmente, pois nunca usa maquiagem, ou salto, ou roupas de grife. Ela apenas usa o que quer, provavelmente comprado em brechós, o que acho muito legal. Summer ainda tem algo que mais pais odeiam: ela questiona o sistema. Se acha que há algo errado na sociedade, ela fala sobre isso abertamente e deixa seu ponto de vista bem marcado. Ela seria considerada uma rebelde e tanto e um péssimo exemplo, mesmo com sua ONG de leitura para crianças e tudo mais.
Eu não via nada disso como problema, nem vejo agora ao escrever essas palavras. Tudo isso só me deixava mais intrigado, pois Summer estava se encaixando aos poucos no que eu intitulava mulher dos meus sonhos. Sabia que poderia ter um problema e tanto caso aquilo tudo ficasse sério, pois teria que apresentar minha nova namorada aos meus pais presos a um mundo ilusório. Só que eu não estava dando a mínima! Queria aproveitar o que fosse com Summer, mesmo que isso significasse enfrentar meus pais no futuro.
E então, pensando em tudo isso eu respondi:
— Está muito encantadora com minha jaqueta. — Sorri, fazendo a rir, sem graça.
— Bem, achei que você ia dizer que eu estou feia. — Comentou, entregando-me o guarda-chuva. — Se esse fosse o caso, eu mostraria a língua e diria que estou maravilhosa.
— Ah é? — Eu ri, feliz ao ver o enorme sorriso em seu rosto.
— Uhum. — Sorriu ainda mais.
— Por quê?
— Algumas vezes só precisamos confiar em nós mesmos para nos sentirmos maravilhosos. — Ela brilhou ainda mais com aquela linda frase, a qual só poderia ter saído da boca de Summer Young mesmo.
Aquilo foi muito importante para me fazer dizer a seguinte frase.
— Posso te levar a um lugar especial?
Ela me olhou com desconfiança, sem deixar o sorriso morrer.
— É um encontro?
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Olá, Summer
RomanceEthan Pearce sente necessidade em procurar a beleza no mundo e embelezá-lo quando considera pertinente. As cores faltam para o jovem artista australiano, provavelmente devido a descrença de seus pais em suas pinturas e por sua constante mudança de p...