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- Sabe... moro nessa casa também, e sei que o senhor ama minha companhia - começo depois de tentar abrir a porta mas sou impedido quando ela esbarra na cadeira de rodas do meu avô. Oops. - Se puder se afastar da porta pra que eu possa abri-la, seu querido neto agradeceria.

- Não! Você está com o escoteiro!

- Quem? O Louis? Não estou com ele, eu vim direto do trabalho.

Ouço cochichos do outro lado e apoio minha mão na batente da porta respirando fundo e controlando meu limite de paciência.

- Por favor, vovô... o senhor não é uma criança birrenta. Eu preciso entrar!

A porta é aberta e vejo Keith apontando o guarda-chuva pra mim.

- Pensando em me atacar, jovem Keith?

- Feche a porta antes que o escoteiro apareça. - ele pede tranquilamente e abaixa o guarda-chuva assim que percebe que Louis não está comigo.

- Escoteiro? - Pergunto encarando Rupert que tampa a boca com dedo indicador impedindo que uma risada escape.

- Seu avô disse que Louis é um adolescente e que só vem aqui como um trabalho voluntário. Eu tentei explicar o quão bom Louis é no que faz mas ele não me escuta.

- Bom, Mr. Keith, terá que lidar com o pequeno escoteiro - coloco meu casaco no cabideiro próximo à porta. - Está liberado agora, Rupert. Desculpe por isso.

Rupert segue o caminho da saída mas deixa um último recado pedindo que Keith não chegue perto de Louis com esse guarda-chuva.

Assim que a porta é fechada, ouço uns resmungos de vovô e o barulho da roda sendo girada sobre o piso de madeira. Me sirvo do almoço que Rupert costuma fazer sempre que vem, e confesso que minha boca enche d'Água só pelo cheiro que vem da cozinha.

- Sabe, vovô... o senhor não precisa amar Louis como ama Rupert, até porque o ruivo já te faz companhia há dois anos, certo?

- Não há necessidade de mais um cuidador, querido.

- Há sim, vovô - me sento à mesa e ele se aproxima. - Eu saio todos os dias cinco horas da manhã, não posso deixá-lo sozinho até uma hora da tarde todos os dias.

- Mas podemos continuar com o mesmo esquema de antes - ele apoia os cotovelos sobre a mesa. - Um dia Rupert vem, e no outro eu fico te esperando. Eu posso passar oito horinhas sozinho.

- Consegue ir ao banheiro sozinho, vô?

- Claro!

- Ah, é? - o encaro.

- Não... - vovô abaixa a cabeça e meu coração aperta.

Me lembro do quão ativo meu vô sempre foi, quantos campeonatos de futebol ele já ganhou e até os inúmeros prêmios de melhor artilheiro - esses nunca são esquecidos já que brilham na prateleira da sala -.

Eu sinto sua frustração por ele não poder andar, já que suas pernas são extremamente frágeis e mal conseguem sustentar seu peso.

- Tudo bem, acho que pode aceitar a ajuda de mais um profissional. Correto?

- Correto - ele responde depois do suspiro mais pesado e irônico que eu já ouvi na vida. Sua voz sai extremamente entediada.

- O que acha de irmos ao parque hoje, hm? É sexta-feira! - Pergunto animado e fazendo uma dancinha com os ombros enquanto balanço o garfo e a faca no ar.

- Pode ser - ele dá de ombros e não solta nem uma risadinha falsa da minha palhaçada e sai girando a enorme roda.

Confirmo as horas no meu celular. Só para contar quantos minutos antes de Louis chegar.

Só pra já ir me preparando por mais um ataque do vovô.

Thank You, Grandpa [l.s] Onde histórias criam vida. Descubra agora