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- Harry, você precisa comer - Lou fala se aproximando de mim.

Hoje faz um mês que Keith se foi e a casa está do mesmo jeito, com a enorme lona ainda cobrindo o chão, as latas de tinta ainda no canto da sala e elas nem sequer foram abertas.

Eu nem mexi em nada, só saí da cozinha para o meu quarto e vice-versa, mas agora eu estou sentado no chão da sala, com as costas apoiadas contra o sofá e os joelhos dobrados onde apoio meus cotovelos.

- Eu já comi - falo rodando um pincel de tinta de parede entre os dedos.

- Já comeu sim, mas comeu ontem - ele revira os olhos. - Já são quase sete da noite e você vai desmaiar se não enfiar um alimento nessa boca.

- Louis eu não sou Keith, okay? Não preciso de alguém cuidando de mim.

- Vai se foder - Louis enche a boca pra soltar o palavrão e eu nunca ouvi um xingamento soar com tanta intensidade na minha vida.

- Desculpa - largo o pincel e escondo o rosto nas minhas mãos. - Não consigo parar de pensar nos meus pais.

- Por que não esquece isso?

- Eu estou tentando esquecer desde... - olho o relógio no meu pulso como se eu fosse capaz de calcular anos e anos apenas olhando os três ponteiros - desde os meus quatro anos.

- Achei que lidava bem com isso. - Lou encosta a cabeça em meu ombro.

- Eu achava que lidava, mas conhecê-los pessoalmente mudou tudo - suspiro e minha barriga ronca alto. Tento disfarçar a fome e abaixo a cabeça.

- Olha, quer saber? - Louis se levanta e eu ergo o olhar para o menor de pé na minha frente. - Você vai comer agora.

- Não quero.

- Anda, porra - Louis pega o pincel e mira em mim - vou enfiar isso no seu cu se você não se levantar dai agora. E vai tomar um banho.

- Tá falando que eu tô fedido?

- Tô falando que você não faz nada além de ficar calado e encolhido nos cantos, e o Harry que eu gosto não é assim - Louis termina de falar e eu sorrio involuntariamente.

Ele disse que gosta de mim, não disse?

- Okay, mas vou me arrumar porque eu quero, não porque você mandou.

O caminho todo eu fiquei calado, Louis dirigiu e nem prestar atenção nas músicas eu conseguia.

Eu não estava realmente me importando pra onde Louis me levaria, mas eu sabia que ele não erraria. Ele raramente erra em alguma coisa.

- Lou...

- Se for reclamar, acho melhor ficar caladinho. - Louis fala estacionando o carro.

- Mas tem muita gente - lamento observando a enorme fila que segue até o lado de fora do restaurante.

- Sim, porque é uma inauguração - Louis desliga o carro e me olha. - Vamos?

Solto um grunhido jogando a cabeça contra o banco, mas o pequeno me ignora e tira os próprios cintos e acaba fazendo o mesmo com o meu. Lou desce do carro e dá a volta abrindo a porta do meu lado, mas eu nem me mexo.

Eu só quero voltar pra casa, comer um salgadinho qualquer, dormir e só sair do quarto ano que vem.

- Se eu chegar no três, vou te arrancar do carro pelos cabelos.

- Oh - rio. - Deixa de ser ridículo.

- Um... - Louis começa levantando o tom de voz.

Com certeza ele quer atrair olhares e me fazer passar vergonha.

Bobinho.

- Dois...

- Louis, fala baixo - já com as bochechas vermelhas por atrair tanta atenção, encaro o menor.

- Não me faça chegar no três - ele fica parado e eu arqueio somente uma sobrancelha, o desafiando. - Trê....

- Psiiuu - falo o mandando calar a boca por praticamente grita ao chegar no três. Saio do carro, aliso minha roupa e Lou fecha a porta trancando o carro. - Não precisava gritar.

- Mas funcionou - ele sorri simples sem mostrar os dentes e faz um sinal com a mão para que eu o siga.

- Vamos passar mil horas nessa fila - bufo observando a quantidade de pessoas bem vestidas e animadas pra entrar no lugar.

Por que eu não sabia desse evento?

- Oh, você não vai precisar enfrentar a fila - Lou coloca a mão no topo das minhas costas me guiando pra dentro do lugar.

Eu nem consigo ler o nome do restaurante, deslumbrado demais com a decoração dourada do restaurante. Quase todas as mesas ocupadas e inúmeros garçons que nem baratas tontas indo de um lado para o outro.

- Gostou? - uma voz surge atrás de mim e eu me viro imediatamente.

- Niall! - sorrio vendo meu amigo com uma roupa social escura. Bem bonito eu diria. - O restaurante é seu?

- Uhum - ele sorri empolgado. - Pode ser nosso, é claro, se você ainda estiver pensando em aceitar a proposta.

- Como não me disse que estava com um restaurante novo, seu idiota? - o abraço realmente feliz por ele - Prometo pensar com carinho.

Niall nos leva até uma mesa reservada, o que me deixa feliz e pensando o por quê de esses dois engraçadinhos não terem me dito nada sobre essa inauguração.

Me sento de frente pra Louis e o garçom de cara já nos atende, o que é muito bom, vamos combinar.

A comida está ótima, mas eu não tenho tanto apetite no momento, então apenas fico desfiando a comida com o garfo, e comendo vez ou outra.

Lou começa a batucar os dedos sobre a mesa e eu o encaro, notando seu nervosismo.

- Escoteiro? Tá tudo bem?

- Oh, sim, está sim - ele passa a mão na testa e fita o lugar em volta, parece querer dizer alguma coisa todos os segundo mas evita, até que ele nota que eu começo a rir.

Peço que ele desabafe, o lembrando de que ele pode confiar em mim e que está tudo bem.

Então ele começa, e começa tropeçando nas palavras. Ele diz muito, diz um monte de coisa, gagueja, suspira e quase chora em alguns momentos em que cita o quanto gosta de passar um tempo comigo, e o quanto eu o faço bem.

Eu realmente não estava preparado pra ouvir tudo isso.

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Thank You, Grandpa [l.s] Onde histórias criam vida. Descubra agora