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- Olá, moço - abro um sorriso assim que entro no quarto de Keith.

- Oi, filho - o velho retribui o sorriso e tenta se sentar na cama, mas coitado, ele sente tanta dor no abdômen que não consegue se erguer. - Oh olá, Escoteiro!

- Olá Sr. Styles - o pequeno sorri fechando a porta atrás de si. - Trouxe um presente para o senhor.

- Tentando me conquistar? - o velho sorri com a lateral dos lábios.

- Já conquistei - Louis solta uma risadinha e Keith dispara deboches ao mais novo, fazendo piadinhas e pedindo que Louis arranje alguém melhor pra ele conquistar.

Não sei se eu conto como alguém melhor, mas...

Louis que antes escondia algo em suas mãos por trás de suas costas, agora traz à frente um vaso de vidro, que sustenta uma rosa bem cuidada e mais vermelha impossível.

Keith abre um sorriso enorme, olhando para o garoto com um sentimento diferente transmitido no olhar, um sentimento de agradecimento por todos os cuidados tomados, todos os momentos de lazer e principalmente os momentos profissionais necessários.

Vovô não diz o tempo inteiro, - ele na verdade nem sequer diz - mas sei que ele criou um carinho incrível por Louis.

Não o culpo, quem não consegue se encantar pelo serzinho?

Keith pede que eu coloque a flor na mesinha ao lado de sua cama, e assim faço. Ele analisa as pétalas em tons vinho e vermelho vivo, sorri e inicia algum assunto conosco.

Ele tosse inúmeras vezes durante os assuntos, cansa, sente dores e eu luto internamente comigo mesmo pra não demonstrar o quanto isso me deixa arrasado. Me dói o coração.

- Boa tarde, querido - apesar das dores e do esforço absurdo, Keith deposita um beijo em minha bochecha. - Rupert chega em cinco minutos, pode ir.

- Tudo bem - retribuo o beijo em sua testa. - Volto amanhã, certo? Não vá aprontar com as enfermeiras, ein!

- Não prometo nada - ele ri e se cobre com a coberta. - Tchau, escoteiro - o velho pisca.

- Muito amiguinhos pro meu gosto, podem ir parando - me viro pra Louis. - O avô é meu, me dá licença?

- Olá ciúme - Keith fala se aconchegando na cama e os dois começam a rir.

- Tenho ciúme mesmo - Rio acenando e soltando um "eu te amo" baixinho.

Penso que ele não ouvira, mas o velho responde e ri fraco. Ouço até que eu feche a porta.

Louis estica a lona em um extremo da sala, e eu em outro. Sim, a lona de plástico é bem grande e consegue cobrir toda a sala. O que é o ideal, já que a última coisa que eu quero é manchar o chão de tinta.

Os móveis também estão cobertos, deixando tudo limpinho e bem longe de manchas de tintas e outros matérias como gesso, e sei lá mais o que Louis inventou pra mudar a casa.

Nunca pensei que ia gostar tanto de pintar paredes, mudar móveis antiquíssimos por novos e o próximo passo será o piso. Louis insiste que um amadeirado bege vai combinar mais com a casa, já que a ideia é mudar todos esses tons escuros e apagados por cores mais vivas.

Eu queria entender o porquê de estar sendo tão difícil pregar um simples prego ma parede. Eu já martelei meu dedo três vezes e essa porra já tá sangrando.

Na sétima martelada o prego já entra na posição certa, o que me alivia e me faz pensar no maravilhoso e habilidoso homem que sou.

Sou muito bom em martelar pregos, podem me contratar.

- Ô cabeludo, seu celular 'tá tocando - Louis fala e eu me disperso, martelando meu dedo sem querer. E forte - Oops, desculpa.

Louis ri e leva o celular até mim.

- É Rupert - falo olhando preocupado pra Louis depois de ler o nome do ruivo no meu celular - Ele está com Keith.

- Não deve ser nada - o pequeno dá de ombros.

- Mas Rupert nunca me liga quando está com Keith.

- Calma, atende...

Desço da cadeira que me sustentava pra eu alcançar a parede e atendo o celular, levando com todas as incertezas e todo o medo do mundo o aparelho em meu ouvido.

- Rupert? 'Tá tudo bem?

O ruivo demora longos, infelizes longos segundos pra me responder. Quando começa a primeira palavra, sua voz soa arrastada mas inteira, firme mas aflita. Meu corpo já enfraquece e a vista embaça por conta da inundação de lagrimas e eu continuo parado, só ouvindo.

Vou ouvindo palavras e mais palavras, meu coração se apertando e eu apenas continuo ouvindo. Uma aflição perturbadora e uma vontade de tacar o celular longe e correr pra qualquer destino que fosse se instala mas eu não faço nada. Não tem o porquê de eu fazer algo.

De certa forma, diante os últimos dias no hospital eu já estava me preparando pra ouvir qualquer notícia que seja.

Mas eu não entendo. Apesar de dores e algumas complicações o tratamento estava indo tão bem...

- Harry... - Ouço a voz de Louis longe, o sinto alisando minhas costas e esquentando meu peito. Minha mão continua segurando o celular na minha orelha, mas eu não emito som algum, não tenho reação alguma, eu nem sequer arranjo força pra devolver o abraço de Louis.

Porque tinha que ir, Keith?

Você nem vai ver sua casa nova...

Thank You, Grandpa [l.s] Onde histórias criam vida. Descubra agora