27.

240 37 22
                                    

Chamo de novo por Keith.

Nada.

Eu e Louis trocamos breves olhares antes de meu coração alterar seus batimentos e eu praticamente correr até o quarto de Keith.

- Mas que porra!? - Sussurro ao ver a cadeira de rodas vazia no canto do quarto e nenhum sinal dele.

Até me aproximar e vê-lo deitado no chão ao lado da cama.

Não pode ser, não pode ser. Por favor, não!

Me agacho até ele notando que o velho está desacordado. Meu coração pulsa de um jeito que é impossível ouvir meus próprios pensamentos. Aliso seu rosto e chamo pelo seu nome repetidas vezes até que Louis se aproxima de nós dois.

O pequeno pede um pouco de espaço e leva sua mão até o pescoço de Keith. Pelo o que sei, essa é uma das técnicas para medir a pulsação cardíaca.

- Tem pulso - Louis fala e meu corpo relaxa parcialmente.

- O que eu f-faço? Louis meu avô! - Peço desesperado por alguma ajuda. Minha voz falha com um inconveniente nó preso em minha garganta.

Louis ergue o troco de Keith, e pede que eu apoie seu peso sobre a lateral do meu corpo. Passo o braço de vovô pelos meus ombros, e Louis faz o mesmo do outro lado.

Com esforço e adrenalina correndo pelo meu corpo, ignoro o peso de Keith e o levo com a ajuda de Louis até meu carro. Penso que talvez ter ligado pra ambulância poderia ser mais simples, mas eu não consigo esperar. Não quero desperdiçar um tempo. Não tenho condições de ver meu avô com lábios e pele pálida gritando por ajuda.

.

- Obrigado - aceito um copo de água que Louis me oferece, e ele se senta ao meu lado.

Assim que Keith foi atendido às pressas na área de urgência, disseram que fariam alguns exames e teríamos de aguardar na sala de espera.

Minha perna balança ansiosamente e Louis me olha, alisa levemente meu braço e minha garganta se fecha. Tomo água pra disfarçar alguma sensação ruim mas os pensamentos só pioram.

- Chorar é coisa de criança, não é?

- Claro que não! Chorar as vezes ajuda, sabia? Tira um peso que as vezes nem sabíamos que mantínhamos. - Encaro Louis e ele sorri curto, com total simplicidade.

- Mas eu não quero chorar - minha voz falha. Tapo meu rosto com as duas mãos e respiro fundo, o mais fundo que eu consigo. Meus pulmões quase gritam pedindo arrego.

- Sabe, eu tenho uma irmã que se chama Lottie - Louis solta uma risadinha porque parece se lembrar de algo. Eu queria ter vontade de observá-lo enquanto conta esse caso com um leve sorriso no rosto, mas prefiro segurar minha vontade de gritar desesperado e continuo com as mãos no rosto. - Ela uma vez chorou porque eu deixei sua maquiagem cair e se partir em trilhões de partículas. Ela chorou feito um bebê. Mas apesar dessa crise, ela sempre disse que devemos ter pensamentos positivos. Então depois de chorar ela decidiu seguir em frente, e fez isso comprando mais três maquiagens iguais.

- Eu tenho medo, Louis.

- Eu entendo mas...

- Não, não entende - afasto as mãos do rosto pra poder encara-lo. - Eu não tenho nenhum parente além de Keith, sou sozinho. Acabei de ficar desempregado e a nossa casa é no nome dele. A aposentadoria inteira do vovô é dedicada às contas que sustentam a casa e eu ajudo com todo o resto. Bom, eu ajudava. Agora não tenho nem sequer um salário.

Louis fica me olhando como se eu fosse uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. Meus olhos refletem nos seus e eu estou há milésimos de entrar em uma crise bem aqui.

Pelo o menos já estou no hospital.

- Não sei se isso vai ajudar, talvez nem ajude e nem sirva pra te acalmar mas você não está sozinho. Hm... eu agora te conheço e você me conhece e então nós nos conhecemos - Louis se embaralha com as palavras e eu fico o observando. Ele respira fundo e continua - Talvez eu não sirva pra muita coisa, ou seja um tímido idiota que não consegue nem te olhar sem tremer as pernas, falar merda ou ficar vermelho igual uma pimenta mas eu estou aqui. Parecendo um idiota, mas estou aqui.

Por um segundo a preocupação do momento se alivia. Não some, só se alivia.

Observar Louis levemente corado e com o óculos apoiado no topo de sua cabeça sobre seus cabelos, me faz querer abraçá-lo, só pra me aliviar de toda a tensão.

Não é choro, eu prometo. Mas meus olhos marejam, e o nó da garganta não se prende mais por preocupação com Keith, mas ele ameaça voltar.

Eu fecho os olhos, querendo que o mundo volte rapidamente no tempo, que volte talvez na minha adolescência, onde eu não me importava em levar meus amigos pra casa, porque todos eles amavam Keith e preferiam ficar sentados na sala conversando com o velho do que comigo.

Eu só insisto em segurar minhas lagrimas. Eu fui forte em tanta coisa, eu só preciso permanecer assim.

Mas falho.

Uma única maldita e solitária lagrima escorre lavando uma linha imaginária sobre minha bochecha. Levo as mãos até o rosto na intenção de limpa-la, mas sinto a mão de Louis segurar meu pulso impedindo que toque a lagrima.

Abro os olhos e me deparo com um rosto milímetros de distância do meu. Sua respiração quente se misturando com a minha e nossos olhos tão próximos um do outro que nem consigo visualizar o que acontece a minha volta.

Louis desliza o dedo sobre a lagrima e sorri sutil. Ele se aproxima e antes que meu cérebro consiga calcular essa atitude, o pequeno une nossos lábios.

Isso dura um segundo. Se não menos.

Eu fico parado que nem uma estátua enquanto o observo afastar. Não só com as bochechas coradas mas seu pescoço e seu rosto inteiro acaba no mesmo tom avermelhado.

- Ele vai ficar bem - Louis coça a garganta e alisa a roupa que usa, e ela nem sequer estava amarrotada. - Quer um café? Tá, eu vou buscar.

Vejo ele se levantar e afastar da sala, virando em um dos corredores enormes desse hospital.

Alguém me explica o que porras está acontecendo hoje?

_________

Coração tá apertado nesse capítulo? O meu tá... mas sigo forte. 💕

Thank You, Grandpa [l.s] Onde histórias criam vida. Descubra agora