Capítulo 72 - Angel

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Na frente de casa tinha uma placa de vende-se, eu tinha acabado de perder meu chão, tudo que eu tinha era essa casa e graças a isso eu não estava passando por coisa pior, já estava até me vendo, morando de favor na casa da minha mãe para não ficar na rua com meus quatros filhos e a Joice. Gilmar não podia fazer isso comigo ainda mais sem me avisar, não nesse momento e dessa maneira. Entrei dentro de casa e não tinha nada de moveis, nenhuma cadeira, os meninos não estavam ali, nem a hornet, nem a bmw, já estava até pensando que Gilmar tinha roubado os meninos de mim, e por mais necessitada que eu estivesse eu não ia deixar ele levar meus filhos.
Passava tantas coisas naquele momento em minha cabeça mas não sabia nem por onde começar, no hotel eu não era bem vinda, eles não iriam nem deixar me aproximar.
Sentei na calçada em frente a casa, Medhelyn começou a chorar com fome, coloquei o peito para fora e a amamentei, fiquei ali olhando matar sua fome, ela sugava com toda força, imediatamente agradeci a Deus pois a alguns meses atrás meu medo era que ela nem resistisse.
Um carro parou em minha frente, e custei a olhar mas quando olhei, senti como se tudo que vivemos tivesse voltado a tona. Ele está aqui na minha frente, a marca da bala em seu rosto era imperceptível, ele está de volta, é o mesmo homem que eu casei, o mesmo olhar, o mesmo sorriso e o mesmo sentimento, o mesmo amor.

- Amor entra aqui, os meninos estão aqui comigo, temos muita coisa conversar. Na hora não quis, eu sofri demais durante esses seis meses que ele esteve em coma e depois que ele saiu sofri mais um pouco, criei uma mágoa muito grande por ele, nem sei se um dia serei capaz de perdoar.

Mas eu precisava ouvir o que ele tinha para me falar, talvez quisesse se separar, talvez quisesse ficar com a guarda do meninos, poderíamos chegar em algum acordo. Eu entrei sem dizer nenhuma palavra para ele, as únicas coisas que ele me falou foi.

- Vamos conversar num lugar calmo, para resolver nossa situação.

Percebi que ele está saindo da cidade, e indo em direção a Balneário mas permaneci quieta. Passamos pelo MARYAST e umas três quadras depois ele entrou numa casa muito grande e bonita. Thai está brincando no balanço e logo David sai correndo para brincar com ela. Gilmar desce do carro, pega os gêmeos, que a cada dia que se passa, parecem mais e mais com Gilmar. Nem dava para dizer que não eram meus filhos. Eu não tive sorte com meus filhos, David é a  cara do seu pai Léo, Enzo e Pietro é a cara de Gilmar, e Medhelyn? Não faço a mínima ideia de quem ela foi puxar.
Gilmar leva os gêmeos para dentro me mostrando o caminho, provavelmente essa seria sua casa aqui em Balneário, o que me deixou mais boba foi o fato de Beth estar ali. Ela já vai pegando os meninos e colocando no chão, eles engatinham por tudo, pega minha princesinha no colo que dormia e fica a cuidando. Gilmar me leva para o quarto dele, eu fiquei toda retraída. O homem some por meses e quando aparece já vai me levando para o quarto. Sentamos na sacada do quarto que tinha ampla visão para a piscina e o parque, aqui tem uma mesinha e duas poltronas.

- Sei que demorei muito para te procurar, para conversarmos, sei também que você ficou muito magoada comigo e ainda continua mas quero que você saiba que não fiquei do lado dos meus familiares, em nenhum momento apoiei o que eles fizeram com você porque apesar de qualquer coisa você sempre será minha mulher. Eu sumi esses dias por que além de você estar chateada também não queria me ver, tive que fazer fisioterapia, tive que tomar remédios, tive que ir no médico várias vezes para ver se dava para operar de novo, se a bala oferecia algum risco. Nossa filha precisava muito mais de você, do que eu. Não podia chegar assim nessa situação difícil e te dar mais trabalho. Enfrentei minha família por você, e isso você também não precisava ter que passar. Talvez fiz errado dessa forma mas foi a melhor forma que encontrei para não te sobrecarregar. Fiz tudo escondido, fui muitas vezes no hospital cuidar da minha princesinha, no começo tinha minhas dúvidas sobre ela ser minha filha, não vou negar. Nós nos amamos uma única vez, sei que não cuidamos e quando acordo você já tá gravida. Pensa um pouco em mim como foi saber disso, todos querendo me envenenar falando mal de você. Gilbran e Jonathan foram os únicos que me apoiaram, falaram do seus esforços, na sua batalha com os hotéis e sempre que podia me visitava, eu sei que você ficava ali comigo. Eu fui burro ao te desprezar daquela forma no hospital, eu não tinha o direito de falar com você daquela forma sem te deixar explicar, fui injusto com você, e te trouxe aqui para me redimir, se você ainda me quiser. Abri mão dos meus familiares para ficar com vocês, minha família, a família que eu criei com você, abri mão dos hotéis, fiquei só com esse aqui para garantir nosso sustento, sua ideia tem dado um bom retorno. Comprei essa casa grande que é o tamanho da nossa família, fiz tudo nos mínimos detalhes, trouxe a dona Beth para ajudar com nossos filhos, fiz tudo por você, pensando em você!

Saber de tudo isso é bom, ele teve seus motivos, suas preocupações mas não necessitava ter sido dessa forma, seu afastamento foi muito doloroso e não é de uma hora para outra que as coisas se ajeitam. Ele vem fala meia duzia de palavras bonitas e eu já tenho que perdoar?
Não mesmo, só eu sei o que passei.

- Você não tinha mesmo esse direito de me julgar e falar o que disse, logo você que eu jurava que ia me compreender mas enfim, bela atitude a sua mas não é desse jeito que a banda toca, não é falando e fazendo essas coisas todas que eu vou esquecer o que vivi nesses meses. Na verdade nem sei se quero continuar casada com você, não posso ficar do lado de uma pessoa que não acredita na minha fidelidade, e não consegue nem assumir a própria filha, só porque apresenta características diferente.

- Não tenho mais nenhuma dúvida disso, me perdoe por ter feito isso, eu te amo tanto não quero te perder, não posso mais continuar a viver sem você. Gilmar se ajoelha e algumas lágrimas rolam por seu rosto, me parte o coração vê-lo sofrer mas tenho que manter minha postura.

- Olha Gilmar, por essa pouca consideração que eu tenho por você é que eu vim até aqui escutar o que tinha para me contar mas eu não posso continuar com alguém que eu tenho muitas dúvidas. Respeito toda sua vida e admiro muito você, eu posso até ficar aqui nessa casa com você mas tenho minhas condições.
Para começar, eu não vou dormir com você, só fico se for para ser em quartos separados e você não vai tentar nada, não somos mais um casal. A escolha é sua, o que tem a me dizer?

Chama do pecado - Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora