Capítulo 48

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O dia havia amanhecido ensolarado, as nuvens quase não eram vistas, havia uma ou outra salpicada pela imensidão azul como se um pintor tivesse sacudido seu pincel contra a tela e espalhados os respingos por toda parte. Era realmente bonito, da forma como seu pai amava. Dias assim o faziam sorrir e o deixavam mais divertido. Se ele estivesse ali estaria propondo para fazerem um piquenique.

Mas ele não estava.

Ainda assim a sensação de que o velho homem entraria a qualquer momento no quarto dela, mandando-a se levantar, não a deixava, era angustiante.

Maggie soltou a cortina fazendo o quarto cair novamente na penumbra e caminhou de volta para a cama. Não queria sair dali. Não queria ir para igreja. Não queria receber condolências. Tudo isso tornaria a perda dele muito real.

E ela não sabia se aguentaria.

Já havia gastado todas as suas formas no dia anterior enquanto resolvia tudo o que era preciso. A frieza com que tinha lidado com a organização do velório tinha a impressionado, ela nunca imaginou que pudesse ficar tão calma em um momento como aquele. A única vez em que suas paredes quase quebraram foi quando teve que consolar sua mãe. Aquilo era demais para qualquer um. Vê-la sofrer arrancou um pedaço do seu coração já tão machucado.

Virou-se na cama, ficando de lado. Seus dedos brincaram com a ponta do lençol bagunçado pela movimentação da noite. Ela nunca tinha ficado tão incomodada com seu colchão, com seus travesseiros e lençol. Nada estava confortável, nada a fazia relaxar. Suas pernas por mais que estivessem cansadas da correria, queriam continuar andando e andando, sua mente concordava plenamente com isso. Maggie era a única que não tinha forças para isso. Ela sentia que se tentasse se erguer iria quebrar-se no primeiro passo.

Doía cada respiração sem ele por perto. Era como se ele tivesse levado a capacidade dela inalar o ar quando se foi.

Apertou o lençol trincando os dentes para impedir o soluço de sair, o movimento fez com que seu celular perdido por entre as cobertas fosse descoberto. A tela estava iluminada e no meio dela um pequeno envelope era mostrado avisando de uma nova mensagem. Maggie a abriu vendo que era de Ethan.

"Queria estar aí com você, mas preciso buscar os meninos e Grace no aeroporto, isso provavelmente vai me atrasar."

Suspirou fechando os olhos e apertando o aparelho na palma da mão.

Saber que Ethan não estaria com ela a desanimou ainda mais. Começar o dia tendo que enfrentá-lo sozinha não era algo que esperava, não estava preparada para isso, ainda mais tendo que se manter forte na frente da mãe e ainda por cima tendo que consolá-la quando o que mais queria era ser consolada. No entanto, a mulher estava devastada, precisava mais do que nunca dela. Quando Maggie olhava para mãe ela sentia como se no momento em que Michael morreu uma parte dela tivesse sido levada embora, nunca a virá tão quebrada, tão envelhecida.

"Eu prometo que você não vai ficar sozinha, ok?" a mensagem chegou minutos depois da primeira. Era como se ele tivesse lido seus pensamentos.

Se ele estava se referindo aos poucos amigos que seu pai tinha e que iriam se despedir dele... Bem, então Ethan estaria terrivelmente enganado. Ela estaria sozinha, mais sozinha do que nunca esteve.

Jogou o celular para o lado sem vontade alguma de responder que estava tudo bem, que ela entendia. Porque ela simplesmente não entendia. Os rapazes e Grace poderiam muito bem pegar um taxi.

Sim, estava sendo uma puta egoísta, mas ela podia, pelo menos no dia em que estava prestes a enterrar o pai.

Com um grunhido afundou o rosto no travesseiro e permaneceu assim por um tempo. Sua cabeça ia e vinha com pensamentos sobre o dia que teria pela frente e lembranças dos melhores momentos com o pai. Maggie sabia que estava se torturando ao seguir em uma direção que apenas a deixaria mais para baixo, mas ela achava que se continuasse pensando tanto assim no pai nunca esqueceria de nada dele.

Intenso (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora