Capítulo 06

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Ando mancando até a casa de Rick e Carl que era mais perto. Ia resmungando a cada passo que dava.

- O que houve? - Carl pergunta ao notar minha careta de dor.

- O ouvido. - resmungo me jogando no sofá.

- Nossa, tá bom. Não pergunto mais nada! - se senta na outra poltrona e abre um gibi do Capitão América.

- Sente saudades? - pergunto encarando o teto.

- De que? - fala ainda olhando o gibi.

- De como era antes, de tudo. - me sento no sofá.

- Mais ou menos. A vida é mais emocionante agora. - sorri e eu retribuo.

- Sabe usar arco e flecha? - pergunto de repente.

- Não...por quê?- pergunta fechando o gibi e largando na mesinha do lado da poltrona.

- Vem. - o puxo pela mão e corro até a área de treinamento.

(...)

Entro em casa toda suada e com dor nos braços para mostrar como se segura um arco e flecha para o Carl, achei que fosse mais fácil.

- Onde você estava, mocinha? - Michonne pergunta de braços cruzados da cozinha.

- Tentando ensinar ao Carl como se usa o arco e flecha. - explico e vou para o meu quarto.

Pego a faca da minha bota e fico observando-a. Ela era um pouco diferente, o punho era mais largo e não era muito achatado, franzo o cenho e passo as mãos pela faca. Pressiono meu dedo indicador na ponta do cabo e uma tampinha se abre. Puxo a ponta do papelzinho que tinha dentro. Abro e me surpreendo com uma foto amassada.

- Enid, abre já essa porta! - ouço o grito de Michonne

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- Enid, abre já essa porta! - ouço o grito de Michonne. Arrumo algumas roupas na mochila e pulo a janela, caio de joelhos mas me levanto e continuo correndo. Coloco alguns ferros nos buraquinhos do muro e consigo pular.

Dêem play na música.

Caio no chão e ouço os gritos de Maggie chamando o meu nome. Me levanto e corro para longe. Meus soluços são altos, mas logo são abafados pelo som da chuva forte que começa. Sei que vou atrair zumbis desse jeito. Mas eu só quero uma maneira de me livrar dessa dor horrível no meu peito.

" A mamãe te ama, filha. "

O sofrimento, excetuando-se o que traz de dor, tem um certo glamour, é cinematográfico.

Cena um: Você atravessa a madrugada escutando músicas antigas, fumando dois maços e revendo fotos.

Cena dois: Você se trancafia no banheiro, senta sobre a tampa do vaso sanitário e dissolve-se de tanto chorar.

Cena três: Você se revira na cama sem conseguir pregar o olho, pensando, lembrando, doendo.

Cena quatro: Você caminha por uma rua da cidade, sem rumo, parando para uma cerveja num boteco estranho, onde ninguém lhe conhece, que bom ser invisível.

Se é para sofrer, que seja sozinho, onde seu rosto passa estampar desalento, inchaços, nariz vermelho, olhar perdido, boca crispada. Se é para sofrer, que o corpo possa verter, vergar, amolecer. Se é para sofrer, que possa ser descabelado, que possa ser de pés descalços, que possa ser em silêncio.

Que os demônios levem aquele que bate à nossa porta bem no meio da nossa fossa, aquele que telefona bem no auge das nossas lágrimas, aquele que nos puxa para uma festa obrigatória. Malditos todos aqueles com quem não podemos compartilhar nossa dor, e nos obrigam a fingir que nada está se passando dentro da gente.

Disfarçar um sofrimento é trabalho de Hércules. Um prêmio para todos aqueles que conseguem fazer com que os outros não percebam sua falta de ânimo nos momentos em que ânimo é tudo o que esperam de nós: nas ceias de Natal, jantares em família, reuniões de trabalho. Você não quer estar ali, quer estar em Marte, quer estar em qualquer lugar onde não seja obrigado a sorrir.

- Desgraçado! - grito com todas as minhas forças.






Survivos || Carl Grimes (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora