Capítulo 17

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Estacionei e encarei o relógio do celular, o qual me mostrava que já  passava das onze da noite. Pelo menos Vitória não estaria trabalhando hoje visto que era terça feira e ela cantava de sexta à domingo. Respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado.

Arrumei meu cabelo, a blusa branca amassada e o cadarço do tênis que já estava me incomodando. Quando se tratava de Vi eu queria parecer o mais normal possível.

O elevador parecia subir mais devagar, a arquitetura não me interessou tanto e quando cheguei ao andar dela fui até a porta e voltei talvez umas quatro vezes até bater e esperar. Minha ansiedade não permitia que minhas mãos ficassem imóveis por mais do que dois segundos e a demora de Vitória para atender a porta não contribuía muito para me acalmar. 

Tudo o que eu tinha que dizer era que tinha outro tratamento, ao qual Ana Beatriz reagiria melhor e com grandes chances de cura. Era meu dever, e nada mais do que minha obrigação. Se eu gostava mesmo de Vitória como eu imaginava, então querer o bem dela era o mínimo ao meu alcance.

"Ninha!" Ela me sorriu surpresa quando abriu a maldita porta. Meu coração quase criou pernas e saiu correndo.

Não esperei que ela me pedisse para entrar, e logo passei por entre ela e a porta. Estava nervosa e nunca tinha sentindo isso de tal maneira. O nervosismo, o medo de perder algo que nem era meu. Alguém que não era meu.

"Ta tudo bem, Ana Clara?" Ela estranhou, porque geralmente eu era a pessoa calma, e eu realmente não estava perto disso agora.

"Como médica da Ana Beatriz, eu fui pro Rio pra tentar encontrar um meio pelo qual ela realmente terá chances reais de cura. Lá eu me encontrei com um dos melhores oncologistas do Brasil e ele está num estudo clínico sobre recuperação de células anormais e um desses lados dessa pesquisa é o estudo do tipo de câncer que a sua irmã tem." Meus olhos não conseguiam parar em Vitória, minhas mãos se movimentavam seguindo minhas falas e só percebi o quanto eu estava falado quando a voz de Vitória se sobressaiu a minha.

"Ana, para de falar! Respira." Ela falou e esperou que eu o fizesse. "Isso. Agora tu quer sentar pra gente conversar?" Eu também tinha esquecido de todos os detalhes da sala aconchegante, do quarto com a parede de vidro, dos respingos de tinta que cobriam uma outra parede ali mesmo.

Me deixei encará-la e a vi sorrir outra vez, como se achasse graça do meu nervosismo. Eu não podia negar que Vitória era capaz de me causar todos os sentimentos do mundo e ao mesmo tempo e isso me deixava louca, às vezes até mais do que me deixava feliz. Suspirei e no momento em que abaixei minha cabeça senti os braços quentes me envolvendo num abraço apertado.

"Eu entendi quase nada do que tu disse." A voz leve soou contra meu pescoço e deixando arrepios por todo meu corpo. "Então a gente vai sentar ali na minha cama pra ver o céu e tu vai me explicando."

Assenti quase que desesperadamente. Conforme ela afrouxou o abraço, notei que a blusa de pano fino denunciava a forma dos mamilos e, apesar de não ser o momento, senti minha boca salivar. Praguejei tais pensamentos e segui Vitória até o quarto, com nossos dedos entrelaçados e o sorriso que brincava nos lábios dela.

A cama estava bagunçada e então percebi que ela podia estar dormindo. Devo ter feito alguma careta naquele momento por pensar em tê-la acordado.

"Eu  num tava dormindo, Ninha. Tava lendo." Ela explicou. 

Me sentei ao lado dela. Tinha começado e terminado o dia ali, naquela cama e os acontecimentos entre esses dois pontos pareciam ser tantos que 24 horas não seriam suficientes para descrever. Vitória me olhava com calma, os olhos que tomavam de mim toda minha verdade pareciam mais escuros, a boca mais clara e o cabelo, ah, Vitória era meu sol da meia noite.

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