Capítulo 42

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Quero que vocês perdoem minha demora, entendam que não tá fácil ter vida social e estudar...Maaaas, eu escrevi isso de madrugada e tem muito de mim nesse capítulo. Brigada cês que ainda tão aqui ❤️

"Quando passei pela pediatria hoje de manhã, Manuela e Aninha pareciam estar fazendo algum tipo de jogo, porque Aninha acompanhava atentamente cada movimento de Manuela. Eu não tive tempo de entrar no quarto para falar com elas, mas saber que Aninha estava se distraindo me fez sentir um pouco melhor."

Leticia me olhava como quem observava algo que era difícil de ser visto. Como se eu fosse uma agulha num amontoado de coisas e isso me tornasse difícil de ser enxergada.

"E como você está se sentindo em relação a Vitória? Faz um mês que vocês não se encontram.

A pergunta mudou totalmente o meu foco. Vitória era um assunto que eu tinha engavetado e ela não parecia se importar muito com isso. Há uns dias atrás, passei pelo bar em que ela canta com o irmão e ela parecia radiante, como de costume. Porque Vitória costuma ser radiante todos os dias de sua existência.

No entanto, não dei mais do que alguns passos até a porta do lugar e voltei para o carro, eu não conseguiria encará-la, ou falar com ela e dar explicações. Acho que nem mesmo ela queria isso.

Dei de ombros à pergunta, não havia nada a ser respondido sobre Vitória Falcão. E isso me fez pensar em quão frágil são todas as relações, até mesmo as que imaginamos serem tão profundas e únicas. Basta fecharmos os olhos ou respirarmos um pouco mais pesado e elas desaparecem, como se um suspiro fosse capaz de fazê-las desintegrar.

"Estou bem. Luana está gostando do estágio e isso significa tudo pra ela, eu já disse que Luana é minha âncora em todo esse caos, se eu repetir você vai me achar monotemática demais. Aliás, Bárbara está de conversa com um rapaz da radiologia e isso me causa um misto de nostalgia pelos momentos que passei com ela e o ex dela, que faleceu". -- Não sei de onde consegui tirar tanto deboche em um único final de frase, Leticia percebeu e anotou algo na ficha em branco.

"Da última vez que veio aqui, pedi que me escrevesse um lista dos melhores momentos da sua vida, onde está?" -- Tirei o papel que estava perfeitamente dobrado em quatro partes do do bolso do jaleco e entreguei pra ela.

A sensação de estar sendo analisada e decodificada é extremamente desconfortável, dava pra sentir os olhos dela passando sobre a página e indo até as minhas memórias mais antigas que estavam escritas ali.

"O primeiro momento é quando você e Luana ficaram de castigo juntas. Por quê?"

Não precisei pensar para responder, e tenho certeza que um sorriso nasceu em meus lábios.

"Eu estava com ciúmes porque ela tinha feito amigos na escola e não parava de falar sobre eles. Então lhe dei um tapa e quando ela descontou mamãe nos colocou de castigo. Eu achei que assim ela esqueceria os amigos e brincaríamos juntas. Foi o que aconteceu."

Ela passou item por item da minha infância, até chegar num dos primeiros ápices da minha vida: passar no vestibular de Medicina. A sensação foi estonteante.

"Você sempre quis medicina, Ana Clara?"

"Sim, eu acho. Eu sempre pensava em psicologia, até no primeiro ano do cursinho ainda achava que tinha escolhido medicina erroneamente. Mas quando passei, quando vi meu nome na lista, então tive certeza."

Ela assentiu e passou para o próximo, talvez mais dolorido, momento da minha vida amorosa. E eu não estou falando de Vitória.

Tive que explicar como conheci Leticia, sobre nosso namoro, porque demos errado e como isso me destruiu ainda na faculdade.

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