Capítulo 40

1.5K 122 27
                                    

Esse capítulo pode estar grande, e pode estar ruim, e cansativo, mas foi a melhor forma que encontrei para trazer Chaos de volta. Espero que gostem.

Vitória.

A noite passou incrivelmente mais lenta do que eu precisava que passasse. Eu queria saber de Ana Clara, queria ter boas notícias sobre Ana Beatriz. Precisava sentir alguma coisa boa no meio de todo meu caos interno, alguma coisa que não me fizesse sentir culpada.

O som do ponteiro do relógio dando voltas e mais voltas não me deixou dormir até que fossem quase três da manhã, depois de muito contar carneirinhos, e mesmo durante o sono eu me sentia tensa. Manuela não queria me falar sobre Ana Clara antes, e agora tinha notícias dela. Talvez não fossem notícias boas, afinal. Meu coração doeu, mas agora com menos intensidade. A cada vez que eu tinha pensado em Ana nos últimos dias cada pedaço meu se desfazia, era como se já não tivesse sobrado muito o que destruir em mim. Como se eu me desintegrasse toda vez em que me dava conta de que eu não estava mais com ela.

Tomei um banho demorado, rezando para que a água morna me acalmasse. Mamãe e Ricardo estavam sentadas na mesa da cozinha quando passei por eles e deixei um beijo na testa dela. O homem se recusou a me olhar, não que fizesse muita diferença.

"Estou indo pra casa de Manuela, ela disse que tem notícias do tratamento de Aninha." 

Vi os olhos de mamãe se acenderem e sorri. Ela parecia mais abatida nos últimos dias também, tinha feito várias viagens para o Rio por causa do trabalho e as olheiras profundas me preocuparam.

"Com que frequência a senhora tem consultado um médico, mãe?" Ela desviou os olhos e instantaneamente me lembrei de que a última vez em que eu a tinha visto numa consulta foi com Ana Clara, no começo do tratamento de Ana Beatriz. Até nisso Ana fazia falta.

Suspirei.

"Eu vou marcar um horário pra senhora na clínica ao lado do hospital."

Ela fez menção de que iria falar e a interrompi:

"Não é uma pergunta, a senhora precisa ir. Precisa cuidar da saúde, eu não aguento mais um tombo assim."

Por um segundo imaginei que talvez ela tivesse percebido toda a dor transbordando de mim, me forcei a sorrir. Ela assentiu e se levantou, beijando minha testa e acariciando meu rosto. O toque de dona Isabel era calma pro meu coração acelerado.

Passei por Ricardo, peguei a chave do carro e tentei dirigir o mais calmo e dentro dos limites de velocidade possível, e inevitavelmente me lembrei de quando furei um sinal vermelho com Ninha, o modo como ela me olhou assustada me fazendo rir com vergonha. Ótimo! Tudo o que eu precisava era de lágrimas pra atrapalhar minha visão.

Manuela estava com os olhos no relógio quando abri a porta, talvez mais desesperada do que eu queria parecer, e sorriu.

"Pontual. Você deve ter sangue britânico, Vitória." Revirei os olhos e entrei.

"Será que a gente pode tomar o café depois e conversar agora?"

"Não. Eu tô morrendo de fome, seu irmão tá lá no quarto." Ela sorriu sugestiva e meu estômago revirou.

"Por favor, não quero detalhes da sua vida sexual." Manuela riu alto, acenando para que fôssemos para a cozinha.

O silêncio dela me matava, porque tudo em mim clamava por notícias.

"Nossa, Vi, você tá muito agitada." Ela comentou com tom de brincadeira, colocando café no pequeno copo e me entregando. "Ontem sua mãe me ligou desesperada atrás de você, dizendo que você tinha feito o rosto do Ricardo beijar essa mãozinha aí!"

CHAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora