Capítulo 34

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Entrar no apartamento de Vitória me sentir como se eu estivesse entrando num campo minado, a presença de Jaffar me deixava desconfortável e com raiva e acho que já repeti isso umas duzentas vezes só em um dia. Mas é verdade, eu tenho vontade de esmurrar aquele rosto de criança virgem toda vez que o encaro, o que nunca vai acontecer começando pela minha altura broxante ao lado dele.

"Ta viajando aí, amor?" A voz de Vitória me trouxe de volta ao planeta Terra, ela me sorriu e me entregou a taça de vinho. Mesmo que a cama dele fosse incrivelmente confortável, estávamos as duas sentadas no chão, de frente para a parede de vidro, encarando São Paulo.

"E se você ficar na minha casa enquanto ele fica aqui?" Falei um pouco mais baixo.

Jaffar estava no quarto que ficava no final de um pequeno corredor, mas como o apartamento de Vitória não era suficiente grande ao meu ver, ele ainda estava próximo demais do quarto dela.

"Eu gosto da sua casa, amor. Mas eu amo meu apartamento." Ela sorriu como se estivesse mesmo rindo da careta que eu fiz. "Além disso, eu mal vou vê-lo. Ele tá no estudo da Aninha e isso vai tomar todo o tempo que meu padrasto pode ter imaginado que ele teria aqui." Ela tentou me tranquilizar.

Suspirei. Melhor não bancar a louca ciumenta, ainda. Esse pensamento durou exatos cinco segundos até Jaffar aparecer na porta sem camisa, exibindo a barriga magra. 

"Vi, onde você guarda os..." Ele começou, não se importando com a minha presença ali e ignorando completamente o fato que eu o encarava quase literalmente com sangue nos olhos.

"É Vitória pra você." Respondi o interrompendo. O desgraçado sorriu de lado e continuou:

"Vitória" Soou incrivelmente sínico. "Onde você guarda os travesseiros?" 

Vitória parecia ter se teletransportado para outro planeta enquanto tinha os olhos perdidos no quarto, e o pensamento dela estar encarando Jaffar me irritou mais ainda. A cutuquei com o cotovelo, olhando fixamente para ela.

"Na parte de cima do armário no teu quarto..." Ela disse ainda meio dispersa e ele assentiu, saindo da porta antes que eu passasse mal de tanto ódio.

"Virou múmia, Vitória Falcão?" Perguntei irritada, virando a taça de vinho num só gole. 

"Não, Ninha, eu ein!" Ela tomou mais um pouco da bebida e colocou a taça no chão, se virando para me encarar. Eu não tinha percebido o poder da minha irritação até sentir o gosto de sangue da boca e a dor no meu lábio inferior.

"Acho que já vou indo. Amanhã tenho cirurgia logo cedo." Fiz menção de me levantar, sentindo a mão quente de Vitória segurar meu pulso. Instantaneamente, meus dedos se entrelaçaram aos dela, como se minh'alma sempre entendesse que nenhum sentimento ruim pudesse afastar Vitória de mim. 

"Tu acha que eu viajei encarando aquele corpo magro do Jaffar?" Ela perguntou meio séria meio sorrindo, o que me deixou confusa.

Assenti como se dissesse sim.

"Na verdade, fiquei com medo que tu quisesse brigar com ele." Ela sorriu mais ainda. "Tua baixa estatura não significa nada perto da raiva que tava espumando ai na tua boca, Ninha." Me permiti sorri quando ela terminou de falar, deixando que seus olhos se perdessem nos meus. "Aliás, que boca né?!" Completou me beijando, primeiro um selinho demorado, depois um beijo que terminou com nós duas deitadas no chão frio e com suspiros de Vitória Falcão contra meus lábios.

"Eu realmente preciso ir, amor, então não me beija assim" Ela riu alto, talvez pela súplica incrivelmente visível na minha voz. Eu amo Vitória, mas todas as teorias correndo desenfreadas na minha cabeça me pediam pra voltar pra casa o mais rápido possível e eu precisava fazer isso.

Vitória acabou assentindo, nos levantamos do chão e a esperei voltar com a chave do meu carro, que tinha ficado na cozinha. Não sei quanto tempo ela demorou, mas foi suficiente para Jaffar aparecer na sala outra vez, dessa vez devidamente vestido. Pude sentir meu coração bater mais rápido com toda a raiva correndo no meus sangue.

Ele ignorou minha presença e se sentou no sofá, ligou a tv e colocou num canal aleatório demais àquela hora da noite.

"Não sei qual o seu problema, ou o problema do padrasto da Vitória." Comecei a falar, sem encarar o rosto moreno. "Mas é melhor não tentar nada com a minha namorada." Mesmo esperando que ele entendesse todo o ranço na minha voz, o que Jaffar fez foi colocar o controle remoto de lado e me olhar com um sorriso irritantemente sínico nos lábios.

"Eu não vi nenhum anel de compromisso no dedo dela, não, Ana Clara."

Jaffar sorria de forma cínica e não desviava o olhar do meu, era como se ele me desafiasse a competir por Vitória.

"Isso que tu acabou de dizer só acabou de me comprovar que Vitória nunca vai querer alguém como você"

Ele abriu ainda mais o sorriso me irritando profundamente.

"Sabe.. eu sempre gostei de um desafio."


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