Capítulo 45

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Tu que lê, brigada♥ 
(Pelo amor de deus, votem consciente hoje, para que o ódio não vença♥)

Depois de muito ignorar Vitória e tudo o que eu sentia por ela, me afundei no trabalho e fiz mais cirurgias em um mês do que sempre imaginei fazer, com uma margem de erro mais pequena do que eu esperava. Aos poucos, senti que estava voltando a ser a velha Ana Clara: vivia pelo trabalho e as únicas expectativas eram criadas ali mesmo. Luana estava terminando o estágio e faltava pouco para a formatura, que seria dali há um mês. A ansiedade dela me mantinha ocupada também, além de Babi e Manu engajadas com Aninha, que também estava quase totalmente acostumada com a visão de um olho só.

Agora, três meses depois de Vitória, passei a achar interessante como as coisas mudavam tão rapidamente. Como o tempo não parava para que eu pudesse sofrer o suficiente antes de retomar minha vida. Isso, por um lado, foi bom, porque agora eu podia ver o quanto tinha me tornado uma pessoa melhor depois de conhecê-la. Vitória era luz, e naquela eu não estava preparada para receber aquela luz sem sentir que todos queriam roubá-la de mim.

A essa altura, Aninha já tinha tomado a segunda dose do remédio milagroso de William e Jaffar e estava sentindo os sintomas do tratamento mais do que nunca. A menina estava magra e pálida, dormia quase o dia todo sob o efeito de analgésicos e quando estava acordada fazia questão de me ter no quarto. Acho que ela percebeu que eu e Ana Clara não estávamos juntas e talvez não voltaríamos a estar e sempre alternava os horários em que ficava comigo ou com ela. Assim, não nos encontramos nenhuma vez nos últimos dias e Letícia admirou o fato de que eu não a deixava falando sozinha nas consultas mais.

"E sobre sua ex?" -- Ela perguntou, percebendo meu fluxo de consciência. 

"A Vitória?"

Perguntei sem entender, ela negou com a cabeça. Ah sim, Letícia Tavares.

"O que tem ela?"

"Não pensa nela às vezes?"

Não entendi onde ela quis chegar com isso, ergui as sobrancelhas e esperei que ela falasse algo.

"Na maioria das vezes, ainda nos pegamos pensando sobre algo do passado que ficou inacabado."

"Letícia não é algo que ficou inacabado, inclusive, não conheço algo mais acabado do que meu relacionamento com Letícia. Sem sombra de dúvidas, eu nunca me pego pensando nela, eu tenho uma vida depois dela e agradeço muito por isso."

Então ela assentiu e anotou algumas coisas antes de voltar a me encarar.

"Agora que não sente tanta falta de Vitória e sente que seus sentimentos estão se reorganizando, nosso próximo passo é que você pare de se atolar no trabalho e tenha uma vida fora daqui."

Dei o meu melhor para não revirar os olhos, eu tinha uma vida fora daqui, porque eu tenho uma casa e uma irmã e uma melhor amiga que são suficientes pra mim.

"O que quer dizer com isso?"

"Que você saia da sua casa e volte para a cidade, eu tenho certeza que fazia isso antes."

"Engano seu, inclusive quando vi a Vitória cantar pela primeira vez eu tinha sido obrigada a ir para aquele bar."

Instantaneamente me lembrei da voz rouca soando no microfone e a luz iluminando perfeitamente aquela pele branca. O sorriso dela sem uma direção específica e depois vindo na minha direção...Talvez fosse isso que a psicóloga quis dizer com pensar em coisas inacabadas. 

"Então você terá que considerar que meu pedido é uma ordem e faz parte do seu tratamento. Sinta como se estivesse reintegrando a sociedade outra vez."

CHAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora