Capítulo 43

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Pois bem, entre uma lista de exercícios e outra, consegui estar em casa hoje e escrever tudo isso que tava guardado comigo♥ Desculpem a demora absurda e não desistam de mim! ♥♥

Todo meu corpo gritou para que eu corresse dali, como se lá fora uma maratona estivesse me esperando. E talvez estivesse mesmo, mas era uma maratona de sentimentos, todos correndo loucamente tentando me fazer raciocinar o suficiente para acreditar que Ana Clara estava bem ali na minha frente.

Bem ali. Há alguns poucos metros, com as mãos de Aninha entre as dela, num gesto de conforto. Mal pude perceber se ainda estava respirando, porque não é fácil evitar de tantas formas um encontro e todas essas formas te levarem direto para ele. O cabelo dela tinha crescido até a altura dos ombros, o osso da clavícula estava sobressaltado na blusa branca de alças finas e o olhar assustado repousava em mim, ou melhor, gritava contra os meus olhos.

Aninha sorriu na minha direção também, e vê-la sorrir me lembrou de respirar outra vez. O tratamento tinha se tornado ainda mais intenso, apesar de Manuela me dizer que os resultados do último exame tinham sido melhores do que o esperado, segundo Willian. No dia da notícia, Ana Beatriz recebeu uns coleguinhas da escola, e também recebeu a visita da  psicóloga, porque parecia ser as visitas mais importantes naquele momento. Acho que no fundo ninguém mais quer ter esperanças ou que a própria Aninha tenha esperanças de que um bom resultado seja suficiente para que ela saia dali o quanto antes.

Não percebi quando foi que mergulhei em lembranças de algo que parecia tão distante, mas que na verdade tinha acontecido há mais ou menos duas semanas. Desde lá, Ana Beatriz tinha iniciado o tratamento para a visão, porque tinha começado a se atrapalhar toda com apenas um olho. "Não é fácil ser pirata no séc. vinte e um", foi o que ela disse, sorrindo com os lábios secos e finos.

"Hm, Vivi, o que tá acontecendo com tu?" -- A voz da menor soou divertida, melhor ainda, descontraída, como se estivesse tirando sarro da provável careta que eu fazia naquele momento.

"Nada, estava só pensando que você está ficando melhor..." -- Ainda conseguia sentir o peso dos olhos de Ana Clara em mim, como se ela não me visse há muitos anos, ou como se eu fosse algo extraordinariamente exótico. "É-é, eu p-posso-posso esperar até a consulta terminar, se preferir."

Me dirigi a ela pela primeira vez durante os prováveis longos minutos que eu tinha ficado ali, Ana se assustou quando o fiz e notei que ela se repreendeu mentalmente por ter se assustado, foi inevitável segurar o sorriso que eu queria dar a ela. Minhas mãos suavam, e eu detesto o fato de que eu passo a conhecer as pessoas enquanto estamos juntas e depois os detalhes não saem do meu inconsciente. 

"Fica!" -- Sua voz saiu quase desesperada, como se estivesse ocorrendo uma luta interna dentro dela. Ana Clara sempre seria essa bagunça gostosa, entre razão e emoção, meu coração doeu. Ela era uma bagunça gostosa na qual eu não poderia me dar ao luxo de cair tão cedo. "Fica, Aninha vai poder treinar em você as táticas que estamos aprendendo."

Colocar ela e Aninha em uma só pessoa, ela talvez não soubesse o quanto aquilo me fazia querer sorrir abertamente, e pegá-la nos meus braços e girar por todo o hospital...Merda.

"Manuela está ali fora, acho melhor que ela faça isso...Eu-eu preciso..preciso comer alguma coisa." --Fui até Aninha e beijei sua testinha fria rapidamente. "Eu volto logo, princesa."

Foi questão de segundos até que eu saísse do quarto e fosse parar na emergência, me odiando por parecer uma criança ou uma adolescente idiota que gagueja na frente do primeiro amor. Talvez Ana Clara fosse realmente meu primeiro amor, o que deixa as coisas ainda mais complicadas, porque amor não pode doer tanto assim.

CHAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora