Capítulo 20

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"Como assim?" Perguntei até um pouco desnorteada.

"Vitória ligou essa manhã para falar sobre o que você tinha dito e no mesmo segundo reconheci o rapaz. Na verdade, uma coincidência muito grande, eu cresci junto da família dele no Rio de Janeiro." O padrasto dela falava, todo montado num rompante sem tamanho, e o imaginei como aquele meninos mimados que crescem em condomínios fechados e acham que podem chamar aquilo de infância. "Liguei para ele ainda de manhã e passamos horas conversando sobre a pesquisa e eu disse que arrumaria ainda mais fundos para a pesquisa caso ele viesse para São Paulo, onde eu tenho mais contatos com empresários."

Ele falou orgulhoso de si mesmo, o olhar de Isabel era de admiração pelo marido, enquanto Aninha fazia caras e bocas o imitando falar.

"Bom, então fico muito feliz que ele esteja vindo, assim ainda vou poder acompanhar Ana Beatriz." Sorri com todo meu coração para a menininha que me sorria de volta.

Ela parecia tão diferente sem a jubinha com de sol, mas não deixava de ser a princesinha que eu tinha conhecido, mesmo que meu coração doesse. Vitória apertou minha mão, ela parecia animada e eu ainda não tinha acreditado que ela tinha resolvido aquele problema tão facilmente, e eu tinha me torturado tanto por causa disso.

"Espero que assim você tenha tempo de ir lá em casa falar sobre namorar Vitória." Foi o irmão de Vitória, sorrindo pelo meu desconforto.

Acho que todos eles decidiram me surpreender e me envergonhar de uma vez só. Vi sorriu, acompanhada de dona Isabel e Aninha.

"Tu tem que parar de fazer Naclara ficar com vergonha! " Vitória saiu em minha defesa e isso acarretou mais risadas.

Torci para que aquele momento acabasse logo, já tinha atingido a minha cota de constrangimento.

"Bom, eu preciso ir. Passei para ver como Ana Beatriz estava. Tenho uma cirurgia agora."

Já estava quase na porta quando a padrasto de Vitória resolveu ser machista:

"Além de ser bonita pra ser lésbica, ainda é jovem demais pra ser médica, como conseguiram confiar nela?" Se eu já não gostava muito dele quando entrei no quarto, agora eu já tenho certeza de que conviver com ele será impossível.

"Você não tá pagando o tratamento, então não tem que opinar em nada, seu babaca." Pela primeira vez eu vi Vitória com raiva apenas por ouvir a voz dela, e não quis me virar e causar uma discussão de família, apenas sorri por vê-la me defender e continuei andando.

"Manu, cadê a Bárbara? " Perguntei assim que a vi saindo de um dos quartos da pediatria.

"Ela tava no segundo andar quando eu vi" Ela respondeu. Não que Manuela nunca estivesse bonita, mas hoje ela parecia até mais loira. "Fiquei sabendo do caso da Aninha. Tu foi muito boa em ir atrás dele no Rio."

"Vai me dizer que você também conhece o médico que vai pegar o caso da Aninha?!"

"Vou dizer que eu conheço o filho dele que tá fazendo residência e que é muito gatinho" Revirei os olhos automaticamente e Manuela riu.

"Você tá quase casada, Manuela, não sossega não?"

Ela riu mais ainda. Nos encostamos numa das paredes do corredor, para não atrapalhar as pessoas que passavam ali.

''Casada é uma palavra forte, vamos chamar de em um relacionamento." Ri da cara que ela fez, como se fosse a coisa mais simples do mundo estar num relacionamento há tanto tempo. "Conheceu o sogrão?" Ela brincou.

CHAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora