Capítulo 36

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Entre cirurgias e consultas, meu tempo com Vitória se tornou menor naquela semana e isso me deixou completamente irritada. Estava limitada a vê-la no hospital no único dia que ela podia visitar Ana Beatriz e isso não era suficiente. Ficar longe de Vitória me causava uma sensação de vazio que eu não sabia explicar, mas que me fazia ter conversas curtas com todo mundo e não conseguir tirar o celular da mão, esperando que qualquer mensagem que aparecesse fosse dela.

Estava caminhando com Bárbara para fora do hospital, íamos buscar Manuela num hospital do outro lado da cidade onde ela tinha ido fazer uma cirurgia e depois iríamos parar um pouco no bar que Vitória e Flávio cantavam, porque esse seria o único jeito de conseguir ver a mulher da minha vida. E porque, bem no fundo, eu queria saber sobre Jaffar. Eu o via diariamente e o maldito sorriso sínico que ele sempre me dava me fazia ter de contar até dez todas as vezes.

"Você não pode voltar pra dentro da sua caverna todas as vezes que passar algum tempo longe de Vitória, Ana Clara." Bárbara chamou minha atenção.

Ainda bem que ela não sabia que nossa sorte era ela estar dirigindo, porque meus pensamentos àquela altura já teriam feito com que eu nos enfiasse em algum acidente.

"Não estou dentro da minha caverna." Respondi, mesmo notando o mau humor na minha voz. "Eu não tenho uma caverna." Continuei, imitando a voz dela.

Pude perceber a careta que ela fez. Bárbara sempre sabe que está certa, porque ela sabe como as coisas são. Ela sempre sabe quando algo vai dar errado, ou quando alguma palavra vai magoar alguém ou quando o mundo vai magoar alguém, como se todas as forças sempre soprassem para ela como as coisas seriam. E ela estava sempre tão calma, que isso às vezes me assustava.

"Você sabe do que eu estou falando. Sei que está com ciume de Jaffar, e você sabe que Vitória não te trocaria por ninguém no mundo." Ela me repreendeu. 

Suspirei.

"Eu não gosto dele."

Respondi impaciente, deixei de encarar minha melhor amiga e me virei para a janela.

"Você não gosta de ninguém que se aproxima dela, isso é tão visível." Foi a vez dela suspirar. "Sempre que acho que você vai evoluir, você enfia os pés pelas mãos."

"O que você quer dizer?"

Não gosto de discutir com Bárbara, porque ela sempre ganha. E eu não gosto de perder.

"Que Vitória é tão livre quanto o vento e que teu ciume vai acabar sufocando ela. Vocês não são uma exceção à regra, isso acontece com todo mundo, só acho que você deveria ser mais inteligente do que isso." 

Não consegui pensar em nada que respondesse as palavras dela, porque quando Bárbara decidia me dar lição de moral, eu só podia deixar que ela falasse e entender todas as coisas que ela dissesse. Porque, no fim, ela era a única pessoa a qual eu realmente dava ouvidos.

Então, assim que ela entendeu que eu estava a fim de ouvi-la, ela continuou:

"Você não precisa ficar com essa carranca apenas porque um rapaz está dividindo apartamento com Vitória, ela é vacinada, sabe o que faz. E você sabe muito bem porque ela está se deixando vencer pelo padrasto e aceitando Jaffar lá dentro, você precisa se lembrar disso todas as vezes em que discutir com ela no celular, como eu já vi várias vezes só essa semana."

Aninha. Aninha precisava desse estudo, Aninha precisava viver. De repente, tudo o que senti dentro de mim foi uma raiva crescente por mim mesma, por estar sendo egoísta e esquecendo os reais motivos de tudo aquilo estar acontecendo. Eu tinha discutido com Vitória várias vezes, tinha quase implorado para que ela fosse para minha casa mesmo sabendo o quanto ela amava aquele apartamento. Eu estava me tornando tóxica.

CHAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora