Capítulo 149 - Vento

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O caixão com o corpo de Eldora foi abaixado totalmente, encontrou o fundo da cova lá embaixo. Todos puderam ouvir o som do contato da madeira com o solo. Então o celular de Betinha vibrou no bolso de sua calça de seda preta. Era uma ligação e ela só se apressou em atender porque o seu coração de mãe passaria para sempre acreditar que cada ligação que chegava poderia ser uma ligação informando onde estava a sua filha desaparecida.

- Alô? Senhora Bette? Eu sinto muito incomodar em um horário assim tão cedo, mas eu falo aqui da clínica de reabilitação e aquela moça para quem a senhora pagou o pacote de internação e fugiu... Bem, agora ela está aqui de volta. Veio por conta própria, se admitiu como dependente química que precisa ter ajuda pela primeira vez e está pedindo para ser internada novamente, mas como é a senhora quem paga, antes de aceitar o retorno dela eu necessito de sua confirmação para...

- Eu estou enterrando a minha mãe em um cemitério – Betinha disse tão fria e direta.

- Oh, senhora Bette, eu sinto muito. Eu não...

- Interna. Interna a Tábata de novo. Eu pago, eu autorizo. Que ela tenha o recomeço da vida dela – foi tudo o que Betinha disse continuando muito séria e desligou logo em seguida.

Nesse instante, Jocler jogou o lírio branco dentro da cova e os coveiros começaram a jogar as pás de terra. Todos foram indo embora devagar, até que só ficaram Betinha e Dalton ali.

Betinha, que usava grandes óculos escuros para esconder os seus olhos vermelhos e com olheiras de tanto chorar, se agachou, se inclinou perto da cova depois que ela estava completamente coberta e enfiou a sua mão na terra fofa. Betinha então se levantou e agora olhava seriamente para a sua mão fechada em punho erguida agarrando todo aquele punhado de terra marrom.

- Eu juro... Eu juro que eu vou ter toda a força necessária e eu não vou descansar até encontrar a minha filha. Eu vou ter a minha filha de volta – Betinha fez aquele juramento intenso e só então foi abrindo a sua mão devagar, deixando a terra escapar, terra que era varrida pelo vento.

No casarão da agiotagem, eram 7 horas da manhã quando um dos capangas armado com a metralhadora de costume caminhava pelo corredor e ao passar em frente ao quarto de Geraldinho que tinha a porta aberta, viu algo incomum que chamou tanto a sua atenção que ele acabou entrando, curioso. Ele via Geraldinho enfiar a agulha de uma seringa em uma ampola pequena e com líquido transparente feito água e depois injetar aquilo em sua perna.

- Está se drogando, chefe? – o capanga perguntou todo inocente.

- E eu lá tenho cara de idiota, de otário que vai se tornar viciado em droga só pra perder o controle de tudo, ir pro buraco, torrar a minha grana toda? Isso aqui não é droga, seu imbecil. É testosterona.

- Testosterona? O hormônio masculino?

- Não! Hormônio de avestruz! Claro que é o hormônio masculino! Ai, como tu é burro!

- Mas pra que você precisa disso, chefe?

- Como todo mundo sabe aquele filho da mãe do Cachorro Brabo que hoje já está sendo comido pelas minhoquinhas lá debaixo da terra, felizmente, um dia cortou as minhas bolas fora e eu descobri recentemente que se um homem não tem mais os testículos ele precisa das injeções de testosterona. Então...

Mas logo Geraldinho quebrou outra ampola, encheu outra seringa, mas aquela ele injetou em seu braço musculoso.

- Ué? E precisa de duas doses assim de uma vez, chefe?

- Não, essa outra aqui não é testosterona. É anabolizante.

- Anabolizante?! Ih, chefe. Tem necessidade de tu tomar isso aí não. Olha só pra tu. Já é fortão, grandão.

- E por acaso o fortão e grandão aqui pediu a tua opinião? NÃO! Então vaza daqui antes que eu corte as tuas bolas fora também para que você faça parte do clube. Você quer isso? – Geraldinho só precisou perguntar uma vez, porque o capanga logo saiu correndo do quarto com medo. – Eu sei o que eu faço da minha vida – ele falou sozinho olhando para as suas novas ampolas de anabolizantes que ele começava a tomar naquele dia para ficar ainda muito mais musculoso do que já era. – Eu sei o que eu faço.

- Olá, o meu nome é Tábata Pires Batista e eu sou uma dependente química – ainda bem tímida, naquela manhã, na primeira roda de depoimentos na qual Tábata participava na clínica de reabilitação, ela disse após se levantar na frente de todos.

- Olá, Tábata – todos os outros dependentes em tratamento disseram ao mesmo tempo, acolhedores.

- Bem, eu... Eu nunca fui boa com datas, então... Não sei... Talvez tenha uns cinco ou seis meses desde que eu comecei a usar drogas. Eu fazia uso da heroína. Apenas essa droga. Eu... Eu comecei depois de uma experiência traumática envolvendo o meu marido e outros inocentes, algo horrível que eu fiz. Eu ouvia todas as vozes desses inocentes pra quem eu fiz mal gritando dentro da minha cabeça, me acusando e de repente era só a droga que fazia essas vozes pararem. Então eu usava. Usava sempre. Mas... O preço que eu tive que pagar... – e Tábata foi obrigada a fazer aquela pausa para limpar com a sua mão a lágrima que escorria por sua bochecha. – Eu fiz coisas horríveis pelo vício. Eu menti, eu me vendi, eu roubei, eu agredi. E eu não quero mais ser essa pessoa, eu não quero mais essa vida. Eu sei que vai ser muito, mas muito difícil mesmo me libertar. Agora mesmo enquanto falo aqui com vocês é só no efeito relaxante da droga correndo pelas minhas veias que eu penso, mas... Eu vou ser otimista, eu sei que eu vou conseguir. Eu acredito no tempo. Ele não é maravilhosamente incrível? O tempo? O tempo corre no vento e leva tanta coisa embora. Leva as imagens da pessoa que a gente achou que amou um dia, leva os medos, as incertezas, então eu acredito que o tempo também vai varrer essa mulher que eu fui com o vício e o que vai restar depois disso... Será apenas a nova pessoa que eu tanto desejo ser. Obrigada.

Tábata concluiu e todos aplaudiram. O ponteiro do relógio no alto da parede daquele salão todo branco onde eles se reuniam fazia barulho ao se mover. O ponteiro nunca parava.


2 ANOS E MEIO DEPOIS . . .


No próximo capítulo, a novela avança 2 anos e meio em seus eventos

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No próximo capítulo, a novela avança 2 anos e meio em seus eventos. Quais serão as grandes surpresas que nos aguardam nesta passagem de tempo?


> > > Continua . . .



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