Logo no hospital estava Lorenzo sentado no banco do corredor com Betinha e Dalton sentados cada um de um lado seu, segurando as suas mãos.
- Por que a minha Verônea tinha que ser atropelada por aquela caminhonete desgovernada daquele jeito? Porque todas essas coisas ruins estão acontecendo com a gente? – Lorenzo lamentava.
- Ah, meu amigo, quem dera nós tivéssemos as repostas para tudo... – Dalton disse.
- Ela não merecia isso e eu não mereço isso.
- Você só deve manter uma coisa em mente. Que as coisas ruins nas nossas vidas são passageiras. Chega, acerta a gente... Mas passa. Pode até demorar, mas tudo o que ruim passa. Só o que fica para todo o sempre é o que é bom – Betinha também disse.
Então doutor Benjamin surgiu.
- Como está a minha mulher e o meu bebê? – Lorenzo rapidamente se levantou do banco perguntando.
Doutor Benjamin colocou as mãos dentro dos bolsos do jaleco branco que vestia.
- Quanto ao bebê... Foi um verdadeiro milagre, porque ela não perdeu – doutor Benjamin anunciou e todos respiraram aliviados. – Claro, em razão do impacto aconteceu um descolamento da placenta e ainda não podemos garantir que não houve qualquer dano ao feto, mas... A gravidez continua.
- E ela? E a minha Verônea.
- Lorenzo, você precisa saber que... A Verônea entrou em estado vegetativo.
- O que?
- Estado vegetativo. Foi por conta do dano em seu cérebro com a pancada. Isso quer dizer que ela dorme, acorda, mantêm os olhos abertos, mas não fala, não se movimenta e precisará da ajuda de aparelhos para respirar e se alimentar – doutor Benjamin explicou todo o seu estado, impactando Lorenzo com tamanha notícia sobre a sua amada.
Na escola, Bela Flor se aproximava de Thor no pátio por mais uma vez, mas ineditamente o cruel menino japonês não a atacou com uma nova piadinha malvada sobre os seus dois pais, não a humilhou. Bela Flor pôde circular pelo pátio escolar na hora do intervalo com as suas amiguinhas sem ser importunada. Acreditou que a historinha promovendo o senso de respeito e igualdade contada por seus pais em sala de aula realmente havia surtido um efeito e estava muito feliz por isso.
No casarão, Geraldinho caminhava pelos corredores até que teve a pontada no peito outra vez. Dessa vez foi tão forte que ele caiu no chão. Quando Geraldinho voltou a abrir os seus olhos, ele já estava em uma maca sendo levado pelos corredores do hospital. Ele tinha apenas a companhia do capanga que havia o socorrido e levado até ali. A sua esposa Tábata nem sabia o que havia acontecido com ele. Só ficava trancada em algum cômodo do casarão usando uma seringa de droga atrás da outra, esquecendo-se do mundo lá fora.
- Ai, meu Deus. É ele – Betinha disse e abraçou Dalton, escondeu o rosto no peitoral do seu marido enquanto agora a maca trazendo o homem negro excessivamente musculoso passava bem em frente a eles.
- Ele quem?
- O Geraldinho, sendo atendido, bem aqui.
- Bem, bem senhor Geraldo... – doutor Benjamin conversava com o paciente logo depois. – O que teve foi sorte, porque sofreu um pequeno infarto e a uma hora dessas o senhor já poderia ter ido para o vinagre.
- Mas não fui porque sou de ferro.
- Ninguém é feito de ferro nessa vida, senhor Geraldo e principalmente quem acha que é. Bem, só de olhar para o físico do senhor... Vai ser preciso mesmo que eu faça o discurso sobre a idiotice perigosa que é o uso de anabolizantes, que eu dê as instruções para que nunca mais use anabolizantes se não quiser morrer ou será que eu posso poupar o meu tempo e também o seu?
- Eu vou parar, doutor. Vou parar com os anabolizantes. Já parei. Bem nesse instante.
Geraldinho jurou. Ele foi liberado e ao voltar ao seu casarão a primeira coisa que fez foi se injetar mais anabolizantes.
- Senhor Lorenzo, nós temos um assunto bem delicado e importante a tratar – doutor Benjamin voltou então para perto de Betinha, Dalton e Lorenzo dizendo. – O hospital precisa ter a sua resposta.
- E sobre o quê?
- A sua decisão. Sendo marido da senhora Verônea, é o senhor quem responde legalmente por ela nessa situação.
- Eu não estou entendendo.
- É a política do hospital que quando um paciente entra no estado vegetativo como está a Verônea, vivendo com a ajuda dos aparelhos, que a pessoa responsável pelo paciente faça a decisão: o senhor irá manter a sua esposa vivendo com a ajuda dos aparelhos ou autoriza que os aparelhos sejam desligados e ela parta definitivamente?
Doutor Benjamin fez aquela pergunta decisiva que acaba de colocar Lorenzo no maior dilema de toda a sua vida.
O maior dos dilemas: a pessoa que você ama agora só vive com a ajuda de aparelhos... Você permite que ela continue vivendo assim ou deixa que ela parta?
> > > Continua . . .
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Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200
Romance- Indicado ao 1º Prêmio Wattpad Brasil ( #WBr2018 ) - 2 indicações ao ADA2018 (Prêmio Da Academia De Artes Literárias) Betinha é uma jovem que vende vassouras pelas ruas para garantir a compra da sua passagem para uma viagem internacional. Ela plane...