Capítulo 16 - Mágico

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— Não tem ninguém aí, gatão – quem disse para Dalton foi a vizinha Tábata, que assim que viu o carro importado dele estacionando, logo saiu de sua casa e foi atendê-lo abaixando ainda mais o decote de sua blusinha e soltando o seu cabelo.

— Eu procuro pela Betinha.

— Mas eu não estou falando, gatão? Ela não está em casa. Nem ela e nem a mãe dela. As duas já saíram para ir vender vassoura aí pelas ruas. É isso o que elas fazem.

Decepcionado, Dalton seguiu de volta ao seu carro, mas Tábata tratou de segurá-lo.

— Calma. Ei. Pra que a pressa, gatão? Quer um copo d'água? Eu trago um bem gostoso e refrescante pra você. Ou se você quiser ir lá dentro buscar comigo...

Com uma mão Tábata segurava a cintura de Dalton e com a outra ela colocava a ponta do dedo em sua própria boca.

— Não. Eu não quero nada. Eu preciso ir – Dalton respondeu rapidamente e logo dirigia para longe.

— Riquinho babaca. Não sabe o que é bom – Tábata disse voltando para a sua casa e ajeitando o seu sutiã.

Se existia alguém que se encontrava em uma realidade ainda mais decadente do que Tábata, esse era Dom Lazar, o mágico estranho que também havia sobrevivido à queda do avião. Naquela tarde, Dom Lazar, o homem careca e com sinistros grandes olhos azuis, se apresentava em um pequeno teatro em péssimas condições para apenas uma dúzia de pessoas. Ele tinha uma assistente chamada Verônea, uma jovenzinha órfã cheia de sardas laranjas nas bochechas e cabelo vermelho feito fogo, que era quem o auxiliava durante as apresentações. Mas a velha cartola de Dom Lazar já estava furada, os pombos não saíram da caixa mágica na hora certa e o espaço onde Verônea entrou para ser partida ao meio despencou. Primeiro as pessoas riram da apresentação desastrosa e logo começaram a vaiar obrigando Dom Lazar e sua assistente a se retirarem do palco antes do tempo previsto.

De volta ao quartinho onde Dom Lazar vivia num cortiço com a sua órfã assistente Verônea, ele se apressou em ir para o cantinho que sempre o trazia paz depois de momentos difíceis como o que acabava de ter.

— Fez o serviço que eu mandei? Imprimiu as fotos? – ele perguntou.

— Imprimi. Estão aqui – Verônea disse o entregando o envelope e ela parecia tão triste, prestes a chorar.

Dom Lazar levou as novas fotos para o seu cantinho. As fotos eram de Betinha, de seu ensaio para a grife que ele havia visto na internet e aquele cantinho era um verdadeiro altar que Dom Lazar havia construído com dezenas de fotos de Betinha. Apenas fotos dela. Todas as que conseguia encontrar nos sites, nos jornais.

— Você ainda vai ser minha. Vai ser minha. Porque pertence a mim. Pertencemos um ao outro desde várias vidas passadas. Você só não sabe disso ainda, mas vai saber, meu amor – Dom Lazar dizia e fazia carinho naquele monte de fotos de Betinha penduradas ali.

A magrinha jovem Verônea, como sempre, ficava só no cantinho da porta, observando enquanto ele adorava a mulher que queria ter. Ela observava e chorava em silêncio, porque ela amava Dom Lazar de verdade, mas não tinha a coragem de contar e só ia sendo magoada cada vez mais por não receber qualquer amor dele em retorno.

À noite, na mansão onde Anja vivia sozinha com os seus empregados, a empregada (que também funcionava como uma espécie de assistente pessoal da famosa atriz) ouviu quando ela começou a gritar lá no andar superior em sua suíte.

A senhora que estava sempre tão preocupada com o bem-estar de Anja, por mais que a jovem atriz só a humilhasse e maltratasse, tratou de correr escadaria acima e foi de encontro a ela. Quando a empregada abriu a bonita e pesada porta dupla e branca com detalhes em ouro da suíte, ela encontrou Anja pulando sobre a sua enorme cama. Foi quando a senhora entendeu que os gritos de Anja eram de comemoração, de felicidade.

— O que foi que você conseguiu agora, menina? Olha, eu já tenho até medo quando você comemora.

— Consegui o que eu mais queria, vaca! Estou feliz. FE-LIZ!

— Não vai me dizer que encontrou mesmo uma maneira de fazer a tal Betinha ser expulsa da agência de modelos?

— Não. Ainda não. Eu disse que eu estou feliz. Se eu tivesse conseguido isso também, daí eu estaria muuuuuuuuito feliz!

— Então o que foi que você aprontou dessa vez? Fala, menina. Você ainda vai me causar um infarto desse jeito.

— Eu consegui uma forma infalível, definitiva para fazer o Dalton ficar comigo. Vaca, eu arrumei esse plano que está tão bem amarrado, tão certinho, tão perfeito que... Vaca, o Dalton não vai ter pra onde fugir. Ele vai ter que se casar comigo. Você ouviu? O Dalton vai se casar comigo. 

Anja pula em sua cama para comemorar o seu novo plano

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Anja pula em sua cama para comemorar o seu novo plano.

> > > Continua . . . 



Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Onde histórias criam vida. Descubra agora