— Eu vou matar aquele projeto mirim de homofóbico!
Robert gritava agora que Robert e ele já estavam no hospital após receberem a ligação da escola avisando sobre o acidente de Bela Flor.
— Amor, eu já fui examiná-la – Reinaldo Ricardo o dizia sempre sendo aquele quem tentava trazer o equilíbrio e a paz. – Ela está acordada, está bem. Ela só teve alguns arranhões com a queda.
— Mas podia ter sido grave, amor! Não! Chega! Eu vou jogar aquele moleque de um barranco também pra ver se ele acha gostoso.
— Robert, você está querendo combater ódio com mais ódio e não é assim que vai funcionar.
— Vamos tirar a nossa filha daquela escola!
— Não, nós vamos continuar insistindo e batendo na mesma tecla de aceitação para que a nossa filha pare de ser rejeitada só porque tem dois pais homossexuais.
— Ai, você me irrita às vezes!
— Por que eu falo verdades? Sim, as verdades são dolorosas de se ouvir, mas quer saber? Elas são muito necessárias – e após dizer Reinaldo Ricardo apenas abraçou o seu amado Robert que agora chorou com o rosto apoiado em seu ombro.
No dia seguinte, Betinha levou a menina Cincinata até à clínica de Reinaldo Ricardo onde ela foi examinada pelo doutor Benjamin. Agora Cincinata aguardava no corredor enquanto Betinha tinha aquela conversa particular no consultório de doutor Benjamin para ter o resultado dos exames.
— Me fala em que passo está essa maldita gravidez, Benjamin.
— A menina já está com uma gestação de 16 semanas.
— Meu Deus.
— Sabia que já teve o caso de uma menina de 6 anos que engravidou?
— Isso é doentio.
- É um caso famoso no mundo da medicina. Eu estudei isso na faculdade. Lembro-me de alguns detalhes agora. O nome dela era Lina Medina. Vivia em algum país da América do Sul, acho que isso foi nos anos 20 ou 30. Ela foi esse caso raro de começar a menstruar de forma tão precoce e por isso aos 6 anos ela foi abusada pelo seu irmão que sofria de problemas mentais e acabou engravidando.
— Ela teve o bebê?
— Ela teve o bebê.
— Benjamin, eu não sei o que eu faço. Eu estou sentindo como se o chão tivesse desaparecido debaixo dos meus pés. Isso é tudo feio demais. Como pode existir esse tipo de gente nesse mundo?
— Converse com ela. Converse com a menina.
E ao voltar à sua mansão com Cincinata, Betinha seguiu o conselho do doutor Benjamin.
— Cincinata, você é ainda é só uma menina. O que aquele homem fez com você foi... Horrível. Nunca deveria ter acontecido. E por mais que eu acredite que você não tem ainda nem um pouco da maturidade necessária para tomar uma decisão desse tipo, eu preciso...
— Você quer que eu diga se quero ter o bebê ou se quero que tirem ele antes de dentro de mim – Cincinata disse, mas não olhava Betinha nos olhos, ela tinha vergonha em sua voz e cabeça baixa.
— Sim, meu anjo. Estamos falando sobre escolhas, sobre aborto... Sobre todos esses assuntos complicados. Mas eu só quero que você tente ouvir o que o seu coração diz. O que você sente?
— Eu não sei, eu... Eu posso esperar só mais alguns poucos dias e então te responder?
— Claro, meu amor. Claro, meu anjo – e Betinha abraçou a menina, a confortou o máximo que podia.
— Sou eu – friamente, Betinha disse mais tarde ao telefone com o seu pai.
- Ô, minha filha! Finalmente, hein. Estou há esse tempão todo tentando falar contigo e você não me atende. Poxa! Já achava que tinha deixado o seu velho de lado e logo agora que eu voltei pra sua vida. Vem me ver, filha. Eu preciso de dinheiro. Traz dinheiro pra mim. Eu preciso comprar a minha cachaça, minha pinga, as minhas coisinhas.
— Não, eu quero que o senhor venha até aqui na minha casa.
— Ah, mas por que você...?
— Olha aqui, é pegar ou largar. Eu estou ocupada, estou sem tempo. O senhor vem e eu dou bem mais do que os R$2.000 de antes.
— Bem mais, é?
- Apenas venha logo – e Betinha desligou.
Ela olhou então para os policiais que já estavam ali na sua sala, ao seu lado, todos esperando para a emboscada ao foragido Brunão.
Do outro lado da cidade, a prostituta assassina Carla atacava novamente. O seu alvo dessa vez foi um gringo, um turista que veio da Califórnia. Carla esfaqueou o homem e roubou uma quantia de milhares de dólares dele. Voltou para a sua suíte no Copacabana Palace, tomou banho para se limpar do sangue da vítima, queimou as roupas que usou para que não existissem provas e depois voltou a beber, a transar, rir e se divertir.
— Filha, eu vim buscar o meu dinheiro e...
Brunão já entrou falando, mas parou assustado ao se deparar com todos aqueles policiais na sala. Brunão ainda tentou correr, fugir, mas os policiais pularam sobre ele o algemaram.
— Betinha, minha filha, mas o que é isso? Por que armou essa pra cima de mim? Eu não mereço isso. Eu não fiz nada pra merecer isso.
— Escuta bem... – Betinha foi dizendo enquanto se aproximava dele devagar. – O senhor sabe muito bem o que fez e eu só não encho essa tua cara com os tapas que tanto merece agora mesmo, porque apesar do senhor ser esse montante de lixo, infelizmente, muito infelizmente, nada muda o fato de que eu tenho o teu sangue correndo nas minhas veias, que o senhor é o meu pai e um destino de muita infelicidade e desgraças é o que aguarda alguém que se atreve a bater na própria mãe ou no próprio pai. Então é só por isso que eu não faço, porque merecer, o senhor até que merece. E merece muito!
— Já podemos levá-lo, senhora Bette? – um dos policiais que segurava Brunão perguntou a Betinha.
— Então é assim, Betinha? É assim que vai ser, minha filha? Vai ter coragem de mandar para ir apodrecer dentro de uma cela de cadeia o teu próprio pai?
E agora Betinha só ficou refletindo sobre o que realmente queria fazer.
Um dos policiais que aguardam para levar Brunão para a prisão agora, mas... Qual atitude Betinha tomará no final das contas em relação ao seu próprio pai?
> > > Continua . . .
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Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200
Romance- Indicado ao 1º Prêmio Wattpad Brasil ( #WBr2018 ) - 2 indicações ao ADA2018 (Prêmio Da Academia De Artes Literárias) Betinha é uma jovem que vende vassouras pelas ruas para garantir a compra da sua passagem para uma viagem internacional. Ela plane...