Capítulo 71 - Garfo

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- Ei! Ei! Ei! Mas que circo é esse na minha casa, porra?! – Cachorro Brabo desceu a escadaria gritando com a sua voz poderosa por que via Betinha entrar amparando Binho no seu ombro, ele que tinha sangue em sua testa.

- O bêbado aqui acabou indo parar na frente do carro. Você queria que eu o deixasse lá?

- Era só o que me faltava... – Cachorro Brabo disse enquanto Betinha o levava para a sala.

Betinha constatou que Binho havia sofrido apenas um corte na testa quando foi atingido pelo carro e caiu com a cabeça no chão levando uma pancada. Betinha então limpou o ferimento, fez um curativo, fez café bem forte e serviu para Binho, curando assim a sua bebedeira. Logo ele estava ali, sentado em frente a ela, meio curvado, todo envergonhado.

- Obri--

- Não me agradece! – Betinha gritou para ele, irritada. – Eu odeio você, vou odiar pra sempre e espero que saiba disso. Você enganou a coitada da minha mãe pra arrancar dinheiro dela, dinheiro que ela nem tinha e foi por culpa dessa tua mentirada que ela acabou se endividando com agiota e foi essa dívida que acabou com a minha vida. Então isso que você fez eu nunca vou esquecer nunca!

- Então por que me ajudou depois do atropelamento? Por que não me deixou lá sangrando?

- Porque eu não sou um bicho, uma carcaça que só anda por aí sem alma, sem um pingo de bondade no coração igual a você!

- Betinha, eu não sou mau.

- Como se eu acreditasse...

- Betinha, eu falo a verdade. A ideia toda de enganar a dona Eldora foi da Tábata.

- E você aceitou participar da armação! VOCÊ ACEITOU! Binho, a vida é feita de escolhas. Se um dia você acorda e se vê no lugar mau ou no lugar bom, no paraíso ou na pior... Você só chegou até ali pelas suas próprias escolhas. Aceita isso.

- Então eu peço desculpas. Eu já fiz tanta besteira nessa vida e nunca tive a chance de pedir desculpas pra ninguém, então eu te peço agora... Desculpa.

Betinha só observou. Refletiu.

- Eu não tenho que desculpar nada e nem ninguém. Eu não sou Deus.

- Eu estou na pior – e Binho começou a chorar feito um menino.

- Porque quer! Vai mesmo se afundar porque aquela vagabunda da Tábata trai você? É. Todo mundo do bairro já sabe e fica falando. Vai amar a si mesmo, vai fazer algo por você, esquece aquela ratazana. Reabre o seu bar, o seu bordelzinho com as suas jogatinas lá, volta a ser o dono de negócios que era anos atrás antes de se envolver com ela diaba. A vida é uma só.

E então Binho ficou pensando naquilo. Reabrir o seu negócio. Betinha até podia não tê-lo perdoado, ainda odiá-lo, mas certamente havia o dado um conselho valioso.

Tábata chegou à clínica onde ela trabalhava como faxineira. Chegou sem o uniforme, usando um vestidinho colorido de seda, curto, esvoaçante. Ela tinha o nariz empinado.

- Você perdeu todo o juízo? - a gerente da clínica logo veio até ela brigando. – Não apareceu para trabalhar ontem e hoje me aparece aqui pela tarde?! O seu horário de entrada é às oito da manhã! O que está pensando?

- Pensando não, minha filha! Eu estou é decidindo mesmo. Eu me demito. ESTOU FO-RA! Pega esse empreguinho de faxineira e enfia... Enfia onde quiser. Agora eu tenho quem me banque do bom e do melhor e nunca mais vou ficar me ajoelhando em banheiro de clínica pra ficar lavando merda de madame. Agora EU SOU A MADAME!

E após anunciar o seu pedido de demissão, Tábata deu um verdadeiro show. Derrubou tudo no balcão da recepção, falou muito alto, todos dentro da clínica olhavam. Tábata virou a lixeira bem no meio do saguão de espera e então saiu rindo.

Assim que retornou para o hotel onde estava hospedada, Tábata colocou um biquíni vermelho e subiu para o terraço onde ficava a piscina. Ela só ficou lá, pegando sol, deitando em uma cadeira espreguiçadeira, pedindo vários drinks e aproveitando muito feliz a sua nova realidade.

Enquanto Tábata vivia a vida de seus sonhos que era inteiramente custeada por Lorenzo, Dom Lazar e Verônea permaneciam morando na rua e se ajeitavam como podiam. Dom Lazar havia construído uma cobertura de papelão e era onde ele dormia ao lado de Verônea. Ela, por sua vez, continuava fazendo as suas apresentações de contorcionismo na calçada, mas as pessoas não estavam mais dando dinheiro como antes. Eram tempos muito difíceis para os dois.

Betinha tentava se esquecer de toda a conversa com Binho e foi até a cozinha. Ela abriu a geladeira, pegou uma jarra cheia de suco de maracujá e foi quando Geraldinho entrou ali.

- Sentiu saudades de mim? Já fazia um tempo que eu não te procurava, não é mesmo? – Geraldinho, o homem negro, tão musculoso se aproximava dela perguntando.

- Você não morreu ainda? – foi como Betinha respondeu a ele.

- Eu ainda vou ter você – e Geraldinho agarrou Betinha, a jogou contra a parede, pressionava o seu corpo contra o dela e Betinha podia sentir o grande pênis dele, ereto. – O dia em que eu te pegar de jeito, eu vou...

Mas Betinha esticou o seu braço livre, pegou o garfo sobre o balcão e enterrou o garfo no músculo do braço de Geraldinho, perto da altura do ombro.

Ele gritou de dor e Betinha saiu correndo.

- Eu ainda vou te pegar, sua gata selvagem – Geraldinho falava sozinho na cozinha, agora pressionando a mão contra o ferimento que sangrava no seu braço – Você vai ser toda minha.

Bem no cantinho, bem escondido estava o detetive Jocler que havia visto toda a cena. Ele ligou para Anja.

- Eu acabo de descobrir um cara aqui que é completamente obcecado pela Betinha. Ele a ataca e ela o rejeita. Ele parece ser capaz de tudo. De tudo – Jocler sussurrava para Anja.

- Alguém que eu posso usar como o meu aliado? Interessante... Muito interessante... – Anja disse do outro lado da linha.

Dona de uma grande beleza, Betinha teve que aprender desde muito cedo a se defender sozinha dos homens que sempre a assediaram

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Dona de uma grande beleza, Betinha teve que aprender desde muito cedo a se defender sozinha dos homens que sempre a assediaram. 


>>> Continua ...

Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Onde histórias criam vida. Descubra agora