Capítulo 82 - Enfermeira

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Verônea não teve coragem. O seu amor por Dom Lazar era maior do que o seu senso natural para o que era certo ou errado e por isso, mesmo após tê-lo visto matar um homem à sua frente, ela não gritou para chamar aquele policial tão próximo e entregá-lo. A polícia logo partiu, encerrou a sua ronda e Dom Lazar saiu de seu esconderijo atrás das sacolas de lixo com Verônea, a levou pela mão, voltavam para o seu cantinho onde viviam na calçada debaixo da cobertura de papelão. Para Dom Lazar seria fácil fingir que nada havia acontecido, mas Verônea precisaria se esforçar para limpar aquelas imagens de sua mente.

- Então você é um foragido? – pela manhã o detetive Jocler (fingindo ser o capanga Jerônimo) perguntava para Cachorro Brabo, tentava entender quem era ele de verdade. Conversavam só os dois no salão.

- Não, foragido não, porque eu nem nunca fui preso. Mas sou procurado.

- E como isso funciona?

- Funciona que eu dou os meus pulos por aí, até faço umas viagens breves aqui pelo Brasil mesmo pra tratar dos meus negócios de agiotagem em outras áreas, mas... Sempre com cautela. Não possa dar tanta sopa, tanto mole. Até tenho passaporte falso, mas mesmo assim não me arrisco em ficar viajando pra fora. Se eu estou bem e na minha até hoje é porque eu realmente tomo cuidado.

- Então é sortudo, isso sim. Se já vive há quase dez anos sendo procurado pela polícia e nunca pegaram você e você continua bem aqui, com a sua vida de luxo, seguindo com os seus negócios. Mas sabe o que eu não entendo? E as gigantescas festas que você dá? E a esposa modelo famosa que você tem? Como essas coisas não expõem você?

- Betinha sempre sai sozinha nos jornais e revistas. Não sabem quem é o marido dela. As festas... Mesmo que tenha alguém pra lá de famoso aqui... O que acontece aqui... Fica aqui. E também a quem estamos enganando? É claro que tem policial que sabe que é aqui onde eu vivo. Sabem, sabem. Mas... É Brasil, não é? Eu molho a mão de um montão de policial todo mês e permaneço intacto.

Concordando com a cabeça, Jocler deixou o salão e encontrou Eldora no corredor.

- Meu amor – ele disse e deu um caloroso abraço na senhora Eldora – Você está bem?

- Só fico bem quando a minha filha estiver de volta, recuperada.

- Ela vai melhorar, vai. Nossa, isso que aconteceu com ela foi tão horrível. Eu nem consigo... Eu nem...

- Meu Deus, Jerônimo. Se acalme. Quem ouve você reagindo desse jeito diz até que você está se culpando porque foi o responsável pelo tiro que a Betinha levou – Eldora disse e abraçou. Tão ingênua.

Jocler apenas encarava a parede. Pensativo.

Aquela noite era uma grande noite. Um novo negócio abrindo no bairro era sempre motivo para movimentação e ainda mais quando se tratava da reabertura de um negócio que havia feito tanto sucesso por ali no passado.

Estava oficialmente aberto. "O Buraco Do Binho". Esse era o nome do bordel-cassino que Binho reabria hoje. Claro que o lugar lotou logo naquela primeira noite de reabertura. A maioria dos capangas de Cachorro Brabo pediu para tirar folga naquela noite para estar lá. Agora era o único bordel e o único cassino de toda aquela região. Por dentro, tudo era iluminado de vermelho, com aquelas mulheres andando seminuas para baixo e para cima, cantinho para apostas do jogo do bicho e máquinas de cassino espalhadas por ali. O sucesso era tanto logo na reabertura que tinha até cantor famoso de sertanejo e jogador de futebol famoso ali no "Buraco Do Binho". Binho olhava para tudo em volta, para a agitação, para o sucesso das bebidas que não paravam de ser compradas e mulheres que não paravam de ser solicitadas até aos quartos. O dinheiro entrava sem parar. E Binho havia reconstruído todo aquele lugar com o seu próprio suor, as suas próprias mãos. Há tempos não se sentia tão orgulhoso de si mesmo.

Enquanto no bairro pobre o bordel-cassino fervia, na quietude do hospital, Betinha (ainda em coma) recebia uma visita que entrava agora bem devagar em seu quarto. Não era Cachorro Brabo ou Eldora ou Dalton ou Robert. Era uma enfermeira, mas aquela enfermeira era Anja.

Vestida toda com a típica roupa branca (até a bolsa que ela trazia era branca), Anja fechou a porta devagar e se aproximou de Betinha, deitada na cama.

- Nem pra morrer você presta, não é mesmo, traste? – Anja perguntou para a adormecida Betinha. – Bem, burrice sua. Eu li na internet que nem é tão sofrido assim morrer com um tiro na cabeça. Os médicos dizem que você apaga na hora, como se levasse um susto enorme que faz você desmaiar e daí morre sem nem sentir nada. Mas já que você não quis aproveitar logo essa oportunidade para sair do meu caminho... A gente resolve isso de um jeito mais difícil e muito mais doloroso então. Pobre não gosta mesmo de facilitar as coisas, não é?

Então Anja abriu a bolsa branca que trazia e ela tirou lá de dentro uma cobra extremamente venenosa. Ela foi aproximando a cobra do pescoço de Betinha.

- Não é incrível as coisas que dá pra conseguir em um estúdio de emissora de TV? Tem desde roupa de enfermeira até essas lindas cobras bem vivas e peçonhentas.

Anja fez questão de apertar a cabeça da cobra e fez o animal abrir bem a boca agora. O veneno até já escorria um pouco de suas presas afiadas. Anja iria fazer a cobra abocanhar o pescoço de Betinha e envenená-la para a morte certa de uma vez.

 Anja iria fazer a cobra abocanhar o pescoço de Betinha e envenená-la para a morte certa de uma vez

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A cobra que Anja segura tão próxima do pescoço de Betinha. 


>>> Continua ...


Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Onde histórias criam vida. Descubra agora