Capítulo 52 - Saudade

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Tudo não passou de uma turbulência e logo o avião estava imóvel outra vez. No instante em que tudo voltou ao normal, a calmaria se instaurou, Betinha foi logo se afastando de Dalton, fugindo de seu abraço protetor, irritada.

— Está vendo o que você me fez fazer? – Ela brigou com ele.

— Eu fiz?! Betinha, volta pra cá, vem pra perto de mim. Eu quero você aqui, nos meus braços. Eu preciso falar...

— Ah, falar o quê? Vai me contar como foi provavelmente a sua linda esposinha Anja que o convenceu a entrar no avião?

—Ah, é assim? E você, por acaso? Quem teria te convencido? O seu marido traficante?

— Eu não me casei com um traficante!

— Claro. Aposto que o cara deve ser praticamente um santo.

—Santo ou não, ele tem uma qualidade que está em falta na maioria dos homens hoje em dia: saber o que significa a palavra "não".

Betinha disse aquilo encerrando a conversa temporariamente. Os dois cruzaram os braços, contrariados, e olharam para direções diferentes. Estavam longe de conseguir se entender.

Enquanto Dalton viajava, Anja voltava a andar pelas ruas do centro do Rio de Janeiro à procura de trabalho como atriz. O seu celular tocou dentro de sua bolsa cara. Uma mensagem. Ela foi conferir toda esperançosa do que se tratava, mas era só mais uma resposta negativa. Anja estava no auge da sua irritação e ainda foi obrigada a olhar para cima e ver aquele outdoor glorioso de Betinha no alto do prédio que a fazia se lembrar do quanto ela estava por baixo enquanto Betinha ia na direção contrária alcançando o sucesso. Anja entrou no primeiro beco escuro que viu e ao fim dele encontrou um trio de moleques que pichavam os muros ilegalmente.

— Ei, ei. Calma! Não precisa correr! Eu não sou nenhuma policial disfarçada. Vem cá. Anda logo! Venham cá – Anja disse e os três meninos assustados vieram. – Eu pago R$20 pra cada um se vocês toparem fazer um trabalho bem legal e especial pra mim.

E naquela mesma noite, tarde da noite, assim foi feito. O trio de moleques delinquentes que já estava acostumado a escalar grandes alturas para pichar, invadiram o prédio, passaram através da janela lá no alto, por trás do outdoor e rasgaram a linda e enorme foto de Betinha de cima a baixo, deixando completamente destruída. Anja foi conferir o resultado bem cedo pela manhã. Enquanto quem passava e olhava lamentava o vandalismo no lindo outdoor, Anja sorria. Era algum alívio para ela em meio a sua onda de azar e rejeição.

Enquanto Anja saboreava o resultado de mais um de seus planos maus e bem arquitetados, Geraldinho aproveitava que Cachorro Brabo estava ocupado com os capangas no salão do seu trono de couro e foi até ao quarto onde ele dormia com Betinha. Sem qualquer pudor, Geraldinho invadiu o closet do casal, começou a abrir gavetas, até que encontrou aquela que guardava as peças íntimas de Betinha. Geraldinho começou a cheirar as calcinhas dela, colocou duas dentro do bolso da sua calça jeans e saiu.

Nem Betinha e nem Dalton conseguiram dormir por um minuto sequer dentro do avião na noite que se passou. Agora Dalton comia o café da manhã servido pela aeromoça, mas Betinha continuava se recusando a aceitar qualquer comida.

— Você precisa comer algo, mocinha teimosa – Dalton disse para ela, todo doce, comendo o seu pãozinho com queijo.

— Não me faça repetir que eu estou tão nervosa de ser obrigada a estar junto com você aqui que não está passando nem um grão de comida pela minha garganta. Além do mais, comida de avião é horrível. Tem gosto de bunda.

— Ah, é? E para saber disso você já comeu muitas bundas, por acaso?

Dalton riu tão bem-humorado ao dizer aquilo. De repente Betinha tinha vontade de rir com ele também. Ela havia esquecido quanto ele era alegre, divertido, mas se esforçou para manter a sua fachada séria e zangada.

—Ei... Você tem que me dar crédito aqui ao menos por uma coisa. Está aí gastando tanto tempo em me odiar que até esqueceu seu medo de avião. Eu não mereço um "obrigado, Dalton" por isso? - Ele perguntou, mas recebeu mais silêncio dela em resposta. – Betinha, agora falando sério... Eu senti tanta saudade sua. Tanta, mas tanta, daquele tipo de saudade que a gente acredita que vai esmagar o nosso coração e não vamos seguir mais vivendo. Seja sincera e diga que não sentiu saudade de mim com a mesma intensidade. Diga.

Betinha então se virou para ele o olhou com carinho pela primeira vez naquela viagem, mas foi também nesse mesmo instante que oito homens vestindo preto se levantaram dos assentos lá da frente e tomaram os corredores assustando todos os passageiros. Os homens rasgaram as suas roupas pretas na frente de todo mundo revelando o que usavam por baixo: roupas árabes com armas e bombas amarradas em volta de suas cinturas. Os passageiros nem precisavam entender a linguagem estrangeira que eles gritavam quando chutaram a porta do piloto e invadiram a cabine para entender que situação horrível agora estavam vivendo: o avião estava sendo sequestrado por terroristas.

Dalton segurou a mão de Betinha. Estaria ali por ela, daria a sua própria vida para defendê-la, mesmo que ela se recusasse. 

Os terroristas espalhando o verdadeiro terror dentro do avião

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Os terroristas espalhando o verdadeiro terror dentro do avião. Betinha e Dalton sabem que as suas vidas agora correm um sério risco. 


>>> Continua ... 


Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Onde histórias criam vida. Descubra agora