TINHA QUE FUGI COM ELA

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Felícia

Estávamos na casa do Alfa, eu e minha família. Não podíamos ir embora, pois essas eram as ordens do Supremo Alfa. Ele acreditava que, mantendo Lunna ali, ela estaria segura e que seu sobrinho, o novo Alfa, não teria coragem de fazer nada contra ela. Ele estava certo, mas algo mudou. O Supremo Alfa saiu para caçar, e eu estava cuidando de Lunna. Depois de uma semana, ela finalmente conseguiu se levantar sozinha e foi tomar banho. Deixei-a com Elissa e fui buscar água. Ao passar pela sala, vi toda a minha família assistindo televisão. Continuei em direção à cozinha, mas então o ouvi. Ele, o Alfa, estava dizendo que iria ao quarto da minha irmã. Eu não podia deixar isso acontecer.

Corri para a sala, expliquei rapidamente o que ouvi para minha mãe e meu pai. Eles me disseram para correr para o quarto e nos trancarmos lá enquanto meu irmão iria atrás do Supremo Alfa. Corri até o quarto, fechei a porta e olhei para Lunna, que acabava de se arrumar para dormir.

- Nossa, que susto, Felícia! Por que isso? O que houve? Cadê a água? - Lunna perguntou, surpresa.

Lissa percebeu que algo estava errado e me encarou, perguntando o que havia acontecido para eu estar tão assustada. Lunna também percebeu e já pulou da cama, com medo.

- Diga, Felícia, o que está acontecendo? - Lissa perguntou, tentando manter a calma.

- Precisamos nos acalmar e nos preparar... - respondi, a voz tremendo.

- Para quê? - Lunna me perguntou, o medo já evidente em seus olhos.

- Ele... ele está vindo - respondi, e as duas me encararam.

- Como assim? Quem está vindo? - Lunna perguntou, confusa. Lissa, no entanto, já sabia de quem eu estava falando. Ela correu para a cômoda e a empurrou contra a porta, depois fez o mesmo com o sofá.

- Me ajuda, Felícia! - Lissa ordenou, e eu corri para ajudá-la.

- Vocês sabem que isso não vai adiantar. Precisamos nos esconder - disse Lissa, determinada.

- Calma, papai disse que o Supremo Alfa logo chega. Ele mandou nosso irmão atrás dele - Lunna estava assustada, chorando.

Enquanto ajudava Lissa, parei para pensar no quanto fui cruel com Lunna no passado. E agora, aqui estava eu, tentando protegê-la. Meu Deus, quantas vezes a xinguei, quantas vezes pedi para ela ficar longe de mim, quantas vezes disse que a odiava. Quantas vezes coloquei o pé para ela cair, apenas para agradar meus amigos. E agora, estou aqui, sem saber o que fazer, sem saber como protegê-la. Eu a amo. Ela é minha irmã. Preciso protegê-la. Devo isso a ela. Eu sempre via ele rondando-a, sempre a maltratando. Mas, no fundo, percebia que havia algo mais. Quantas vezes eu o vi sorrindo ao vê-la fazer algo engraçado, mesmo sem perceber. Achei que era coisa da minha cabeça, porque via ele a maltratando. Fiquei confusa com tudo que aconteceu. Ainda não acredito que ele destruiu a vida dela. Mas... e se ela realmente for a companheira dele? Meu Deus, ela não merece isso. Preciso salvá-la das garras dele.

- NÃO! EU NÃO QUERO VER ELE! EU NÃO QUERO! PREFIRO A MORTE! - Lunna gritou, em desespero.

- Calma, Lunna, calma. Ele não vai entrar - disse Elissa, tentando acalmá-la enquanto a abraçava.

- Ele vai entrar, sim - afirmei.

- Cala a boca, Felícia! - Lissa me repreendeu.

- Não vou calar! Ele disse lá embaixo que tem certeza de que Lunna é sua companheira e que ninguém pode tirá-la dele. Ele vai entrar aqui de qualquer jeito e quer olhar bem nos olhos de Lunna.

- NÃO! ELE NÃO! - Lunna gritou novamente.

- CALMA! - Lissa gritou, tentando manter a situação sob controle. - Precisamos fugir. Vamos sair pela janela e correr para bem longe.

- Eles vão nos achar, pelo nosso cheiro - disse Lissa, preocupada.

- Passaremos na casa da bruxa e faremos o mesmo que Lunna fez. Vamos esconder nosso cheiro e salvá-la dele - sugeri, tentando manter a esperança.

Foi o que fizemos. Saímos pela janela e corremos até a floresta, seguindo até a casa da bruxa. Ela abriu a porta e nos encarou.

- Vocês devem ser rápidas, se realmente querem fazer isso, ou ele virá pelo cheiro de vocês - avisou a bruxa, com uma expressão grave.

- Obrigada por nos ajudar - disse Lunna, grata.

- Eu já disse a você que não pode fugir do seu destino. E nem vocês, meninas. Vocês estão ligadas. O dever de vocês é protegê-la - disse a bruxa, olhando para nós com seriedade.

- Como assim? - perguntei, confusa.

- Você vai descobrir - respondeu a bruxa, enigmática.

- Precisamos ser rápidas - reforcei, tentando afastar o medo.

Já fazia cinco horas que estávamos ali dentro. A bruxa disse que nos ajudaria, que deveríamos ficar ali por alguns dias até que tivessem certeza de que não estávamos mais por perto, na floresta. Eu estava com medo. Sabia que, assim que ele nos encontrasse, iria querer nos matar por termos ajudado Lunna a fugir. O pior é que eu sei que vou morrer. Talvez Elissa tenha sorte, por ser irmã dele.

Olhei para Lunna, que parecia mais aliviada por estar protegida por um feitiço. Quando Lunna chegou naquele baile sem cheiro, fiquei olhando para ela, pensando na tolice que ela fez. Mas não daria o gosto de dizer a ela que era boba, que sempre foi linda, que nenhum lobo teria a coragem de rejeitá-la. Que seu coração não merecia isso, porque era puro e cheio de bondade. Queria dizer a ela que, mesmo tentando se esconder de seu companheiro, ele a encontraria. Porque seus lobos se achariam e fariam de tudo para uni-los.

Lunna adormeceu, e eu sabia que precisava descansar também. Fiquei olhando para ela dormindo, passando a mão em seus cabelos, lembrando de quando éramos crianças. Sinto saudades daquela época, quando ficávamos juntas, sempre unidas, brincando e cuidando uma da outra. Até ela conhecer Elissa... Foi quando comecei a me meter em encrenca por causa da amizade delas. Lunna dizia que nós duas deveríamos ter Elissa como amiga, mas eu não quis, por ciúmes. Acabei me afastando e fazendo o que fiz com ela. Agora, olhando para ela ali, percebo o quão egoísta eu fui, nao so com ela como também com a Elissa. Continuo passando a mão em seus cabelos e vejo o quanto fui tola. Deveria ter ficado mais tempo ao lado dela. Se eu não tivesse me afastado, talvez tudo fosse diferente. Talvez nada disso tivesse acontecido.

Gordinha e seu supremo alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora