"Porque eu posso ser má,
mas, eu sou muito boa nisso [...]"
(Rihanna - S&M)
Limpei a sujeira que o pacote de pipoca fez na mesa e fiquei na ponta do pé para jogar o saco vazio na lixeira em cima da pia. Ainda estava com fome, mas não diria isso para mamãe, já foi difícil conseguir essa pipoca. Queria poder tomar banho, mas a água não daria para dois banhos no mesmo dia, tinha que me contentar em fazer isso amanhã cedo. Sentia o pescoço grudando por ter brincado a tarde inteira com o garoto da casa ao lado, nossos corpos caíram diversas vezes e até esfolei o joelho, recebi uma bronca de mamãe também.
Olhei pela janela da sala e pude ver o quintal da casa dos vizinhos, a irmã dele estava ajoelhada na grama com algumas amiguinhas. Não o vi. Queria ter um quintal enorme daqueles, quando disse isso a mamãe ela chorou um pouco e no outro dia tinham pedaços de grama remendados na frente da nossa casa.
- O que está fazendo? – ouvi sua voz vindo da sala e caminhei até lá, pegou-me no colo e nos sentou no pequeno sofá – Ainda está com fome, não é?
- Não, mamãe – menti enquanto mordia o lábio.
- Ah, Lottie – beijou minha cabeça – Seu pai irá nos ajudar.
- Porque ele não está aqui conosco?
- Não contei para ele sobre você – falou com os olhos pequenos agora – É nosso segredo, querida.
- E se ele não gostar de mim? – enrolei os fios do seu longo cabelo preto cacheado em meus dedos.
- Irá amar você – assentiu com a voz trêmula – Quem não amaria você?
Senti o sono chegando conforme me ninava, meu corpo de uma garotinha de 05 anos amolecendo em seus braços, mas meu estômago começou a roncar e não conseguia tirar a atenção disso. Ainda estava com fome mesmo. Até podia ouvir as risadas na outra casa, femininas e alegres enquanto encostava a cabeça ainda mais no ombro ossudo de mamãe. Porque ela estava tão magra?
Percebia que seu corpo emagrecia cada vez mais, não sei contar quanto tempo isso fazia, mas, provavelmente, desde que parou de deixar-me a noite trancada em casa sozinha para só voltar no outro dia com uma expressão cansada e triste.
Estava me sentindo tão pequena agora, não sabia absolutamente nada do que aconteceria nos dias seguintes, o amanhã era tão duvidoso. Queria que ela dissesse alguma coisa que nos fizesse morar numa casa como a do meu amigo – o único também – só queria poder comer um pouco mais e tomar banho três vezes ao dia.
Também queria ir ao shopping e estudar numa escola melhor, as vezes não tem aula e tenho que ler sozinha na pequena biblioteca improvisada. Não ia reclamar se tivesse sapatos novos ao contrário dos meus chinelos desgastados. Eu tinha avós? Quer dizer, aquelas pessoas mais velhas, com cabelos brancos e olhares sábios e acolhedores, mamãe nunca me disse se existiam aquelas pessoas para mim.
YOU ARE READING
Good Enough - 1ª Temporada
ActionAbandonada fisica e emocionalmente pelos pais, a autoritária e maior detetive criminal de Londres, Charlotte Di Angelo, vê seu mundo mudar totalmente após rejeitar com violência as iniciativas sexuais do Promotor de Manchester, na Inglaterra. Seu pa...