Unhappiness

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"Você pode ver se prestar atenção nos olhos dela

Sei que ela é corajosa, mas é uma prisioneira por dentro

Com medo de falar, mas ela não sabe o por quê"

(Little Mix - Little Me)

No meu primeiro dia de aula, a professora perguntou a cada aluno o que para ele era a felicidade. Enquanto eu ouvia vários relatos do que aquela palavra significava na mente dos meus colegas pensava no que responderia. Quando me senti realmente feliz? Talvez no dia em que mamãe tinha conseguido trazer para casa, depois de uma noite inteira fora, dois hambúrgueres.

Sei que me senti feliz naquele dia porque tudo ao meu redor parecia brilhar, nunca tinha provado algo como aquilo, mamãe parecia mais sorridente naquele dia, uma expressão de satisfação no rosto a me ver comendo. Foi isso o que eu disse na sala, recebi alguns olhares estranhos e não entendi o porquê, perguntei-me o que seria a Disneylândia quando uma menina riu e disse que seu dia predileto tinha sido quando tinha ido lá.

Embora aquele tenha sido um, inocentemente, dia feliz, mais algum tempo depois e responderia que felicidade era quando podia brincar com meu vizinho, pois nossas tardes eram repletas de risadas altas e não trocaria àquelas horas por outras.

E, então, o que seria o oposto da felicidade? Para aquela pergunta eu tinha milhões de respostas na época, disse a minha professora que era quando nós não tínhamos água em casa ou quando faltava energia e, ainda, os dias em que não tínhamos comida em casa. Lembro-me da reação de todo mundo ali, alguns chochiraram entre si e algo me dizia que era um dos motivos de mamãe ter sido chamada na sala da diretora no outro dia.

Mas eu estava errada demais. Não sabia o que era estar infeliz. O buraco em meu peito agora é a prova disso. Não conseguia respirar direito, meus olhos ardiam e estavam fundos, os soluços viam com tamanha facilidade que nem me surpreendia, nenhuma palavra saia da minha boca, pois, quando tentava, só conseguia lamentar. Chorar e chorar.

Mamãe tentou me acalmar quando andei porta a fora e gritei para o carro que se afastava cada vez mais, tentei correr atrás dele, mas minhas lágrimas não me deixavam enxergar o caminho. Ele não olhou para trás, não diminuiu a velocidade. Soluços escaparam do interior do meu peito, eram doloridos, nunca havia sentido aquilo, aquela sensação.

Não era boa o suficiente para ele, para meu pai. Tinha ido embora sem ao menos ter me visto, não iria para Londres, não teria uma família. A dor era quase palpável, embrulhei-me numa bola enquanto caia no chão, o vestido novo se sujando por causa da poeira, meu grito foi involuntário, não controlei o modo estrangulado que saiu da minha boca, mamãe pegou-me no colo em seguida, devia ter limpado o sangue na boca antes de ter vindo atrás de mim.

Tirou minha roupa sem falar nada e deixou-me sozinha por alguns segundos, olhei meu reflexo no espelho e não vi nada de bom ali, nada que pudesse ser aproveitado, nada que despertaria admiração em alguém. Porque eu cheguei a acreditar que poderia dar certo?

Minha mente parecia flutuar, não aguentava o sabor amargo que era ser inútil, dispensável. Nunca fui prioridade na vida de alguém, até mamãe já tinha sido muitas vezes e me deixado sozinha em casa. Meu vizinho tem outros amigos nos quais são completamente diferentes de mim e, ao mesmo tempo, parecidos com ele. Meu pai, bem, ele nem ao menos perguntou meu nome.

Belisquei-me no braço, era uma tentativa de fazer a dor emocional parar, queria que a física fosse maior. Fiz novamente e deixei um roxo em meu braço, abri a palma da mão e a estralei em minha bochecha, minha cabeça virou para o lado e mais lágrimas saltaram do meu rosto, pelo espelho podia ver a marca vermelha em minha pele. Aquilo doeu mais do que eu pensei, então fiz de novo e outra vez mais, quando mamãe voltou eu estava puxando meu cabelo, gritando comigo mesma, xingando tudo em mim que não era digno de amor.

Good Enough - 1ª TemporadaWhere stories live. Discover now