Do not lie to yourself

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"Me sinto amada quando vejo o seu rosto
Mas todas essas cicatrizes, não podem ser substituídas
Você me deixa em choque
Me atinge fortemente e eu não sei o que dizer"

(Little Mix - Towers)

De repente, além de Harry, outra pessoa começou a ocupar meus pensamentos e no fundo eu sabia que pensar em ambos era algo estúpido e masoquista. Porque pensar em Harry era como assinar um atestado de que o passado dominava a minha vida, pois, era obvio que não era mais eu quem ocupava os dias dele e muito menos as memórias e ficar contando as horas para sexta feira, no intuito de ver Jesse, era burrice.

Com tantas garotas por ai ainda não entrava na minha cabeça que tinha me chamado para sair. Quer dizer, olhando-me agora no espelho, o que tem de bonito que chame a atenção dele?

Mas, contra toda a razão que os anos ao lado de Anthony me fizeram ter, Jesse ocupava quase todo o meu dia. No colégio, seu "bom dia" era o que me fazia sorrir, as vezes me acompanhava até a sala e almoçava comigo, sentia-me uma boba por estar sorrindo junto com ele e tentava ao máximo ignorar os olhares de todos ali, Jesse havia prometido que eles logo se acostumariam, porém isso estava longe de acontecer. Até os professores faziam questão de erguer a sobrancelha quando me viam acompanhada dele.

Eu era simplesmente a aberração que Jesse Hughes sentiu vontade de conversar.

Mas, a cada segundo que ele me fazia rir imitando ou zombando das populares sem cérebro daquele colégio, me sentia cada vez melhor ao lado dele. O pensamento de que ele só queria zombar de mim ainda existia, mas a parte irracional, a que ficava boba com um elogio sobre meus olhos e o sorriso e a que corava constantemente, tomava conta de quase tudo quando estava com ele.

À noite, deitada na minha cama, é que ficava irritada por estar agindo como o que Anthony chamaria de adolescente em plena fase hormonal.

- O que você quer? – Anthony perguntou na quinta feira a noite, seu cabelo começava a adquirir alguns tons de grisalho. Ele bufou ao ver minha expressão desentendida – Preparou meu prato preferido, arrumou a casa, lavou os banheiros...

Mordi o lábio inferior – Achei que iria gostar.

Ele rolou os olhos – O que você quer, Charlotte?

- Quero sair amanhã – sussurrei e, quando ele ergueu a sobrancelha mostrando que não tinha ouvido, aumentei a voz numa súbita coragem insana – Quero sair amanhã a noite.

Então ele riu, o som gutural pareceu vim facilmente e senti vontade de chorar quando percebi que estava rindo por zombaria. Ergui o queixo e tentei permanecer firme, mas seja lá que for de tão engraçado para ele, parecia não ter fim. Ele colocou uma mão no estômago e com os dedos da outra limpou algumas lágrimas de riso que escorriam levemente.

- Ah, Charlotte – suspirou e ainda riu mais um pouco – Achei que já soubesse que é proibida de sair dessa casa.

- Isso não é justo! – queixei-me – Todos os outros adolescentes saem e eu só estou pedindo uma noite para ser como todo mundo.

- Querida – zombou – Você não é como todo mundo. Quantos deles foram abandonados pela mãe?

- Por favor, só uma noite – pedi – Só uma noite com um cara legal.

Ficou de pé e veio até onde eu estava – Você não irá sair e muito menos com um garoto. Se eu te deixar fazer isso provavelmente serei conhecido pelo pai da adolescente grávida aos 16.

Good Enough - 1ª TemporadaWhere stories live. Discover now