Good Enough - 1ª Temporada

Out Of My Life

"Eu era tão jovem
Você deveria saber melhor
Do que apenas se apoiar em mim
Você nunca pensou
Nos outros
Você só viu sua dor"

(Kelly Clarkson - Because Of You)

Ele estava assustado. A respiração saiu lenta, como se não tivesse pressa em deixá-la sair, pois, provavelmente, estava pensando numa boa desculpa para falar. Mordeu o lábio inferior enquanto erguia a coluna e levava consigo a sacolinha plástica, o cheiro da comida fresca infiltrando minhas narinas.

- Não é o que está pensando...

- É você quem está...

- Eu só queria ajudar, juro – confessou – Eu vi que estavam precisando e pensei que...

- Que eu precisava de esmola? – o interrompi e falei a primeira coisa que veio na minha cabeça porque estava me sentindo com vergonha, meu rosto queimava por saber que tudo que disse a ele em nossa "despedida" era realmente verdade. Aquela era uma das provas, até talvez a principal, para não me considerar digna de ter sua amizade.

- Não, claro que não. Pelo amor de Deus – negou veemente – Eu só queria ajudar vocês. Vi naquele dia que não tinha comida alguma em sua dispensa, pensei que poderia ajudar de alguma forma se...

- Se a sua é completamente cheia! – exclamei – Eu sou sua amiga e não alguém que está mendigando na rua! Não podia ter feito isso, não podia.

- Qual o problema em te ajudar? – deu um passo para frente – Eu só queria ser útil de algum jeito.

- Até quando isso duraria, ham? – indaguei – Eu não quero mais isso, não quero mais me sentir desse jeito quando estou perto de você.

- De que jeito? Por favor, não exagere e enxergue algo onde não tem, só fiz meu papel de amigo.

Balancei a cabeça, minha garganta ardendo por estar me sentindo tão humilhada – Não quero que isso volte a acontecer, não quero ser a razão para você perder tempo da sua vida.

- Não diga aquelas coisas de novo, por favor, não diga, eu estou lhe implorando isso. Nós dois sabemos o quão forte nossa amizade é. Eu gosto de você tanto, por favor.

- Não posso retirar nada do que eu disse – olhei em seus olhos e senti toda a dor que estava dentro do meu peito estampada no modo com que seu queixo tremia e engolia em seco repetidas vezes – Parecemos tão bobos agora discutindo por isso, mas o que será da próxima vez? Vai arrumar dinheiro para pagar minha escola? Comprar roupas para mim? Não é papel de amigo, não é. É mais do que você pode aguentar.

- Eu decido o que eu consigo suportar, okay? Não você.

- Sinto muito, leve isso com você e vá embora – apontei para comida e enxuguei apressadamente as lágrimas apressadas que caíram – Por favor, não me procure mais porque não podemos mais ser amigos.

- Não, não diga isso - seu tom de voz doía em meu coração, era agoniante – Eu estou implorando a você para não fazer isso. Pense melhor, pense em tudo que vivemos, pense em nós e as nossas brincadeiras, acha que irei conseguir passar as tardes sem conversar com você?

- Você tem outros amigos – tentei convencê-lo, mas era a mim que estava enganando, sabia disso, mas precisava que acreditasse que daquela forma seria melhor porque não era digna de estar ao seu lado, de ser a amiga que precisa – Pode passar manhãs, tardes e noites com eles, mas não comigo.