When You Lose Someone

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"Ninguém disse que seria fácil
É uma pena nos separarmos
Ninguém disse que seria fácil
Mas também não disseram que seria tão difícil
Oh, me leve de volta ao começo"

(Coldplay - The Scientist)

Eu podia ver que ele estava lutando consigo mesmo, olhava-me e buscava respirar fundo, tentava acalmar-se. A noticia deve ter caído como um baque e sua expressão era oposta a minha, enquanto parecia flutuar em êxtase ele franzia a testa e lutava para não contestar alguma coisa.

Tinha acabado de lhe falar que hoje poderia ser nosso ultimo dia juntos e claro que isso foi dito de uma forma triste, refletindo meus sentimentos nesse ponto, mas, o motivo disso me deixava contente, afinal, meu pai estava vindo e levaria mamãe e eu para Londres, moraríamos com ele, finalmente esse dia tinha chegado e não conseguia conter minha empolgação.

- Ele virá mesmo? – perguntou baixinho – Tem certeza?

Cruzei os braços com medo de ele dizer algo parecido com aquilo que tinha me magoado dias atrás – Sim.

Fechou os olhos por alguns segundos, o vento forte e frio balançando sua blusa branca e, quando os abriu, pareciam mais verdes do que nunca – Então, estou feliz por você. É o que sempre quis, não é?

Não pude conter o sorriso em meu rosto, era bom demais ter o apoio dele, era meu único e melhor amigo, saber que estava do meu lado dessa vez acalmava meu coração em meio aquela tempestade de sentimentos que estavam surgindo desde que soube que aquele dia seria nosso ultimo juntos.

Assenti – Vou sentir sua falta.

- Acredite, será como se um pedaço de mim tivesse sido levado – falou aquilo com uma naturalidade tão grande que por alguns instantes perguntei-me quantos anos realmente tinha, não parecia aquele garotinho em minha frente.

- O que iremos fazer? – perguntei com um súbito nó na garganta – Alguma ideia de como aproveitar esse dia?

- Quer ir lá para casa? Poderíamos assistir algum desenho.

- Não sei se mamãe deixaria – admiti – Podemos só ir para nosso balanço?

Estendeu o braço para pegar minha mão e entrelaçou nossos dedos, a minha palma suada de encontro a sua que parecia mais firme e decidida. Senti algo parecido com uma descarga elétrica que irradiou das nossas mãos unidas até meu coração fazendo com que este acelerasse mais rápido em meu peito. Tentei ignorar aquela sensação esquisita e tampouco tinha uma resposta para o que seria aquilo, andamos um pouco até nosso lugar preferido ali, a grama estava recém-cortada e nossos balanços vazios, sorrimos um para o outro e corremos para tentar pegar o mais alto.

Ele me deixou ganhar a corrida, tenho certeza que diminuiu o passo quando estávamos chegando. Nossa tarde passou num borrão, queria ter parado o tempo naquele momento para aproveitar melhor todas as nossas gargalhadas e quedas, meus joelhos perderam a conta de quantas vezes caíram no chão, não anotei a quantidade de vezes que os olhos dele ficaram pequeninos num riso espontâneo que aquecia meu coração.

Conforme anoitecia nossos sorrisos ficaram mais vagos, milhões de forma de despedidas passando por nossa mente, não conseguia ficar menos de dois segundos olhando para ele, o tempo parecia não ser o bastante, apesar de ter a certeza que sempre guardaria aquele momento em minha mente. Éramos duas crianças prestes a se despedirem, mas com receios enormes de irem para caminhos diferentes.

- Acho que tenho que ir agora – olhei para o chão e chutei uma pedrinha.

Ele engoliu em seco – Eu sei que isso é egoísta, mas queria que ficasse.

Good Enough - 1ª TemporadaWhere stories live. Discover now