"Você fala aquele blá blá
Aquele lá lá, aquele rá rá, merda
E eu estou tão exausta, estou tão cansada disso
Às vezes eu erro, fodo com tudo, eu ganho e perco
Mas eu estou bem, eu estou legal com isso"
(Jessie J - Masterpiece)
Ele abriu totalmente a porta depois de alguns instantes relendo a carta, não sabia decifrar o que estava em seus olhos, porém, na medida em que os espremia e franzia a testa, sabia que algo estava errado.
Caminhei devagar para dentro, minhas pernas tremendo e a mochila pesada em minhas costas com apenas algumas roupas, papeis e lápis que usava para escrever e desenhar, minha boneca parecia mais pesada que o normal. O barulho da porta sendo fechada me assustou, estava tão tensa que virei o corpo totalmente naquela direção e arregalei os olhos quando vi uma espingarda ali perto.
Dei alguns passos para trás, agarrei a boneca com força contra meu peito e jurava que podia ouvir o martelar alto do meu coração. Queria que mamãe voltasse naquela hora, precisava da sua proteção porque tudo naquele lugar gritava para que eu me afastasse, me sentia dentro de um filme de terror que Harry me fazia assistir só para assustar-me no momento certo. Harry. Pensar nele era uma dor física.
A casa era escura, o sofá estava gasto, as paredes manchadas com o tempo e o cheiro de mofo era inconfundível. Ele sentou-se numa poltrona velha e cruzou os braços sobre o peito, virando aquele acento até estar a minha frente, a respiração saia acelerada por minha boca, pois o medo dele gelava meus ossos.
Tinha uma barba rala por fazer e estava coçando o queixo conforme me encarava, o cabelo cortado curto e marcas de sol no rosto, usava uma blusa branca de botões e o tecido parecia amarelado assim como o couro em sua calça jeans. Encarou-me por alguns instantes que viraram minutos, a expressão indecifrável enquanto apertava o papel entre seus dedos e procurava detalhes em mim que eu não entendia.
- Sua mãe não irá voltar – falou de repente, a voz grossa e curiosa enquanto estudava minha reação.
- E-ela... – gaguejei e a palavra saiu num sussurro – Mamãe disse que só foi comprar comida, volta num instante.
- Sinto muito em lhe informar, menina, mas sua mãe não irá voltar – repetiu firmemente – Ela foi embora.
- Não, ela não... – balancei a cabeça freneticamente tentando retrucar tudo que estava dizendo.
- Ela abandonou você aqui comigo.
- Ela não fez isso! – gritei enquanto lágrimas caiam por meu rosto sem ao menos eu estar preparada para recebê-las, corri até a porta e tentei puxar a maçaneta, mas estava trancada – Eu quero ir embora!
Enquanto esmurrava a porta e o sentimento de desespero se apossava de mim, senti sua mão cheia de calos em meu ombro, puxou-o para si de modo que todo meu corpo foi posto a sua frente, minhas costas contra a porta conforme se abaixava para ficar a minha altura.
- Primeira lição, menina – sussurrou de uma forma tão ameaçadora que fez os pelos dos meus braços se arrepiarem – Não vai retrucar nunca o que eu digo.
- Mas...
- Nunca – repetiu grosseiramente – Nunca irá desafiar-me novamente – semicerrou os olhos – Entendeu?
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Good Enough - 1ª Temporada
ActionAbandonada fisica e emocionalmente pelos pais, a autoritária e maior detetive criminal de Londres, Charlotte Di Angelo, vê seu mundo mudar totalmente após rejeitar com violência as iniciativas sexuais do Promotor de Manchester, na Inglaterra. Seu pa...