Cíntia narrando
Sempre fui mulher de afrontar. Fui criada atoa, nunca tive mãe nem pai, por isso sempre fiz o que quis.
Vim pra cá corrida do meu ex marido, traficante lá na Bahia. O único lugar onde me vi "segura" foi aqui, onde meu primo júnior mora.
Sou mulher de bandido desde os treze anos, hoje tenho vinte. São sete anos tomando tapa, sete anos levando chutes, murro, perdi dois filhos só nessa aí , hoje em dia sou estéril e tudo por me envolver com bandido .
Eu amava minha vida na Bahia, tinha tudo. Dinheiro, curtia as mais diversas praias, era a dona da porra toda. Mas nem tudo é flores, eu apanhava muito, Júlio era possesso por mim, eu não podia nem ir visitar minha avó.
Cansada de tomar na cara, levar até esculacho de polícia quando chegavam lá pra procurar ele e eu que pagava o pato, eu resolvi vim para cá... Tentar ter uma vida normal, mas a porra do destino e o fogo na bct não deixou.
Aquele sorrisinho travesso, aquele olhar de bandido que não presta de Rangel me atraiu , e acabou nessa né?
Não adianta, quem nasceu pra ser cu nunca vai ser pica, e quem nasceu pra ser lanchinho de bandido nunca vai se distanciar do errado.
Afrontei pra caralho porque não sou de ouvir calada. Mas não tiro a razão de Larissa não. Muitas vezes, ou diversas, eu sai toda descabelada pra meter mão na cara de amante de Júlio. Já arregaçei muita novinha emocionada que dava pro meu homem. Então ela tem razão, eu que fui puta descarada.
Muitas vezes reclamava , xingava as amantes do meu marido de vadia e agora tô aqui no lugar delas. É aquele ditado, a gente só sabe o que os outros passaram, quando a gente passa pelo mesmo.
- Cuida desse ferimento direito aí Cíntia. - Júnior falou comigo.
- Vou cuidar, tá doendo pra cacete.- fiz cara feia.
- Eu te falei caralho! Porra, aquieta essa buceta vei. Tanto homem pra tu aqui e tu foi logo querer o caô máximo.
- Pô Júnior, foi sem querer eu nem sabia que Larissa ia descobrir. Tô malzona, sei como é passar por isso, estou me sentindo uma vagabunda. - abaixei a cabeça.
- Não é pra menos né caralho. Tu sai de um barril e vem entrar em outros. Sou teu primo eu quero seu bem.
- Eu sei Juninho, pode ficar tranquilo falou? - toquei em seu ombro. - Vou tomar vergonha agora, procurar um emprego, e tomar um rumo.
- Bom mesmo, não cruza nem o
caminho de Larissa viu? Ela é prima da minha mulher, não quero caozada.- Juro que vou me aquietar, te amo primo, obrigado por tudo. - o abracei.
- De nada, eu sou seu único parente e você é a minha única pô. Só tem eu, você e nossa vó. - suspirou. - Toma aqui, pra ajudar nas despesas do mês . - me entregou um malote de dinheiro.
- Não cara, tu já me deu essa casa de graça, me ajudou a fugir...
- Aceita essa desgrama. Tu é tudo pra mim prima, apesar de ser vacilona, porra louca sem juízo desde sempre.
- Vou aceitar na moralzinha porque tô precisando mas depois eu te devolvo.
- Se cuida morena.
- Se cuida você também irmão. - sorri.
Ele colocou seu fuzil atravessado nas costas e saiu.
Me sentei e fiquei pensando na vida. Tinha que me estabilizar, criar um juízo na cara, e pedir perdão a Larissa.
Macho não vale a vida de ninguém não.
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Perdida No Morro
RomanceLarissa, uma jovem do interior de Minas Gerais, leva uma vida simples e meiga.No entanto, seu destino muda drasticamente quando ela se entrega ao seu namorado e é expulsa de casa, desamparada e desolada. Sem ter para onde ir e com seu coração partid...