Capítulo XL

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- SIM, EU - Carlos sai da frente e posso visualizá-la.

Fico chocado com sua aparência. Está pálida, magra e tem cicatrizes no rosto.

- Só pode ser brincadeira uma coisa dessas - tento caminhar para sair, mas o homem da imobiliária me detém.

- Senhor Gazzo, a senhorita Andréia Smith sempre esteve interessada nesse imóvel. A venda só não foi efetuada devido aos acontecimentos com sua saúde. 

- Não quero vender nada para essa mulher...

- Quanto ressentimento Marcos. Eu pago o que for. 

- Não se trata de dinheiro. Você sabe muito bem que não quero nenhum tipo de contato contigo.

- Agora... Senhores poderiam nos deixar a sós? - diz Andréia olhando para o Carlos e o senhor que a acompanhou.

- Não tenho nada que conversar com você a sós.

- Está com medo de ficar a sós comigo Marcos? Uma garota em uma cadeira de rodas?

Olho para os lados a tentar buscar outra forma de não ficar sozinho com ela. Mas, meu silêncio parece uma confirmação. Carlos e o tal senhor saem e me deixam lá, com aquela infeliz.

- Por que você quer comprar esse imóvel Andréia?

- Quem sabe não faça dele um refúgio?! Um imóvel nunca é demais.

- Sei.

- Na verdade Marcos, eu desejo muito ter uma conversa contigo, muito séria. Preciso que você me escute. Sente-se por favor.

- Alice... quer dizer, Andréia, traga logo o documento, eu assino e pronto. Não precisamos nos alongar nisso.

- Não vim aqui pra tratar de compra, documento, assinatura ou seja o que for sobre esse apartamento.

- Andréia não me faça perder, tempo e paciência com você.

- É sério, dá ao menos pra você me escutar...

Eu me sento próximo a ela, a observo de perto e vejo que ela não é mais aquela mulher que conheci. Algo está diferente.

- Diga.

- É sobre a Alice.

- Ah pelo amor de Deus - levanto e vou para a porta - não me interessa nada a respeito, nem de você, muito menos de sua irmã.

Abro a porta, olho para ela.

- Se estiver mesmo querendo comprar o imóvel, diga ao senhor que te trouxe para mandar o documento para mim com sua proposta e se for do meu agrado eu assino e pronto. Nossa conversa acaba aqui.

Vou embora sem dizer mais nada. No corredor vejo o Carlos e o tal senhor aguardando. Carlos me vê sair furioso e não pergunta nada, apenas me acompanha.

Chegando à entrada do prédio, o Zé corre até mim e me entrega as correspondências. Agradeço e entrego tudo ao Carlos que coloca todas na minha bolsa de mão.

- Obrigada por tudo Zé. A propósito, vou lhe mandar um agrado por toda sua lealdade.

- Nada senhor. Não precisa. Fiz por agrado.

Me despeço dele e vamos para o carro. Embarco no mesmo dia e volto para casa.


DOIS DIAS depois do caso ocorrido estou no escritório quando o Flávio adentra a minha sala.

- Sinto muito, mas você precisa receber.

Andréia adentra com sua cadeira de rodas em minha sala. Fico pasmo e não tenho reação alguma.

- Já que você me deixou plantada sem ao menos me dar qualquer atenção eu tive que vir. 

Ela colocou o contrato assinado sob minha mesa.

- Realmente tenho interesse no seu imóvel. Mas além disso eu preciso com urgência falar contigo. Então espero que seja cavalheiro e me escute. Depois pode me enxotar daqui.

Eu que havia me levantado, resolvo me sentar novamente. Ao contrário de Alice, sei como a Andréia é um pé no saco. Ela não vai me deixar em paz nem me respeitar.

- Fale.

- Pois muito bem. Talvez você saiba tudo que aconteceu comigo. E isso tem a ver contigo.

- Comigo? Você tá louca?

- Sim, contigo. Indiretamente, mas tem.

- Explique-se.

- Marcos, você precisa voltar para minha irmã. 

- O que? Você, logo você me pedindo isso? - começo a sorrir - Olha eu realmente acho que a pancada foi mesmo feia.

- Escuta! Eu falo. Digo tudo o que vim dizer e, você se quiser dizer ou fazer qualquer coisa depois, faça. Eu não ligo mais.

- Sei...

- Marcos, Alice nunca traiu você. Ela nunca dormiu com o Gustavo. 

- Ela foi te pedir ajuda? O que você pediu a ela pra se disponibilizar em defender sua irmã?

- Ela nem sabe que eu estou aqui. Olha, ela nunca dormiu com o Gustavo, desde que ela nos pegou juntos, ela nunca mais olhou pra ele. Mesmo no início, ela ainda gostando dele... nada.

- Eu vi. Ninguém me mostrou foto, vídeo ou contou nada... eu vi.

- O que você viu? Um cara saindo nu do banheiro dela e ela nua? Tudo foi armação. 

- Como é?

- Eu e o Gustavo armamos tudo. Você sabe que Alice é fraca para bebida. Naquele dia eu fui até o apartamento dela e fiz ela tomar umas taças de vinho. Havia duas taças, mas uma delas era minha. Alice andava muito cansada devido ao que ocorreu com nosso pai, então não demorou ela adormecer. Claro que me precavi e coloquei um remedinho leve para ela dormir. Quando isso aconteceu, eu liguei para o Gustavo que estava em um apartamento que fica no prédio da frente. Colocamos ela na cama, eu retirei tudo o que desse pista que eu estive ali. O Gustavo retirou a roupa dele, espalhamos as dele e dela pela casa... eu fui embora.

- Então o que vocês pretendiam com isso?- digo já nervoso, mas um pouco incrédulo.

- Separar vocês. Sabíamos que você estava para chegar.

- Como? Se eu fui para fazer uma surpresa para ela?

- Colocamos um detetive no seu pé. Ele nos avisou que você estava a caminho. Fomos nós que mandamos as flores, lingerie...

- E por que está me contando tudo isso agora? - levanto e dou um soco na mesa.

- Meu plano era separar vocês e reconquistar você. O Gustavo queria nós duas. E você sabe que eu não me importaria de dividir... desde que não fosse você. Eu vou ser honesta, nunca gostei de alguém como gosto de você.

- Você é louca. Agora que já nos separou e, está me contando isso, acha mesmo que eu vou voltar contigo?

- Não. Eu não quero que você volte pra mim. Quero que você fique com a Alice.

- Vai me dizer que está arrependida?

- Não e sim. Não me arrependo do que fiz. Mas me arrependo de por minha causa a Alice está infeliz e passando pelo que está passando. Marcos... eu sei que vou morrer. E espero fazer algo de bom na minha vida imprestável. E que seja pra minha irmã. A única pessoa que realmente me ama.

- Pensei que você fosse fazer um transplante e fosse ficar tudo bem? Por que diz que vai morrer? Vaso ruim não quebra fácil.

- Estou jurada de morte. E tenho medo que ele também tente matar minha irmã.

- O que?

- Descobri a pouco tempo que foi o Gustavo te atropelou. 

- Aquele desgraçado. Vou matar ele.

- Não. Primeiro você tem que ir atrás da Alice. Antes que o Gustavo faça algo com ela.

- E por que você não foi conversar diretamente com sua irmã?

- Porque quero que ela não me odeie quando eu morrer.

A Outra Que AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora