A ideia de que os jovens iriam para a superfície passou de ser aterrorizante para ser esperançosa. Nos últimos quinze dias, eu até vi algumas pessoas festejando por terem sido escolhidas. Eu e minha mãe tentamos ficar por dentro de todos os detalhes da operação, eu iria com eles a qualquer custo, mesmo sem a permissão do conselho.- Filha, eu consegui! – ouvi minha mãe dizer assim que entrou em nossa cabine. Em suas mãos, um uniforme igual ao da equipe de escolhidos.
- Eu não acredito! – confessei surpresa, o pegando e o avaliando. O uniforme era composto por uma blusa branca regata, um casaco de cor verde musgo com o símbolo do nosso Bunker e uma calça do mesmo tecido que o casaco, mas de cor preta.
- Soube que desenvolveram algumas pulseiras prateadas, discretas e finas que dá os dados de vocês para o conselho. Eles vão monitorar tudo daqui de dentro. Eu não consegui pegá-la, mas irei construir uma idêntica para você. – ela disse, empolgada – ah, eles também vão deixar mochilas com suprimentos na escadaria. Como você não é uma das escolhidas, também teremos que improvisar. – explicou.
- Obrigada, mamãe – a abracei – eu nem acredito que já é amanhã – suspirei.
- Você vai embora? – escutei a voz do Wally atrás de nós.
Ainda não havíamos contado para ele, temendo que ele sem querer contasse para alguém, como algum dos seus inúmeros amigos.
- Amor, venha cá, queremos conversar com você – minha mãe o chamou para o seu colo – A sua irmã é uma garota muito especial e ela foi escolhida para encontrar um novo lar para nós – ela resumiu.
- A Ninka vai para a superfície? – perguntou com seus olhos curiosos.
- Sim, eu vou, mas você não pode contar para ninguém – eu me intrometi na conversa.
- Por que não? Eles vão anunciar o seu nome de qualquer maneira – ele parecia confuso.
- Porque eu...eu...- travei na resposta.
- Porque a sua irmã é um elemento surpresa. Ela vai ser a décima integrante da equipe. – Minha mãe distorceu um pouco a verdade.
- Exato! E é por isso que não pode contar a ninguém. Afinal, se você contar, você vai estragar a surpresa e o Capitão Marcus vai mandar prender você – o deixei com medo.
- Tudo bem – ele fez gestos para mostrar que a boca estava fechada como um baú.
12 HORAS DEPOIS
- Hoje é o grande dia, meus amigos! – Marcus anunciou animado e as pessoas que estavam presentes no salão principal o aplaudiram – Vamos conhecer os nossos heróis? – ele perguntou, fazendo um mistério desnecessário – Com vocês, o capitão desta expedição: Carter Jones! – o garoto saiu da multidão e se juntou ao Marcus, ele acenou para algumas pessoas que o aplaudiam – O primeiro recruta: Karl Turner – um garoto com um corpo atlético e com o cabelo castanho recém-cortado estilo militar se juntou a eles e sorriu, cruzando os braços para exibir seus músculos.
- Se todos os outros integrantes forem exibidos como ele, estamos mortos – meu irmão cochichou ao meu lado e eu abafei o meu riso com a minha mão.
Estávamos escondidos atrás da mesinha do self-service para avaliar as pessoas com quem eu conviveria nos próximos dias. Foi definido pelo conselho que a expedição será de um mês e, caso tudo der certo, eles organizarão outra com mais pessoas e sendo mais duradoura.
- Nosso segundo recruta: Amon Clark – Marcus anunciou e um garoto negro se juntou a dupla. Ele sorria discretamente e chamava bastante atenção por causa de seus olhos claros, eu só não conseguia distinguir se era verde, azul ou cinza. – Nossa terceira recruta: Margot Williams – uma garota loira, branca e magra se juntou ao trio.
Marcus ia chamando cada vez mais nomes até completar a equipe de nove integrantes, contando com o capitão da expedição. Aproveitei que os conselheiros estavam fazendo curtos discursos de motivação para me despedir de minha família.
- Tome cuidado – Wally ordenou em um tom sério.
- Sim, senhor, capitão – bati em continência e ele riu, me abraçando.
- Aqui está sua pulseira e sua mochila – minha mãe me entregou e eu me equipei – isso é para você lembrar que nunca estará sozinha – ela pôs um colar em meu pescoço que carregava um medalhão estreito com o sobrenome Baker gravado. O sobrenome da minha família.
- Eu amo você – disse as três palavras que evitava usar há muito tempo e seus olhos encheram de lágrimas – Mãe, para – pedi sem graça e ela sorriu.
- Eu estou orgulhosa de você e tenho certeza que seu pai também está, seja lá onde ele estiver – ela me abraçou.
- Digam adeus aos heróis, porque chegou a hora deles partirem à superfície – Marcus anunciou e eu me preparei.
Esperei a equipe passar ao meu lado no corredor e os segui, me infiltrando discretamente entre eles. Um guarda nos guiou entre os corredores e nos levou ao limite, onde uma porta de vidro reforçada nos separava do "quintal" do bunker, que possuía uma escada de ferro que nos levaria a superfície.
- Preciso verificar suas pulseiras antes de dar as suas armas – outro guarda disse com uma máquina quadrada em mãos. Merda!
Ele passou por cada pulso e a medida que a luz verde acendia, os outros guardas distribuíam os revólveres. Quando chegou em minha vez, eu abaixei a cabeça para o cabelo cobrir o meu rosto e estendi o meu braço. Ele passou a máquina, que diferente das outras vezes demorou mais do que o normal. Apenas consegui respirar novamente quando a luz verde finalmente acendeu e ele me entregou a minha arma.
Ótimo trabalho, mãe.
Os guardas puseram máscaras de oxigênio e iniciaram uma contagem regressiva para a abertura da porta. Observei os outros integrantes e todos estavam concentrados na contagem, totalmente ansiosos e temerosos. Quando a contagem finalmente chegou no zero, eles abriram a porta e foi preciso que nós corrêssemos para a parte de fora. Em menos de cinco segundos, a porta foi fechada e lacrada novamente.
Estávamos em uma espécie de buraco, mas ainda não estávamos na superfície. Carter, o comandante da equipe, foi o primeiro a subir a escada de ferro. Logo, os outros começaram a o seguir. Ele parou quando uma porta de aço redonda disse que chegamos no fim da escada e atrás dela estava a terra.
- Preparados? – ele perguntou e todos gritamos um "sim, senhor" em uníssono.
Então, aplicando a força de seus dois braços na tranca giratória, ele acabou com a única barreira que nos separava da superfície.
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Senhoras e senhores, por favor, apertem seus cintos porque agora a história vai começar!
P.s.:
para quem perguntou: sim, eu me inspirei em The 100. Mas ao decorrer do livro vocês irão perceber que é um universo diferente da série e, apesar de ter algumas coisas em comum, não é uma cópia ou algo do tipo.
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Ninka Baker e Os Recrutas
Science FictionQuinhentos anos após uma terceira guerra mundial sangrenta que levou a humanidade perto de sua extinção, o mundo se tornou um lugar totalmente diferente do que conhecemos atualmente. Uma terra onde a tecnologia e os costumes primitivos andam lad...