SEVENTY FOUR | HELL

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Os soldados do Bruce me arrastaram pelas ruas do Distrito até a Sede, onde me levaram para uma sala minúscula e suja que ficava nos níveis subterrâneos do edifício.

— Baker, eu só vou perguntar uma vez — Bruce chamou a minha atenção enquanto seus homens checavam minhas vestimentas e me imobilizavam com uma algema presa a uma corrente — Por que você invadiu a Capital?

Com um sinal com o meu indicador pedi para que ele se aproximasse de mim e, quando ele o fez, sussurrei:

— Para te mandar ir a merda! — disse entredentes e cuspi na sua cara, fazendo o homem recuar rapidamente.

— Ninka, Ninka, Ninka...— passou um pano, que tirou do bolso da farda, pelo rosto para se limpar. Ele sorriu e me olhou de forma amedrontadora. — Não devia ter feito isso. Agora vou ter que deixar você aos cuidados dos meus soldados e, digamos que, eles não serão tão simpáticos quanto eu estou sendo.

Ele olhou para um dos homens, me fazendo imitar o seu gesto pela curiosidade e pelo temor. Meu corpo inteiro se arrepiou quando vi o homem com um balde de água e um cacetete de choque.

— Se qualquer um desses vermes me tocar, eu prometo que o meu rosto será o último que você verá antes de eu te mandar para o inferno! — rosnei e tentei avançar em sua direção, mas a corrente junto com as algemas me mantiveram longe dele.

— Que bom então que eu sou ateu — ele deu de ombros e me deu as costas, mas, antes de sair da sala, deu a ordem para os soldados: — A deixem mais macia para o interrogatório.

E, ao ver os sorrisos maliciosos, eu soube que seria eu quem visitaria o inferno naquela noite.

(...)

Quando eu concordei em ser o cavalo de troia naquela operação eu sabia o que estava em jogo. Eu sabia o que fariam, até porque eu já havia antecipado cada movimento em minha cabeça. Então foi por isso que aguentei calada toda a sessão de tortura: não gritei durantes os choques, nem muito menos implorei para que parassem quando brincaram de me afogar com uma toalha. Embora eu quisesse fazê-los.

— Avisa pro chefe que ela tá pronta — os soldados se comunicaram entre si enquanto eu tremia involuntariamente, eu não sabia se era pelo frio ou pelo meu sistema nervoso que podia ter entrado em colapso.

— Podem levá-la pra cima — um outro avisou e então me arrastaram para que eu andasse.

Os soldados me levaram até o elevador de carga, onde dentro dele me cercaram e apontaram suas armas para mim já que eu estava sendo considerada inimiga numero um da Capital.

— É uma pena não podermos nos divertir mais — um soldado disse no pé do meu ouvido e eu cerrei os meus punhos com queimaduras — Eu sei que você tava gostando, tava até gemendo baixinho.

Virei meu rosto para encará-lo. Queria ameaçá-lo, contar como eu planejava matar cada um deles. Queria tirar à força o sorriso pretunsioso do seu rosto cínico, mas eu não podia. Por isso me forcei a voltar a olhar para frente e respirei fundo, tentando controlar meus impulsos.

Em algum andar, eles me empurraram para fora. Dois deles continuaram dentro do cubículo de metal enquanto os outros dois seguiram comigo corredor a dentro. Paramos de andar quando entramos em uma sala com duas paredes de vidro: a que dava para o corredor e a que delimitava o prédio, dando lugar à vista da cidade iluminada.

— Rato posicionado para o abate — um dos guardas avisou pelo rádio.

— Gavião partindo em sua direção — alguém do outro lado da linha respondeu.

Os homens me fizeram ficar ajoelhada e, quando eu menos esperei, a Presidente passou pela porta de vidro com o Bruce atrás de si.

— Soldado, relatório — O comodante exigiu.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora