SEVENTY THREE | OUTRAGE

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Passamos o dia analisando e revisando as estratégias da invasão. Tudo tinha que estar perfeito, desde o momento em que entrássemos até o que saíssemos. Pensamos em todas as situações e todos os contratempos possíveis, foi por isso que ao cair da noite já estávamos preparados para botar o plano em ação.

— Você só terá quinze segundos até que te descubram — Aiken alertou pela vigésima vez enquanto inspecionava o meu paraquedas.

A primeira parte do plano consistia em eu ser o cavalo de troia, por isso eu iria sozinha em uma aeronave com dois pilotos para atravessar os muros da Capital. Lá de dentro, a ação aconteceria de forma que eu me encontraria com todos somente depois em meio ao caos.

— Ei — puxei seu queixo para que ele me olhasse — Vai dar tudo certo.

— Se você morrer, eu mato você — ameaçou brincando, mas eu sabia o quão temeroso ele estava sobre tudo isso. Eu nunca o vi tremer, mas essa noite suas mãos não paravam quietas.

— Eu tenho que ir — encostei minha testa na sua e olhei em seus olhos — Vejo você do outro lado — sussurrei e plantei um beijo demorado em seus lábios. Ele suspirou.

— Vejo você do outro lado — então finalmente se afastou, dando espaço para que Ayla e Cleo se aproximassem.

— Toma. Esqueceu isso. — Ayla me entregou o pingente do Amon e eu sorri sem mostrar os dentes, grata por ela ter me lembrado que essa luta não era só pelos vivos, mas também pelos que já se foram. — Carter me passou uma mensagem através do código morse. Eles estão prontos.

— Ótimo — eu carreguei minha arma e a repousei no meu coldre.

— Estamos prontos — Cleo avisou depois de falar com os pilotos — Os guerreiros de Wakanda já estão infiltrados no Distrito como se fossem rebeldes e meu pai avisou a Resistência sobre o que vai acontecer, então eles provavelmente vão nos dar suporte nos quarenta e cinco do segundo tempo.

— Não te enfurece saber que eles vão levar os créditos da rebelião se isso der certo? — Ayla perguntou irritada.

Quando der certo — A mulher a corrigiu e deu de ombros — Não me importo, não estamos fazendo isso para sermos lendas e estarmos eternizados nos livros de histórias. Estamos fazendo pelo nosso povo. E isso basta pra mim.

— Pra mim também — concordei.

— Boa sorte — Ayla desejou, voltada para mim novamente.

— Não deixe seu irmão fazer nenhuma besteira, caso algo não siga como planejado — pedi, sabendo que ele era bem capaz de aprontar algo assim.

— Você tem a minha palavra — prometeu antes de sair para resolver as coisas que exigiam sua total atenção.

Olhei pra comandante em minha frente e puxei algo de meu bolso.

— O que é isso? — ela perguntou quando entreguei o frasco com o meu sangue que eu mesma havia coletado algumas horas antes.

— Você fez a sua parte e eu estou fazendo a minha — respondi e a encarei séria antes de explicar: — Guerras são imprevisíveis, Cleo. Não quero que o futuro dessas pessoas esteja nas mãos da sorte. Se algo der errado comigo, você ainda terá a chance de curar o mundo.

— Não diga besteira, Baker. Você estará comigo quando anunciarmos a cura para todos os recrutas, andarilhos e aldeões que existem. — ela garantiu, mesmo sabendo que era uma promessa vazia, afinal ela não tinha como saber, e me abraçou — Não morra. Precisamos de você.

— Vou tentar — pisquei ao me afastar e a dei as costas quando a aeronave em que eu estava foi ligada.

A porta que estávamos usando como plataforma começou a ser fechada e eu sentei no banco preso a parede na área de carga.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora