Aiken correu com o carro o mais rápido que pode, chegando em tempo recorde na cidade que chamara de casa. Eu nunca o tinha visto tão aflito e nervoso durante todo esse tempo em que nos conhecemos, e o motivo disso era a sua irmã quase sem vida no banco de trás.Assim que chegamos no hotel de Atlas, Aiken estacionou de qualquer jeito e correu para dentro do local com a irmã, novamente desacordada, nos braços.
— O que diabos aconteceu e por que vocês estavam com um carro do Distrito? — a mulher cheia de piercing e tatuagens, que agora tinha o cabelo pintado de preto, perguntou confusa.
— CHAMA OS MÉDICOS! — Aiken rosnou sem paciência — AGORA, ZIVA!
Então ele seguiu até o escritório do Atlas, abrindo a porta com um chute assim espantando as mulheres nuas que estavam em cima do homem negro.
— É melhor vocês saírem — eu sugeri amigavelmente e todas me obedeceram, ao verem a expressão do Aiken, catando suas roupas do chão e saindo de fininho.
— Ei, ei, ei, ei, ei! — Atlas se levantou com a camisa de botões aberta, expondo seu abdômen que um dia foi definido, e se aproximou de Aiken que colocava a irmã no sofá preto com delicadeza — Eu sei que devo alguns favores a vocês, mas não podem chegar aqui como se fossem os donos do lugar.
Péssimo momento para reclamações, pensei. E tive razão.
Aiken segurou Atlas com raiva pela gola da camisa e olhou fundo em seus olhos.
— Você cala a merda da sua boca e vai buscar algum médico para atender a minha irmã, porque, se ela morrer, eu acabo com esse lugar — ameaçou firme de cada palavra, fazendo o homem estremecer e engolir em seco.
— Eu tenho uma equipe médica no hotel para casos de emergência, irei mandá-los para cá — Atlas respondeu trêmulo.
— Ótimo — então o loiro o soltou bruscamente enquanto começava a andar de um lado a outro, bagunçando o próprio cabelo.
Atlas saiu em disparada indo buscar os tais médicos que não demoraram muito para chegar.
— Precisaremos de bolsas de sangue — uma mulher pediu ao avaliar a condição da Ayla — Senhor, por favor, preciso que se afaste — ela se dirigiu ao Aiken que estava prestes a gritar em resposta.
— Aiken! — me pus em sua frente e o empurrei delicadamente para trás — Olha pra mim — puxei o seu rosto, me deparando com o caos dentro dos seus olhos — Eles vão cuidar dela, mas, pra isso, a gente precisa dar espaço.
— Mas...— o interrompi.
— Ela vai ficar bem — garanti, quase que implorando para que ele me escutasse — Além disso, brigar e gritar com todo mundo não vai fazer ela sarar mais rápido.
Então ele suspirou, baixando a guarda e deixando os ombros caírem.
— Você tem razão — ele concordou comigo e saiu da sala ao meu lado, dando espaço para que os médicos fizessem o que fosse necessário.
(...)
Algumas horas depois e nós estávamos em um quarto, observando a Ayla dormir serenamente depois de uma mini cirurgia para retirar a bala de seu ombro. Eu também havia sido atendida e, depois de um esforço doloroso, meu braço direito voltou ao lugar.
— Se ela morresse, eu nunca me perdoaria — Aiken murmurou com a cabeça apoiada em meu ombro enquanto eu acariciava seu cabelo.
— Uma vez você me disse que pessoas morriam todos os dias aqui fora e que eu tinha que me acostumar com isso — eu lembrei — E também me disse que o propósito da sua vida era proteger a sua irmã, o que me fez admirar ainda mais você — ele levantou os olhos para me encarar e eu sorri sem mostrar os dentes, sentindo um pesar dentro de mim ao relembrar o que vivemos hoje — Mas, ainda assim, Aiken, não pode perder o controle cada vez que a sua irmã correr perigo. Quando capotamos, a situação da sua irmã piorou e nós quase morremos. E eu não tô falando isso por minha causa, mas porque você tem que lembrar que não controla as ações dos outros. É impossível que você proteja sua irmã sempre, mas é admirável que tente. Mas, se você morrer, como poderá protegê-la?
Ele me olhou pensativo e assentiu, voltando a olhar pra frente.
— Não podia ter falado melhor — a voz fraca de Ayla nos fez sair da nossa bolha de reflexão.
Aiken sorriu e se aproximou da irmã sobre o colchão, e eu me pus do outro lado dela.
— Você quase me matou de susto — ele a disse depois de beijar a sua testa.
— Quem leva o tiro sou eu e você que quase morre? — debochou, nos fazendo rir.
— Oi — eu disse sem graça quando ela olhou para mim.
Ayla me observou em silêncio e sorriu, me fazendo unir as sobrancelhas. Ela nunca havia sorrido para mim.
— Você cuidou de mim. Duas vezes. — ela constatou — Obrigada.
— Lembre-se disso quando eu levar um tiro — brinquei e ela riu.
— Me ajuda aqui? — ela pediu ao irmão enquanto tentava se sentar, ele prontamente a ajudou a levantar e eu tratei de fazer o mesmo, levantando os travesseiros de modo que ficassem numa altura confortável para que ela se encostasse.
— Você quer comer alguma coisa? — ele ofereceu.
— Não — ela recusou.
— Vai comer de qualquer jeito — retrucou, pegando a comida que um dos funcionários do Atlas trouxe mais cedo.
Era uma sopa de verduras e pão, tudo feito na cidade.
— Eu não quero essa gosma — ela recusou o prato de sopa.
— Ayla, você sabe que precisa comer!
— O seu irmão tem razão, você perdeu muito sangue — eu o apoiei.
— Quando virou advogada do Diabo? — ela debochou, pegando o prato de volta.
— Desculpa, eu só pensei que quisesse retomar as forças para matar alguns mortos — dei de ombros, claramente brincando.
— Bom, vendo por esse lado — ela deu uma colherada generosa na sopa e fez uma terrível careta ao por na boca — Isso aqui tá uma...— prestes a reclamar, ela foi interrompida.
— Se comer tudo ganha uma arma de choque que eu consegui com um dos guardas — Aiken a subornou.
—...uma maravilha. Hummmm, que delícia. — ela tentou disfarçar a careta com um sorriso enquanto se forçava a tomar outra colher de sopa.
Gargalhei. Era bom vivenciar coisas assim, fora da nossa rotina cheia de sangue e morte. Me fazia sentir quase que humana novamente.
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Último capítulo do ano!
Não chorem, em 2019 tem mais e eu prometo voltar daquele jeitinho hahaha.
Boas festas e um feliz 2019, recrutas!
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Ninka Baker e Os Recrutas
Ficção CientíficaQuinhentos anos após uma terceira guerra mundial sangrenta que levou a humanidade perto de sua extinção, o mundo se tornou um lugar totalmente diferente do que conhecemos atualmente. Uma terra onde a tecnologia e os costumes primitivos andam lad...