THIRTY SEVEN | TALK

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Talvez por termos passado quarenta e oito horas sem dormir, a noite em que ficamos no hotel foi a melhor de todas as que passamos na superfície. Só dormimos por seis horas, mas foi o bastante para que todo mundo recarregasse as suas energias. E foi, de longe, a noite confortável que tivemos, mesmo com toda aquela festa acontecendo no saguão do edifício.

Quer dizer, o som não chegava até nós e, se não tivéssemos visto com nossos próprios olhos, não saberíamos o que estava acontecendo lá embaixo.

(...)

Na manhã seguinte, levantamos sabendo que o dia seria tudo aquilo pelo qual havíamos nos preparado por tanto tempo. E isso deixou todos agitados, animados e nervosos.

— Ninka, tá tudo bem? — Margot perguntou para mim enquanto Victoria terminava de fazer uma trança enraizada em seus cabelos loiros.

Aham — a respondi em um murmúrio enquanto amarrava os meus cadarços.

— Você não deu um pio desde que acordou — Victoria foi quem respondeu, também soando preocupada.

Ela terminou o penteado de Margot, que se levantou da cama para pegar sua mochila no canto do quarto.

— Só estou me concentrando — tentei as tranquilizar, não era mentira, mas também não era 100% verdade.

— Carter mandou que levássemos nossas coisas para o hall, você vem? — Margot perguntou parada na porta, Victoria logo atrás dela.

— Vão na frente, só preciso terminar algumas coisas — avisei e elas foram.

— Eu sabia que o Aiken ficaria assim, mas você...— Ayla disse, saindo do banheiro —... me surpreendeu.

— Eu acho que não entendi — eu disse com a testa franzida enquanto botava meu casaco.

— Eu vi quando você o beijou ontem — ela confessou, me fazendo arregalar levemente os olhos — E tenho que admitir que eu esperava qualquer coisa de você, menos que fosse tão egoísta.

— Eu não sou egoísta! — retruquei ofendida.

Ah, então só é burra mesmo?

— Ayla, eu acho melhor nós encerrarmos essa conversa por aqui — eu disse firme, não gostando nada do caminho que as coisas estavam tomando.

— O que pretendia com aquele beijo, Ninka? Sério. Eu realmente quero saber. — ela me encarou irritada — Não se passou por nenhum segundo pela sua cabeça que estaria brincando com os sentimentos do meu irmão? Você vai pra capital e ele vai permanecer nesse mundo de merda. Você sabe que não podia ter feito o que fez!

— Eu não quis brincar com seu irmão em momento algum, Ayla — comecei a me defender — E, além de tudo, o Aiken ontem me disse que existe uma grande possibilidade de que não consigamos entrar.

— Ele não tem como saber, Ninka, nenhum de nós tem! — ela suspirou e balançou a cabeça negativamente — Eu devia ter previsto isso desde que te vi pela primeira vez, eu sabia que essa história não ia dar certo.

Ayla começou a se equipar com suas facas e seu revólver, pronta pra sair dali.

— Do que diabos você tá falando? Nós temos um acordo! Vocês vieram conosco porque precisavam do que tínhamos! — eu a apontei e ela riu, sarcástica.

— Você acreditou mesmo nisso, né? — ela me olhou com pena — Ninka, cai na real. Quantas vezes eu e o meu irmão saqueamos lojas para que os seus recrutas pudessem comer? Nunca precisamos de vocês e você, mais do que ninguém, sabe disso! Não entramos nessa por interesse, mas porque o meu irmão quis ajudar. Afinal, se quiséssemos mesmo a comida de vocês lá no início, nós nem pediríamos!

Ayla se dirigiu até a porta na intenção de sair dali, mas, se ela achava que mexeria com a minha cabeça desse jeito e ficaria por isso, ela estava muito enganada.

— Então por que nos ajudaram? Por que Aiken atirou naquele morto? Por que não deixou simplesmente que eu morresse? Por que não deixaram que ficássemos por conta própria?

— Porque não somos monstros! — ela respondeu afiada e cortante — E era só pra ter sido aquilo, uma única ajuda.

— Vocês tiveram oportunidade de nos deixar na aldeia, por que voltaram?

— Porque o meu irmão se envolveu desde o primeiro instante em que te viu! — ela disse sincera e eu senti como se tivesse levado um soco na boca do estômago — Só te falei todas essas coisas, porque o Aiken é a única família que me resta e eu não gosto de vê-lo machucado. Agora vê se põe a cabeça no lugar e se concentra de verdade. Eu nunca vi pessoas seguirem alguém tão cegamente, como esses recrutas te seguem. E tudo isso porque eles confiam em você. Então vê se não os desaponta, porque eles estão apostando as vidas deles em você.

Para me deixar sentir o peso das suas palavras tão verdadeiras, Ayla saiu do quarto e me deixou sozinha com a minha mente barulhenta. E eu a detestei naquele momento, mesmo sabendo que ela havia razão sobre exatamente tudo.

Eu estava sendo egoísta ao balançar o Aiken daquela forma e foi tocando no meu braço com algumas veias pretas escondidas pela pulseira que eu soube disso.

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Ayla cuspindo as verdades e eu:

*Curiosidade: a Ayla foi inspirado na Natalie Dormer em Jogos Vorazes: A Esperança parte II*

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*Curiosidade: a Ayla foi inspirado na Natalie Dormer em Jogos Vorazes: A Esperança parte II*

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora