NINETEEN | OLGA

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Fui arrastada pelos aldeões, junto aos recrutas, até a tenda em que estávamos alojados. Fomos jogados lá dentro e, logo do lado de fora, foi formado um paredão de homens que não nos deixariam passar.

— Ninka, você está bem? — Charles veio até mim, me ajudando a sentar. Assenti, mesmo sendo mentira, eu ainda estava em choque tentando processar tudo o que acabara de acontecer.

Amon se aproximou de nós, apoiou seu braço em minha cintura e me ajudou a chegar perto da parede, onde escorei minhas costas. Agradeci com um sorriso fraco e ele acenou com a cabeça. A minha perna estava bastante machucada pela força que usei para quebrar o bastão nela e eu tinha leves arranhões por todo o corpo, causados pelas quedas consecutivas no chão de areia e pedra. Sem contar que eu estava banhada de sangue, tanto meu quanto do morto.

— Eu gostaria de poder ajudar, mas não tenho nada aqui — Margot lamentou pelo meu estado físico, sentando ao meu lado.

— Está tudo bem, Margot — eu murmurei, engolindo minha própria saliva e sentindo a garganta arranhar por estar extremamente seca. Meus lábios estavam rachados e com sangue seco.

— Calma, inferno! — Carter chegou na tenda sendo empurrado por outros aldeões. Ele estava na guarda da Chefe, por isso o trouxeram separadamente de nós. Quando seu olhar encontrou o meu rosto, sua expressão mudou. — Não te levaram para os curandeiros? — perguntou com um leve tom de preocupação e irritação.

— Acho que Wakanda não se importa com as feridas de uma escrava — debochei, dando de ombros.

— O que você esperava? Um tratamento especial por interferir num ritual maluco deles? — Karl perguntou irônico.

— Karl, agora não — Victoria o advertiu.

— Não! Não vou ficar calado! — ele retrucou com raiva — Ela desafiou a porra da chefe da tribo deles e todos nós pagaremos por isso! — apontou para mim, usando um tom acusatório — O que você pretendia com aquilo, Baker? Dar uma de heroína? Porque a única coisa que você conseguiu foi matar uma garota inocente! — gritou perto do meu rosto.

— Já chega, Karl! — Carter interferiu, o empurrando para longe.

— Carter, deixa. Ele está certo. — eu admiti, sentindo o peso da culpa dentro de mim.

— Julgar e apontar os erros dos outros não vai mudar a nossa situação — ele disse, dando um fim na discussão.

— Precisamos fazer alguma coisa. Ela não pode ficar com o sangue do morto tão perto das feridas. Não podemos correr esse risco, temos que limpá-la — Margot alertou preocupada.

— E como você pretende fazer isso? — Victoria quis saber, querendo ajudar.

Então, quase que como para responder sua pergunta, a vidente entrou na nossa tenda sendo escoltada por dois aldeões. Um deles trazia uma bacia com água quente e panos enquanto o outro carregava uma caixa.

Fi kuro nibi ki o lọ kuro — ela disse autoritária e eles lhe obedeceram, saindo.

"Deixem aqui e saiam."

— Olga! — eu a chamei incrédula e entusiasmada ao mesmo tempo. Mesmo não presenciando a cena, ela devia ter descoberto o ocorrido e por isso veio ao meu socorro.

— Olá, querida. Pelo visto, você se meteu numa confusão daquelas — brincou e então apontou para Margot, sabendo exatamente onde a loirinha estava — Que tal me ajudar a cuidar dela, hum?

— Eu? — Margot apontou para si mesma, assustada.

— Não é você quem trabalha com os curandeiros? — a menina assentiu, ainda não se dando conta de que Olga não enxergaria seu gesto — Pois então, oras! — a mulher apontou para a bacia com água.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde histórias criam vida. Descubra agora